quarta-feira, 30 de abril de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 

Festa dos Apóstolos São Filipe e São Tiago

ei Philippus: Domine, ostende nobis Patrem, et sufficit nobis — ”Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos a Pai, e isso nos basta” (Jo 14, 8)

Sumário. Se foi grande a graça que o Senhor deu a estes seus discípulos, sublimando-os ao ministério do apostolado, eles por sua vez corresponderam-lhe exatamente. Durante toda a sua vida trabalharam pela glória de Deus e salvação do próximo, e afinal selaram a sua pregação com o martírio. Regozijemo-nos com os santos apóstolos, demos graças a Deus em nome deles e vejamos se e como os temos imitado na correspondência aos favores divinos.

I. Considera como São Filipe foi um dos primeiros que Jesus Cristo chamou em seu seguimento. Diz São João Crisóstomo que, já antes de ser chamado ao apostolado, era venerado de todos pela santidade da sua vida. Meditava continuamente nas Escrituras Sagradas, e com sentimentos de devoção sincera esperava o Messias, que havia de ser o Redentor de Israel. Feito apóstolo, trabalhou com tão grande zelo na pregação das glórias do seu divino Mestre, que bem se pode dizer que neste ponto se avantajou aos outros. Com efeito, foi São Filipe o discípulo fiel, que, pressuroso por dar ao Senhor uma prova do seu afeto, o fez conhecer a Natanael, quando ele mesmo acabava apenas de o conhecer (1).

Para fazeres ideia da familiaridade com que o tratou o Redentor, basta que reflitas no seguinte: Querendo Jesus fazer o milagre da multiplicação dos pães, perguntou-lhe, como que de gracejo, onde se poderia conseguir bastante pão para tantas pessoas (2). Além disso, na despedida que o Salvador fez dos apóstolos na véspera da sua Paixão, quando tinha falado sobre o seu Pai divino, o santo tomou a liberdade de pedir ao Senhor que lhes mostrasse o Pai, por ser isso o desejo de todos. E Jesus respondeu: Qui videt me, videt et Patrem meum (3) — “Filipe, quem me vê a mim, vê também o Pai”.

Depois da vinda do Espírito Santo, São Filipe foi pregar o Evangelho na Frígia, converteu grande número de infiéis, e afinal, teve a glória de ser açoitado e crucificado, e apedrejado ainda sobre a cruz, por amor de seu divino Mestre. Regozija-te com o santo, mas procura também imitar-lhe os exemplos, fazendo o que puderes, para que Deus seja amado e servido por todos.

II. Igual ao zelo de São Filipe foi o do apóstolo São Tiago Menor, chamado na sagrada Escritura irmão do Senhor, quer dizer seu parente próximo. A exemplo de Jesus Cristo, que coepit facere et docere — “começou a fazer e a ensinar” (4), ele se preparou para o apostolado pela prática das mais belas virtudes. “A sua vida”, diz São Jerônimo, “não foi senão um jejum prolongado”: abstinha-se do uso de carne e vinho, andava sempre de pés descalços e vivia de um modo tão austero, que, na palavra de São João Crisóstomo, parecia-se mais com um esqueleto do que com um homem vivo.

A sua piedade estava a par da sua mortificação. Basta dizer que ele granjeou tão alta estima, que era cognominado o Justo, e os homens procuravam à porfia tocar-lhe a orla dos vestidos. Era tão contínua a sua oração no templo, que lhe calejaram os joelhos igual pele de camelo. Depois da ascensão do Senhor, São Tiago foi feito bispo de Jerusalém e incumbido da conversão tão difícil dos judeus, dos quais converteu tão grande número, que se fundou ali uma Cristandade muito florescente.

Movidos de despeito, os escribas e fariseus primeiro acometeram-no com pedras e depois precipitaram-no do alto do templo. O santo não morreu logo, mas, pisado pelo corpo todo, levantou as mãos ao céu, rogando pelos seus algozes e repetindo as palavras com que seu divino Parente orou sobre a cruz: Ignosce eis, Domine, quia nesciunt quid faciunt (5) — “Perdoa-lhes, Senhor, pois não sabem o que fazem”.

Regozija-te com o santo apóstolo e dá graças a Deus pelos favores a ele concedidos. Mas ao mesmo tempo examina a tua consciência e vê se em tua alma há virtudes iguais às do santo. Não seja porventura que em vez de edificar ao próximo, o escandalizes com teu modo de viver tíbio e relaxado!

“Ó Deus, que nos alegrais com a festa anual de vossos apóstolos Filipe e Tiago: concedei-me que, celebrando seus méritos, imite seus exemplos” (6). Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima.

Referências:
(1) Jo 1, 45.
(2) Jo 6, 5.
(3) Jo 14, 9.
(4) At 1, 1.
(5) Lect. II Noct.
(6) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 328-330)

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

Jesus no Santíssimo Sacramento, o melhor dos amigos

Missa Tridentina Catedral de Santo Amaro

Amicus fidelis medicamentum vitae et immortalitatis “O amigo fiel é um medicamento de vida e de imortalidade” (Eclo 6, 16)

Sumário. Bem suave é estar a gente na companhia de um amigo querido: e será possível que nós, neste vale de lágrimas, não achemos consolação perto do melhor de nossos amigos que nos pode encher de todos os bens? Eis que no Santíssimo Sacramento nos podemos entreter com Jesus à nossa vontade, abrir-Lhe o nosso coração, expor-Lhe as nossas necessidades, pedir-Lhe graças. Aproximemo-nos, pois, de Jesus com grande confiança e amor, unamo-nos a Ele, e peçamos-Lhe sobretudo a graça de O podermos amar sempre com todas as nossas forças..

I. Bem suave é estar a gente na companhia de seu amigo querido; e não nos será suave, neste vale de lágrimas, estarmos na companhia do melhor de nossos amigos, de um amigo que pode encher-nos de todos os bens, nos ama apaixonadamente e por isso se deixa ficar continuamente conosco? Eis que no Santíssimo Sacramento nos podemos entreter com Jesus à nossa vontade, abrir-Lhe o nosso coração, expor-Lhe as nossas necessidades, pedir-Lhe graças. Podemos, numa palavra, neste mistério tratar com o Rei do céu com toda confiança e singeleza.

