As almas mais santas podem ser vítimas de calúnia. Deus não promete libertá-los, como Santa Cunegundes, por um milagre; mas que eles suportem com paciência, e sua recompensa será boa no céu.
Santa Cunegundes foi criada por seus nobres pais nos sentimentos de terna piedade. Casada com Santo Henrique, Rei da Baviera e depois Imperador, ela havia resolvido com este príncipe, antes da celebração do casamento, viver em perfeita continência. Os dois cônjuges cumpriram a promessa e não tinham outro objetivo na união senão levar um ao outro à perfeição.
Cunegundes mostrou-se a mãe dos pobres e, como havia proibido a si mesma os divertimentos da corte, encontrou meios de socorrer os infelizes, erigir bispados, fundar mosteiros e adornar igrejas.
Deus permitiu, para testar sua paciência, que ela fosse vergonhosamente caluniada e que a calúnia, vinda do alto, chegasse até o povo, que tinha apenas uma voz para condenar a suposta hipocrisia da rainha. Henrique, conhecendo a virtude de sua esposa, a princípio rejeitou esses relatos com indignação. Mas a perfídia dos inimigos de Cunegundes finalmente o convenceu, e ele passou a desprezar sua santa esposa e não mais falar com ela.
Um dia a rainha teve a coragem de se aproximar dele e protestar sua perfeita inocência; Ela foi até a primeira a propor confiar no julgamento de Deus, como ainda era tolerado naquela época semibárbara:
"Aqueça até o fogo branco", ela disse a ele, "doze relhas de arado; descalça, andarei sobre esses ferros em chamas, confiando na bondade do meu Deus, que conhece as profundezas do meu coração."
Quando chegou o dia, as doze relhas de arado, aquecidas até o calor incandescente, foram colocadas na basílica, no meio de uma grande multidão que se apressou para testemunhar esse estranho espetáculo. A rainha estava prestes a avançar para este pavimento em chamas, quando Henrique lhe disse:
"Eu acredito na sua inocência; por favor, não persista no seu plano." Mas Cunegundes queria uma prova completa:
"Quanto mais terrível for esse incêndio, mais minha inocência brilhará", disse ela. Então, erguendo os olhos para o céu, ela pisou descalça nos ferros em brasa, dizendo:
“Senhor meu Deus, protege teu humilde servo!” Quando chegou ao décimo segundo andar, ela permaneceu ali de pé, como se estivesse em um trono de honra. A multidão, trêmula, correu para venerar a santa e corajosa rainha, e, por sua vez, Henrique se jogou aos pés de Cunegundes, implorando que ela preservasse seu amor por ele e jurando trabalhar para reparar seu erro até o último dia de sua vida.
Após a morte de seu marido real, ela entrou para um convento, onde tomou o véu e viveu em perfeita humildade.
Santa Cunegundes viveu na realeza. Nasceu no ano 988, era filha de Sigfredo, conde de Luxemburgo e Asdvige, que transmitiu pessoalmente à ela os profundos ensinamentos cristãos. Desde pequena a menina desejava se tornar religiosa.
Porém casou-se com Henrique, duque da Baviera, que era católico e em 1002 se tornou rei da Alemanha. Em 1014 o casal real recebeu a coroa imperial das mãos do Papa Bento VIII, em Roma. Para o povo, foi um tempo de paz e prosperidade. O casal ficou famoso pela felicidade que proporcionava aos seus súditos, o que chamou a atenção dos inimigos do reino e do imperador. Mas também porque a população e a corte diziam que eles haviam feito um "matrimonio de São José", casamento Josefino vivendo ambos em perfeita continência. Mais tarde, os inimigos da corte espalharam uma forte calúnia contra a imperatriz, dizendo que ela havia traído seu marido. A princípio os dois não se importaram, mas os boatos começaram a rondar o próprio palácio e Cunegundes resolveu acabar com a maledicência. Numa audiência pública, negou a traição e evocou Deus para comprovar que dizia a verdade. Para isso, mandou que colocassem à sua frente grelhas quentes. Rezou, fechou os olhos e pisou descalça sobre elas várias vezes, sem que seus pés se queimassem. Isso bastou para o imperador, a corte e o povo admirar ainda mais a santidade da imperatriz, que vivia trabalhando para atender os pobres e doentes, crianças e idosos abandonados, com suas obras religiosas assistenciais.
Em 1021 o casal imperial fundou um mosteiro beneditino em Kaufungen, em agradecimento à Deus pela cura completa de uma doença grave que Cunegundes havia contraído. Quatro anos depois, quando Henrique faleceu, ela retirou-se para esse mosteiro, abdicando do trono e da fortuna, onde viveu como religiosa por quinze anos.
Até hoje o mosteiro possui em seu acervo os riquíssimos e belos paramentos que Cunegundes costurava. Contudo, ela própria usava somente um hábito muito simples, também feito com as próprias mãos. Com ele trabalhava diariamente e com ele fez questão de ser enterrada, embora suas companheiras tivessem preparado cobertas ricamente bordadas e enfeitadas com jóias preciosas para seu velório.
Antes de morrer, no dia 03 de março de 1039, pediu que a enterrassem como uma simples monja e ao lado da sepultura do esposo, na Catedral de Bamberg, que eles também haviam construído. O local foi palco de numerosos prodígios e graças, por isso seu culto correu entre os fiéis e se propagou por toda a Europa. O Papa Inocêncio III a canonizou em 1200, autorizando sua festa para o dia de sua morte. Santa Cunegundes é padroeira de Luxemburgo, da Lituânia e da Polônia o que faz com que sua devoção se mantenha ainda muito forte e intensa.