Foi nimiamente feliz José, quando Deus, como atesta a Sagrada Escritura, se dignou descer por sua graça ao cárcere para consolá-Lo: Descendit cum illo in foveam, et in vinculis non dereliquit eum (1) — “A divina Sabedoria desceu com Ele ao fosso, e não o deixou nas cadeias”. Mas muito mais felizes somos nós por termos sempre conosco, nesta miserável terra, nosso Deus feito homem, que, com o coração cheio de amor e de misericórdia, nos honra com sua presença real a cada instante de nossa vida.

Que consolo é para um pobre encarcerado ter um amigo terno, que vai entreter-se com ele, o consola, lhe anima a esperança, procura para ele socorro e cuida em aliviá-lo no seu infortúnio? Eis aqui está o nosso bom amigo Jesus Cristo, que neste Sacramento nos anima com estas palavras: “Ecce ego vobiscum sum omnibus diebus” (2) — Convosco estou todos os dias. Eis-me aqui todo para vós, vindo do céu à vossa prisão de propósito para vos consolar, ajudar e por em liberdade. Acolhei-me, fiquemos sempre juntos, uni-vos a mim; que então não sentireis mais o peso de vossas misérias, e depois vireis comigo para o meu reino, onde vos farei plenamente felizes.

II. A toda alma que o visita no Santíssimo Sacramento, Jesus diz como outrora o Esposo dos Cânticos: Surge propera, amica mea, et veni (3) — “Levanta-te, apressa-te, minha amada, e vem”. Surge, levanta-te de tua miséria, pois aqui estou para te enriquecer com minhas graças. Propera, aproxima-te, não temas minha divina majestade, que se humilhou neste Sacramento para dissipar teu temor e te inspirar confiança. Amica mea, tu não és mais minha inimiga, mas minha amiga, já que me amas e eu te amo. Formosa mea, a minha graça te fez tão bela à minha vista. Et veni, vem pois, a mim, vem lançar-te nos meus braços, e pede-me com toda confiança o que de mim queres. — Vamos, pois, a Jesus com muita confiança e amor, unamo-nos a Ele e roguemos-Lhe graças.

Ó Verbo eterno, feito homem e sacramento por meu amor, quanta deve ser a minha alegria, quando penso que estou diante de Vós, que sois meu Deus, a Majestade suprema, a bondade infinita, diante de Vós, que tão ternamente amais a minha alma! Ó vós, almas que amais a Deus, onde quer que estejais, no céu ou na terra, amai-O também por mim. Ó Maria, minha Mãe, ajudai-me a amar ao meu Deus. E Vós, amantíssimo Senhor, fazei com que eu ponha em Vós todos os meus afetos. Tornai-Vos senhor de toda a minha vontade, possui-me todo inteiro. Consagro-Vos o meu espírito, para que se ocupe somente com a vossa bondade; consagro-Vos também o meu corpo, para que me auxilie a Vos agradar; consagro-Vos a minha alma, para que seja toda vossa.

Quisera, ó Amado de meu coração, que todos os homens conhecessem a ternura do amor que lhes tendes, para que todos vivessem unicamente para Vos honrar e agradar, como desejais e mereceis. Ah! Viva ao menos eu enlevado sempre no amor de vossa beleza infinita. Quero no futuro fazer tudo que puder para Vos ser agradável. Resolvido estou a fugir de tudo que souber Vos desagradar, custe o que custar, ainda que haja de perder a vida. Oh quão ditoso seria, se tudo perdesse para Vos ganhar, ó meu Deus, meu tesouro, meu amor, meu tudo!

Referências:

(1) Sb 10, 13
(2) Mt 28, 20
(3) Ct 2, 10

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 29-32)

Santo do Dia

christchild12b

1 de maio – São José Operário

Patrocínios – contra a dúvida, contra a hesitação, contadores, advogados, advogados, tesoureiros, marceneiros, carpinteiros, trabalhadores de cemitérios, crianças, engenheiros civis, confeiteiros, artesãos, moribundos, educadores, emigrantes, exilados, gestantes, famílias, pais, fabricantes de móveis, coveiros, morte feliz, morte santa, caçadores de casas, imigrantes, almas interiores, marceneiros, operários, advogados, pessoas casadas, órfãos, pessoas em dúvida, pessoas que lutam contra o comunismo, pioneiros, mulheres grávidas, justiça social, solicitadores, professores, viajantes, crianças não nascidas, carpinteiros, trabalhadores, trabalhadores, Igreja Católica, Oblatos de São José, para a proteção da Igreja, Igreja Universal, Américas, Áustria, Bélgica, Boêmia, Canadá, China, povo croata, Coreia, México, Nova França, Novo Mundo, Peru, Filipinas, Cidade do Vaticano, Vietnã, Forças Armadas Canadenses, Estados Pontifícios, 46 dioceses, 26 cidades, estados e regiões.

São José tem duas festas no calendário litúrgico. A primeira é 19 de março — José, o Esposo de Maria. A segunda é 1º de maio — José, o Trabalhador.

“São José é um homem de grande espírito. Ele é grande na fé, não porque diz suas próprias palavras, mas sobretudo porque escuta as palavras do Deus Vivo. Ele escuta em silêncio. E seu coração persevera incessantemente na prontidão para acolher a Verdade contida na palavra do Deus Vivo”,   disse certa vez o Papa João Paulo II.

Há muito pouco sobre a vida de José nas Escrituras, mas ainda assim sabemos que ele era o casto marido de Maria, o pai adotivo de Jesus, um carpinteiro e um homem sem posses. Sabemos também que ele descendia da linhagem real do Rei Davi.

Podemos ver por suas ações nas escrituras que José era um homem compassivo e obediente à vontade de Deus. Ele também amava Maria e Jesus e queria protegê-los e sustentá-los.

Como José não aparece na vida pública de Jesus, em sua morte ou ressurreição, muitos historiadores acreditam que José provavelmente morreu antes de Jesus iniciar seu ministério público.

José é o patrono de muitas coisas, incluindo a Igreja universal, os pais e os moribundos.

Memoriais adicionais

• 19 de março
• 1 de maio (José Operário)
• 3ª quarta-feira após a Páscoa (patrocínio de São José da Igreja Universal)
• 3 de janeiro em alguns calendários locais
• 29 de outubro (Armênio)
• 20 de julho (Copta)

Santo do dia

 

 A eliminação de toda inutilidade e a oração frequente são os frutos que devemos colher da vida de São Tiago; por mais pobre que alguém seja, sempre encontra algo para cortar quando não tem nada a ver com essas coisas terrenas; e por mais avançado que se seja na oração, sempre há necessidades que nos obrigam a rezar. Desejemos, como São Filipe, ver Deus: mas para isso precisamos purificar os nossos corações, porque somente aqueles que têm um coração puro serão suficientemente felizes para vê-lo.


1 de maio: São Filipe e São Tiago Menor, apóstolos (século I)


São Filipe era de Betsaida, na Galileia, terra natal de São Pedro e Santo André. O Salvador, desde os primeiros dias de sua vida pública, o encontrou e lhe disse: "Segue-me!"


Depois de Pentecostes, ele foi pregar nas vastas regiões da Alta Ásia; Ele evangelizou por muito tempo os citas, depois os gálatas, os frígios, e foi na cidade de Hierápolis, na Frígia, que ele confirmou sua pregação pelo testemunho de seu sangue.


Um dia, quando o povo oferecia incenso a uma grande serpente que eles consideravam uma de suas principais divindades, Filipe, tomado de compaixão, jogou-se ao chão e implorou a Deus que livrasse aqueles infelizes da tirania da serpente infernal. A besta horrível expira imediatamente. O povo estava disposto a aceitar a doutrina de um homem que realizava tais maravilhas; Mas os magistrados e os sumos sacerdotes prenderam o apóstolo, espancaram-no com varas, pregaram-no numa cruz e apedrejaram-no. Quando ele morreu, a terra tremeu e vários edifícios desabaram.


São Tiago, chamado Menor para distingui-lo de Tiago Maior, irmão de São João, nasceu em Caná, na Galileia; Ele era da tribo de Judá e primo de Nosso Senhor segundo a carne. A tradição afirma que ele se assemelhava ao Salvador, e que os fiéis gostavam de ver nele uma imagem viva de seu Mestre ascendido ao Céu. Tiago tinha um irmão, um apóstolo como ele, chamado Judas, e seus outros dois irmãos, José e Simão, eram discípulos de Jesus.


Depois de Pentecostes, quando os apóstolos dividiram o mundo entre si, Tiago se estabeleceu em Jerusalém para a conversão especial dos judeus. Sua autoridade era muito grande na Igreja primitiva e, no Concílio de Jerusalém, ele foi o primeiro a falar depois de São Pedro. Temos uma linda Epístola dele.


As numerosas e brilhantes conversões provocadas por seu ministério despertaram inimigos para ele. Os líderes judeus o levaram até o terraço do templo e lhe disseram: "Homem justo, temos confiança em você; fale e nos diga a verdade sobre Jesus!" O santo Apóstolo exclamou: "Por que me perguntas sobre Cristo? Ele está sentado no Céu à direita da Divina Majestade e um dia retornará sobre as nuvens do Céu." A multidão aprovou estas palavras; mas os chefes, invejosos, jogaram o velho de cima a baixo. Quebrado em sua queda, o mártir ainda encontra forças para se ajoelhar e orar a Deus por seus algozes, repetindo as palavras do Salvador: "Senhor, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem". Um lavadeiro o matou com uma alavanca na cabeça.


Basílica dos Santos Apóstolos, que abriga as relíquias dos Santos Filipe e Tiago, em Roma (Itália)


terça-feira, 29 de abril de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 

A pena que terá no inferno quem se condenar por ter perdido a vocação

seca

Pro eo quod abiecisti sermonem Domini, abiecit te Dominus, ne sis rex – “Como tu rejeitaste a palavra do Senhor, o Senhor te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (1 Rs 15, 23)

Sumário. O remorso de ter perdido por própria culpa qualquer grande bem, ou de ter sido causa de algum grande mal, é uma pena tão grande, que ainda nesta vida causa tormentos indizíveis. Qual não será, pois, no inferno o tormento de um religioso que se vir condenado àquele cárcere, por ter perdido a vocação, e sem esperança de poder remediar a sua eterna ruína? Desgraçado de mim! Exclamará desesperado; podia ser um príncipe no paraíso e tornei-me um dos réprobos mais infelizes!.

I. O remorso de ter perdido por própria culpa algum grande bem, o de ter chamado voluntariamente sobre si qualquer grande mal, é um apena tão grande, que ainda nesta vida causa um tormento insofrível. Imagina, pois, que tormento terá no inferno um jovem, chamado por Deus, por favor singular, ao estado religioso, quando conhecer que, se obedecera a Deus, teria adquirido no paraíso um lugar distinto, e em vez disso se vir encerrado naquele cárcere de tormentos, sem esperança de remédio à sua ruína eterna!

É este o verme que, sempre vivo, sempre lhe roerá o coração com um contínuo remorso: Vermis eorum non moritur (1) — “O seu verme não morre”. Ele dirá então: Ó insensato que fui! Podia fazer-me um grande santo; se tivera obedecido, agora estaria salvo; e eis que em vez disso, por minha própria culpa, por um nada, estou condenado, e condenado sem remédio!

Conhecerá então o miserável para sua maior pena, e verá no dia do juízo universal colocados à direita de Jesus e coroados como santos, conhecerá, digo, e verá tantos companheiros seus, que obedeceram à vocação divina, e deixando o mundo, se recolheram à casa de Deus, a que ele também tinha sido chamado. Ver-se-á então apartado do consórcio dos bem-aventurados, e relegado no meio da chusma inúmera dos miseráveis réprobos, porque foi desobediente à voz de Deus. É certo que o pensamento de sua vocação lhe será no inferno como que outro novo inferno.

II. Já se sabe, como atrás se considerou, que à infelicíssima troca do céu com o inferno se expõe facilmente aquele que, para seguir o seu capricho, volta as costas ao chamamento divino. Por isso, meu irmão, já que foste chamado a fazer-te santo na casa de Deus, considera a que grande perigo te havias de expor, se voluntariamente perdesses a tua vocação. Esta vocação, que Deus te deu em sua infinita bondade, a fim de te apartar do meio dos fiéis comuns e de te dar um lugar entre os príncipes do paraíso, tornar-se-ia por tua culpa, se lhe fosses infiel, como que um inferno à parte para ti. Escolhe portanto, porque Deus Jesus Cristo põe na tua mão a escolha; escolhe: ou ser um grande rei no paraíso, ou então um condenado mais desesperado que os outros, no inferno.

Não, meu Deus, não permitais que eu Vos desobedeça e Vos seja infiel. Vejo a vossa bondade para comigo, e Vos agradeço, porque, em vez de me expulsardes da vossa face e de me desterrardes para o inferno, por mim tantas vezes merecido, me chamais a fazer-me santo e preparais para mim um lugar excelente no paraíso. Vejo que mereceria uma dupla pena se não correspondesse a esta graça, que não é concedida a todos. Senhor, quero obedecer-Vos; eis-me aqui, sou vosso, e vosso quero ser sempre.

De boa vontade aceito todas as penas e incômodos da vida religiosa a que me convidais. O que vem a ser estas penas em comparação com as penas eternas que tenho merecido? Eu já estava perdido pelos meus pecados; agora me dou todo a Vós. Disponde de mim e de minha vida como Vos aprouver.

Aceitai, ó Senhor, um condenado ao inferno, como eu era, a servir-Vos e amar-Vos nesta vida e na outra. Quero amar-Vos tanto quanto tenho merecido estar no inferno a odiar-Vos, ó Deus infinitamente amável. O Jesus meu, Vós despedaçastes as cadeias com que o mundo me tinha preso a si; Vós me livrastes da escravidão de meus inimigos. Meu amor, quero amar-Vos muito, e pelo amor que Vos tenho, quero servir-Vos sempre, e obedecer-Vos. — Minha advogada, Maria, agradeço-vos por me terdes impetrado esta misericórdia. Ajudai-me e não permitais que eu torne a ser ingrato a meu Deus, que tanto me tem amado. Obtende de Deus que eu morra sem que haja de ser infiel a tão grande graça.

Referências:

(1) Mc 9, 43

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 24-27)

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Santo do dia

CABEÇALHO - Santa Catarina de Siena - grande


29 de abril – Santa Catarina de Sena (1347-1380) 

Doutora da Igreja, Virgem, Estigmatizada, Mística, Filósofa Escolástica e Teóloga, Escritora, Reformadora, Conselheira, Mediadora, Terciária Dominicana. Santa Catarina nasceu Caterina Benincasa em 25 de março de 1347 em Siena, Toscana, Itália e morreu em 29 de abril de 1380 em Roma, Itália, de uma doença misteriosa e dolorosa que se manifestou repentinamente e nunca foi diagnosticada. Seu corpo foi sepultado na igreja dominicana de Santa Maria sopra Minerva, em Roma. O primeiro monumento funerário foi erguido em 1380 pelo Beato Raimundo de Cápua, suas relíquias foram reencontradas em 1430 e novamente em 1466, no Altar-Mor da Igreja. Ela foi canonizada em julho de 1461 pelo Papa Pio II.

Patrocínios – contra doenças corporais, contra o fogo, contra abortos espontâneos, contra a tentação sexual, contra doenças, bombeiros, enfermeiros, serviços de enfermagem, pessoas ridicularizadas por sua piedade, padroeiro conjunto da Europa com São Bento de Núrsia, Santa Gertrudes da Suécia, Santos Cirilo e Metódio e Santa Edith Stein, 3ª Diocese de Siena, Padroeiro conjunto da Itália, com São Francisco de Assis, de Varazze, Itália.

Caterina Benincasa nasceu em Siena em 25 de março de 1347, a última dos 25 filhos do rico tintureiro Jacopo Benincasa e Lapa di Puccio dé Piacenti.

catherinesiena-domínio-público
Santa Catarina de Sena2

Aos seis anos de idade, Catarina recebeu sua primeira visão, perto da Igreja de São Domingos. A partir desse momento, a criança começou a seguir um caminho de devoção, fazendo o juramento de castidade apenas um ano depois. Após a resistência inicial da família, seu pai acabou cedendo e deixou Catarina seguir suas inclinações. Em 1363, com apenas 15 anos, Catarina vestiu o manto negro das Irmãs Terciárias Dominicanas. Em 1367, começou a trabalhar incansavelmente para ajudar os doentes no hospital de Santa Maria della Scala. À medida que sua fama se espalhava pela cristandade, durante uma visita à cidade de Pisa, Catarina recebeu os estigmas de uma cruz de madeira pendurada na Igreja de Santa Cristina. Suas muitas viagens ao exterior para atuar como mediadora do Papado incluíram uma viagem a Avignon, onde ela instou o Papa Gregório a trazer a Corte Papal de volta a Roma, de seu exílio na França.

Ao retornar a Siena, Catarina fundou o Mosteiro de Santa Maria degli Angeli no castelo de Belcaro. Com a morte do Papa Gregório XI em 1378, seu sucessor, Urbano VI, teve que enfrentar forte oposição de vários cardeais que haviam eleito um segundo Papa com o nome de Clemente VII, provocando assim o que mais tarde viria a ser chamado de Grande Cisma do Ocidente. O Papa Urbano VI convocou Catarina a atuar como mediadora junto a príncipes, políticos e membros da Igreja, com o objetivo de legitimar sua eleição.catherine_1768994b.jpg

Santa Catarina de Sena, Santo Alberto Magno


Em 1380, com apenas 33 anos, Catarina faleceu e foi sepultada na igreja romana de Santa Maria Sopra Minerva. Em 1461, o Papa Pio II a proclamou santa e, em 1866, Pio IX a incluiu como uma das padroeiras de Roma. Em 1939, juntamente com São Francisco de Assis, Santa Catarina de Sena foi proclamada padroeira da Itália pelo Papa Pio XII.

Em 1970, Paulo VI conferiu o título de Doutora da Igreja Universal a Catarina e, em 1999, ela foi proclamada co-padroeira da Europa pelo Papa João Paulo II.

Catarina de Siena é uma das figuras mais marcantes do catolicismo medieval, pela forte influência que teve na história do papado. Ela está por trás do retorno do Papa de Avignon a Roma e, posteriormente, realizou muitas missões confiadas pelo papa, algo bastante raro para uma simples freira na Idade Média.

Seus escritos — e especialmente O Diálogo, sua obra principal, que inclui um conjunto de tratados que ela teria ditado durante os êxtases — marcam o pensamento teológico. Ela é uma das escritoras mais influentes do catolicismo, a ponto de ser uma das quatro únicas mulheres a ser declarada doutora da Igreja. Esse reconhecimento por parte da Igreja consagra a importância de seus escritos.

A casa de Santa Catarina, hoje conhecida como Santuário de Santa Catarina, é um importante local de peregrinação em Siena. A arquitetura deste santuário dedicado a Santa Catarina não é totalmente original, mas a atmosfera, sem dúvida, é. Assim como muitos dos  objetos que pertenceram à santa . Os cômodos foram bastante alterados desde 1461, quando a casa foi comprada pela cidade de Siena e transformada em museu. A ideia não era a conservação arquitetônica fiel, mas sim a preservação de sua honra e memória, daí a  eclética coleção de arte que celebra sua vida e obra.    É um lugar sensível, repleto de paixão religiosa e referências históricas, e reflete bem a vida extraordinária desta mulher.

oratório_câmera_1_Lensini-e1456502419772
Santa Catarina - criança

santuário de santa catarinaO  Oratório do Quarto : abriga o pequeno cubículo onde Catarina descansava e rezava, além da lápide onde a santa repousava a cabeça. Este espaço está ligado à primeira fase da vida de Catarina, quando ela se retirava do mundo em contemplação. Imagens abaixo.

Igreja do Crucifixo : A igreja abriga o  crucifixo de madeira  do qual Santa Catarina recebeu os  estigmas , um evento ocorrido em Pisa, para onde Catarina fora em 1375 para persuadir os Lordes da cidade a rejeitarem a liga antipapal. Os estigmas permaneceram visíveis apenas para a Santa pelo resto de sua vida, aparecendo milagrosamente no momento de sua morte.igreja_crocifisso_2_Lensinisantuário de santa catarina

Santo do dia

 


SÃO PEDRO DE VERONA - MÁRTIR


Pedro nasceu em Verona (Itália) no ano de 1205. Seus pais eram hereges maniqueus, adeptos da doutrina religiosa herética do persa Mani, Manes ou Maniqueu, caracterizada pela concepção dualista do mundo, em que espírito e matéria representam, respectivamente, o bem e o mal.


Entretanto, o único colégio que havia no local era católico e lá o menino não só aprendeu as ciências da vida como os caminhos da alma. Pedro se converteu e se separou da família, indo para Bolonha para terminar os estudos. Ali acabava de ser fundada a Ordem dos Dominicanos, onde ele logo foi aceito, recebendo a missão de evangelizar.


Foi o que fez, viajando por toda a Itália, espalhando suas palavras fortes e um discurso de fé que convertiam as massas. Todas as suas pregações eram acompanhadas de graças, que impressionavam toda comunidade por onde passava. E isso logo despertou a ira dos hereges.


Primeiro inventaram uma calúnia contra ele. Achando que aquilo era uma prova de Deus, Pedro não tentou provar inocência. Aguardou que Jesus achasse a hora certa de revelar a verdade. Foi afastado da pregação por um bom tempo, até que a mentira se desfez sozinha, e ele foi chamado de volta e aclamado pela comunidade.


Voltando às viagens evangelizadoras, seus inimigos o afrontaram de novo tentando provar que suas graças não passavam de um embuste. Um homem fingiu estar doente, e outro foi buscar Pedro.


Este, percebendo logo o que se passava, rezou e pediu a Deus que, se o homem estivesse mesmo doente, ficasse curado. Mas, se a doença fosse falsa, então que ficasse doente de verdade. O maniqueu foi tomado por uma febre violentíssima, que só passou quando a armadilha foi confessada publicamente.


Perdoado por Pedro, o homem se converteu na mesma hora. Pedro anunciou, ainda, não só o dia de sua morte, como as circunstâncias em que ela ocorreria. E, mesmo tendo esse conhecimento, não deixou de fazer a viagem que seria fatal.


No dia 29 de abril de 1252, indo da cidade de Como para Milão, foi morto com uma machadada por um maniqueu que o emboscou. O nome do assassino era Carin, que, mais tarde, confessou o crime e, cheio de remorso, se internou como penitente no convento dominicano de Forli.


Imediatamente, o seu culto se difundiu em meio a comoção e espanto dos fiéis, que passaram a visitar o seu túmulo, onde as graças aconteciam em profusão. Apenas onze meses depois, o papa Inocêncio IV canonizou-o, fixando a festa de são Pedro de Verona para o dia de sua morte.


MISSAL QUOTIDIANO COMPLETO / EM PORTUGUÊS com o próprio do Brasil edição B - editado e impresso nas oficinas tipográficas do Mosteiro de São Bento / Bahia, 23 de dezembro de 1957. Pág 470.


Santo do dia

Como São José Bento Cottolengo, deposite toda a sua confiança em Deus e não calcule sempre suas caridades com base em raciocínios de prudência egoísta.

 

29 de abril: São José-Bento Cottolengo, fundador da Piccola Casa de Turim ( 1786-1842)


Joseph Cottolengo é o São Vicente de Paulo italiano. Ele nasceu no Piemonte em uma família pobre de Turim. O mais velho de 12 irmãos, esse menino animado, que muitas vezes tem dificuldade em controlar o temperamento, é, no entanto, muito piedoso e cheio de coração. Ele divide seu magro almoço com os mais pobres e os mendigos já estão adquirindo o hábito de correr para onde ele passa.


Aos dezoito anos, Joseph-Benoît ingressou no Seminário, onde sua eloquência natural lhe rendeu o apelido de Cícero; No entanto, ele tenta humildemente esconder seu conhecimento. No topo de seus cadernos ele escreveu: "Quero ser um santo".


Depois de receber seu doutorado em teologia em Turim, ele lidava apenas com os pobres, dava-lhes tudo o que possuía e se tornou seu confessor. Altruísta, ele se dedica inteiramente a elas. Já no subúrbio de Val-d'Occo, ele abriu a Piccola Casa. Esta "Pequena Casa da Providência", como ele a chamava, foi a origem de uma cidade inteira com mais de 7.000 pessoas pobres, doentes, órfãs, aleijadas, simplórias e penitentes.


Para este trabalho extraordinário, São José Bento Cottolengo dedicou-se a ensinar seus assistentes em todas as oportunidades. Ele lhes disse: "Aqueles que vocês mais devem estimar são os mais abandonados, os mais repulsivos, os mais problemáticos. São todos pérolas preciosas. Se vocês entendessem o caráter que os pobres representam para vocês, vocês os serviriam de joelhos." Ele próprio era um modelo de caridade; seu zelo não tinha limites.


Para esse trabalho cada vez mais exigente, o Santo fundou 14 sociedades que hoje estão muito difundidas, principalmente na Itália. Entre essas fundações, há algumas que são puramente contemplativas. Sua vida de oração deve atrair sobre os outros a bênção do céu e complementar a obra corporal de misericórdia com uma obra espiritual de misericórdia, rezando por aqueles que estão particularmente necessitados de ajuda, os moribundos e os falecidos.


O Santo confiava plenamente na infinita bondade de Deus e, como disse um de seus amigos, ele tinha mais confiança em Deus do que em toda a cidade de Turim. Quando perguntado sobre a fonte de sua renda, ele respondia: "A providência me envia tudo". Contudo, a confiança em Deus não fez com que o santo recuasse. Ele dormia por algumas horas, geralmente em uma cadeira ou banco, e depois retornava ao seu trabalho diário: oração e trabalho.


Trabalho, vigílias e jejuns apressaram o fim do santo fundador. O que importa para ele a morte? Ele confiou seu trabalho à Providência. Para tranquilizar seus ajudantes alarmados: "Fiquem calmos", disse ele, "quando eu estiver no céu, onde tudo pode ser feito, eu os ajudarei ainda mais do que agora. Eu me pendurarei no manto da Mãe de Deus e manterei meus olhos fixos em vocês."

Santuário de São José Bento Cottolengo, pequena Casa da Divina Providência em Turim (Itália)


Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

Vaidade do mundo

Antonio de Pereda, A Alegoria da Vida ou A Alegoria da Vaidade do Mundo, 1637

Quid prodest homini, si mundum universum lucretur, animae vero suae detrimentum patiatur? – “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma” (Mt 16, 26)

Sumário. Os nossos parentes e amigos que estão na eternidade, lá da outra vida nos recomendam que não diligenciemos alcançar neste mundo senão os bens que nem mesmo a morte nos faz perder. Com efeito, de que aproveita ganharmos o mundo inteiro, se depois perdermos a alma? Perdida a alma, perdemos tudo! Penetrados desta grande máxima, quantos jovens se resolveram a encerrar-se nos claustros, quantos anacoretas a viver nos desertos, quantos mártires a dar a vida por Jesus Cristo!.

I. Um filósofo antigo, de nome Aristipo, fez em certa ocasião uma viagem por mar. O navio naufragou e o filósofo perdeu todos os seus bens, mas arribou felizmente à praia. Como era muito conhecido pelo seu saber, os habitantes do país o indenizaram de tudo que tinha perdido. Pelo que escreveu depois aos amigos da pátria que, avisados pelo seu exemplo, se premunissem somente daqueles bens que nem com o naufrágio se perdem. É isto exatamente o que lá do outro mundo nos recomendam os parentes e amigos que estão na eternidade: isto é, que não diligenciemos alcançar neste mundo senão os bens que nem a morte nos faz perder.

De que nos serve, diz Jesus Cristo, ganhar o mundo inteiro, se na morte, perdida a alma, perdemos tudo? Quid prodest homini, si universum mundum lucretur? Penetrados desta grande máxima, quantos jovens resolveram encerrar-se nos claustros, quantos anacoretas foram viver no deserto, quantos mártires deram a vida por Jesus Cristo! — Com esta máxima Santo Inácio de Loyola ganhou muitas almas para Deus; especialmente a bela alma de São Francisco Xavier, que estando em Paris se entregava a projetos mundanos. “Francisco”, disse-lhe um dia o Santo, “pensa que o mundo é traidor, que promete e não cumpre. Ainda quando cumprisse o que te promete, nunca poderia contentar-te o coração. Suponhamos que te contente: quanto tempo durará a tua felicidade? Mais que a vida? E afinal, o que poderás levar para a eternidade? Há porventura algum rico que tenha levado consigo uma moeda sequer, ou um criado para a sua comodidade? Há porventura algum rei que tenha levado consigo um fio de púrpura como distintivo?”

Tocado destas reflexões, Francisco renunciou ao mundo, seguiu Santo Inácio; e se fez santo. Vanitas vanitatum — “Vaidade das vaidades!” — era assim que Salomão chamava a todos os bens do mundo, depois de não se ter recusado prazer algum dos que o mundo pode oferecer: Vanitas vanitatum, et omnia vanitas (1) — “Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade!”

II. Procuremos viver de maneira que se nos não possa dizer na morte o que foi dito àquele egoísta do Evangelho: Stulte, hac nocte animam tuam repetent a te, quae autem parasti, cuius erunt? (2) — “Insensato, vais morrer, e que será feito dos bens que amontoaste?” Procuremos ser ricos não em bens mundanos, mas em Deus, em virtudes e em merecimentos, bens estes que nos acompanharão para sempre no céu. Numa palavra, cuidemos adquirir o grande tesouro do amor divino; pois que, no dizer de Santo Agostinho, embora estejamos de posse de todas as riquezas, seremos os mais pobres do mundo, senão possuirmos a Deus; o pobre, porém, que possui a Deus pelo amor, possui tudo.

Ah, meu Jesus, meu Redentor! Graças Vos dou por me terdes feito conhecer o meu desvairamento e o mal que fiz, voltando as costas a quem por mim sacrificou o sangue e a vida. Em verdade que não merecíeis da minha parte ser tratado como Vos tratei. Se a morte me surpreendesse nesta hora, que haveria em mim senão pecados e remorsos de consciência, que me fariam morrer em grande inquietação? Meu Salvador, confesso que fiz mal abandonando-Vos, o supremo Bem, pelas miseráveis satisfações deste mundo. Do fundo do coração me arrependo. Ah! Por essa dor que Vos fez morrer na cruz, dai-me tão grande dor de meus pecados que me faça chorar durante o resto da minha vida os agravos que contra Vós cometi. Meu Jesus, meu Jesus, perdoai-me; prometo nunca mais desagradar-Vos e amar-Vos sempre.

Senhor, não sou mais digno de vosso amor, porque o desprezei tanto no passado; mas Vós dissestes que amais a quem Vos ama: Ego diligentes me diligo (3). Amo-Vos; amai-me, pois, também. Não quero mais estar na vossa desgraça. Renuncio a todas as grandezas e gozos do mundo, contanto que me ameis. Meu Deus, atendei-me por amor de Jesus Cristo. Ele Vos pede que não me repilais do vosso coração. A Vós me consagro sem reserva; sacrifico-Vos a minha vida, as minhas satisfações, os meus sentidos, a minha alma, o meu corpo, a minha vontade e liberdade. Aceitai-me; e não me desprezeis, como o merecia, por ter tantas vezes desprezado a vossa amizade.

— Virgem Santíssima e minha Mãe, Maria, pedi a Jesus por mim; em vossa intercessão deposito toda a minha confiança.

Referências:

(1) Ecle 1, 2
(2) Lc 12, 20
(3) Pv 8, 17

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 24-27)

Santo do dia

 

San_Luigi_Maria-Grignion-da_Montfort

28 de abril – São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716) 

Sacerdote, Fundador, Confessor, Escritor, Poeta, Apóstolo da Sagrada Eucaristia e da Adoração, Apóstolo da Bem-Aventurada Virgem Maria, Apóstolo do Santo Rosário, Pregador, Missionário Apostólico. São Luís nasceu em 31 de janeiro de 1673 em Montfort-La-Cane, Bretanha, França – faleceu em 28 de abril de 1716 em Saint-Laurent-sur-Sovre, França, de causas naturais. Foi canonizado em 20 de julho de 1947 pelo Papa Pio XII. Patrocínios: pregadores, Irmãos de São Gabriel, Companhia de Maria, Filhas da Divina Sabedoria.

São Luís era conhecido em sua época como pregador e foi nomeado missionário apostólico pelo Papa Clemente XI. Além de pregar, ele encontrou tempo para escrever vários livros que se tornaram títulos católicos clássicos e influenciaram vários papas. Ele é particularmente conhecido por sua grande devoção à Santíssima Virgem Maria e pela prática de rezar o Rosário. Ele é considerado um dos escritores precursores no campo da Mariologia. Suas obras mais notáveis ​​sobre devoções marianas estão contidas em O Segredo de Maria e a Verdadeira Devoção a Maria . Uma "estátua dos fundadores" criada por Giacomo Parisini está localizada em um nicho superior da nave sul da Basílica de São Pedro.

Hoje, a Igreja universal celebra o dia da festa de Luís Maria de Monfort, um santo do século XVII que é reverenciado por sua intensa devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria.São Luís Maria é talvez mais conhecido por sua oração de entrega a Nossa Senhora, “Totus Tuus ego sum”, que significa “Sou todo seu”.    O Papa João Paulo II adotou a frase “Totus Tuus” como seu lema episcopal. Nascido em Montfort, Bretanha, em 31 de janeiro de 1673, São Luís Maria possuía uma forte devoção ao Santíssimo Sacramento desde criança e também era intimamente devoto da Santíssima Virgem, especialmente através do Rosário.    Ele adotou o nome de Maria em sua crisma. Foi ordenado sacerdote em junho de 1700 e designado para Nantes. Seu grande desejo era ir para as missões estrangeiras, de preferência para a nova colônia francesa do Canadá, mas seu diretor espiritual o desaconselhou. Suas cartas desse período mostram que ele se sentia frustrado pela falta de oportunidade de pregar como sentia que era chamado a fazer. Em novembro de 1700, ingressou na Ordem Terceira dos Dominicanos e pediu permissão não apenas para pregar o terço, mas também para fundar confrarias de rosários. Começou a considerar a formação de uma pequena companhia de padres para pregar missões e retiros sob o estandarte e a proteção da Santíssima Virgem. Isso acabou levando à formação da Companhia de Maria.    Por volta dessa época, conheceu a Beata Maria Luísa Trichet  (1684-1759), quando foi nomeada capelã do hospital de Poitiers. Esse encontro marcou o início dos trinta e quatro anos de serviço da Beata Maria Luísa aos pobres.

Ele partiu em peregrinação a Roma para perguntar ao Papa Clemente XI o que deveria fazer. O Papa reconheceu sua verdadeira vocação e, dizendo-lhe que havia muito espaço para exercê-la na França, enviou-o de volta com o título de Missionário Apostólico. Ao retornar de sua longa peregrinação a Roma, Montfort fez um retiro no Monte Saint-Michel "para rezar a este arcanjo e obter dele a graça de ganhar almas para Deus, confirmar aqueles que já estavam na graça de Deus e combater Satanás e o pecado" . Essas ocasiões lhe deram tempo para pensar, contemplar e escrever.

Montfortside

Por vários anos, pregou em missões da Bretanha a Nantes. À medida que sua reputação como missionário crescia, tornou-se conhecido como "o bom Padre de Montfort".

Ele deixou Nantes e os anos seguintes foram extraordinariamente ocupados para ele. Estava constantemente ocupado pregando missões, sempre caminhando entre uma e outra. No entanto, também encontrou tempo para escrever – sua Verdadeira Devoção a Maria, O Segredo de Maria e o Segredo do Rosário, regras para a Companhia de Maria e as Filhas da Sabedoria e muitos Hinos. Suas missões causaram grande impacto, especialmente na Vendéia. O estilo acalorado de sua pregação foi considerado por alguns como um tanto estranho, e ele foi envenenado uma vez. Embora não tenha sido fatal, causou a deterioração de sua saúde. Mesmo assim, ele continuou, sem se deixar abater. Continuou pregando e fundou escolas gratuitas para meninos e meninas pobres.

Filhas da Sabedoria
O bispo de La Rochelle ficou impressionado com Montfort por algum tempo e o convidou para abrir uma escola lá. Montfort contou com a ajuda de sua seguidora Marie Louise Trichet, que então dirigia o Hospital Geral em Poitiers. Em 1715, Marie Louise e Catherine Brunet deixaram Poitiers para La Rochelle para abrir a escola lá e em pouco tempo ela tinha 400 alunos. Em 22 de agosto de 1715, Trichet e Brunet, juntamente com Marie Valleau e Marie Régnier de La Rochelle, receberam a aprovação do bispo de Champflour de La Rochelle para fazer sua profissão religiosa sob a direção de Montfort. Na cerimônia, Montfort disse a elas:  "Chamem-se Filhas da Sabedoria para o ensino das crianças e o cuidado dos pobres."    As Filhas da Sabedoria se tornaram uma Ordem internacional e a colocação da estátua dos fundadores de Montfort na Basílica de São Pedro foi baseada nessa Ordem.


Morte e sepultamento
Desgastado pelo trabalho duro e pela doença, ele finalmente veio em abril de 1716 para Saint-Laurent-sur-Sèvre para começar a missão que seria sua última. Durante ela, ele adoeceu e morreu em 28 de abril daquele ano. Ele tinha 43 anos e era padre há apenas 16 anos. Seu último sermão foi sobre a ternura de Jesus e a Sabedoria Encarnada do Pai. Milhares se reuniram para seu sepultamento na igreja paroquial e muito rapidamente houve histórias de milagres realizados em seu túmulo. Exatamente 43 anos depois, em 28 de abril de 1759, Marie Louise Trichet também morreu em Saint-Laurent-sur-Sèvre e foi enterrada ao lado de Montfort. Em 19 de setembro de 1996, São Papa João Paulo II (que beatificou Trichet) veio ao mesmo local para meditar e rezar em seus túmulos adjacentes.

Detalhe da estátua de cera de São Luís Maria Grignion de Montfort

Espiritualidade
“Deus Só”:   era o lema de São Luís, repetido mais de 150 vezes em seus escritos.
A Encarnação:  “A Encarnação do Verbo é para ele a realidade central absoluta.”
Amor à Bem-Aventurada Virgem Maria
Fidelidade à Cruz
Zelo Missionário


Consagração Total a Maria
Na abordagem de Montfort à consagração mariana, Jesus e Maria são inseparáveis. Ele vê a “consagração a Jesus em Maria” como um caminho especial para a conformação, a união e a consagração a Cristo, visto que:

“…de todas as criaturas a que mais se conformou a Jesus Cristo, segue-se que entre todas as devoções a que mais consagra e conforma uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua Mãe Santíssima, e que quanto mais uma alma se consagrar a ela, tanto mais se consagrará a Jesus Cristo.”

“Deus Pai fez uma reunião de todas as águas e chamou-a de mar. Ele fez uma reunião de todas as Suas graças e chamou-a de Maria.”

Louis de Montfort influenciou vários papas.
No século XIX, o Papa Pio IX considerou-a a melhor e mais aceitável forma de devoção mariana, enquanto o Papa Leão XIII concedeu indulgências pela prática do método de consagração mariana de Montfort. Leão beatificou Montfort em 1888, selecionando para a beatificação de Montfort o dia de seu próprio Jubileu de Ouro como padre.
No século XX, o Papa Pio X reconheceu a influência dos escritos de Montfort na composição de sua encíclica Ad Diem Illum.
O Papa Pio XI declarou que praticava os métodos devocionais de Montfort desde a juventude. O Papa Pio XII declarou Montfort um santo e afirmou que Montfort é o guia "que te leva a Maria e de Maria a Jesus".
O Papa João Paulo II certa vez lembrou como, quando jovem seminarista, ele “leu e releu muitas vezes e com grande proveito espiritual” uma obra de Montfort e que:  “Então compreendi que não podia excluir a Mãe do Senhor da minha vida sem negligenciar a vontade de Deus-Trindade”.   De acordo com sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae , o lema pessoal do pontífice era “Totus Tuus”. Os pensamentos, escritos e exemplo de São Luís de Montfort também foram destacados pela encíclica Redemptoris Mater    de São João Paulo II como um testemunho distintivo da espiritualidade mariana na tradição católica romana.

Embora o santo seja mais conhecido por seus escritos espirituais, ele também era poeta e, durante suas missões, conseguiu compor mais de 20.000 versos de hinos. Os hinos e cânticos de Montfort eram, em sua maioria, destinados a serem cantados em igrejas de aldeias e nas casas dos pobres. Alguns autores argumentam que a leitura dos hinos de São Luís é essencial para compreendê-lo como homem e para apreciar sua abordagem à espiritualidade. Diz-se também que ele esculpiu pelo menos três estátuas representando a Madona com o Menino.

São Luís Maria Grignion de Montfort, rogai por nós!

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 A sentença da alma culpada no juízo particular  Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolô et angelis eius – “A...