terça-feira, 11 de março de 2025

A QUARTA-FEIRA DAS TÊMPORAS EXPLICADA

Por Dom Prosper Guéranger



Neste dia, a Igreja começa a praticar o jejum das Quatro Têmporas, que também inclui a sexta e sábado seguintes. Essa prática não pertence propriamente à economia litúrgica do advento: é antes uma das instituições gerais do ano eclesiástico.


Pode ser catalogado no número de usos que a Igreja fez da Sinagoga; porque o profeta Zacarias fala do jejum do quarto, quinto, sétimo e décimo meses. A introdução desse costume na Igreja cristã parece voltar aos tempos apostólicos; essa é, pelo menos, a opinião de São Leão, Santo Isidoro de Sevilha, Rabano Mauro e muitos outros escritores da antiguidade cristã: no entanto, deve-se notar que os orientais não observaram esse jejum.


Na Igreja romana, as Quatro Têmporas foram fixadas nos tempos que são celebrados agora, desde os primeiros séculos; e se há numerosos testemunhos dos tempos antigos em que são mencionados três Têmporas em vez de quatro, é porque as Têmporas da primavera, como sempre caem na primeira semana da Quaresma, não acrescentam nada às práticas dos quarenta dias, já dedicado a um jejum mais rigoroso do que os praticados no restante do ano. O propósito de jejuar nas Quatro Têmporas é na Igreja o mesmo que era na Sinagoga, isto é, santificar cada uma das estações do ano através da penitência. As estações do advento são conhecidas na antiguidade eclesiástica com o nome de Jejum do décimo mês; e São Leão, em um dos sermões que ele nos deixou neste jejum, e do qual a Igreja colocou um fragmento no II noturno do III Domingo do Advento, nos ensina que esse tempo foi escolhido para uma demonstração especial da penitência cristã, porque, porque estando então terminada a colheita dos frutos da terra, é conveniente que os cristãos demonstrem ao Senhor seu agradecimento por meio do sacrifício da abstinência , tornando-se ainda mais dignos de se aproximar de Deus, quanto mais sabem vencer os atrativos das criaturas; “porque, acrescenta o Santo Doutor, o jejum sempre foi o alimento da virtude. É a fonte de pensamentos castos, de resoluções prudentes, de conselhos salutares. Pela mortificação voluntária, a carne morre aos desejos da concupiscência, o espírito é renovado na virtude. Como o jejum não é suficiente para alcançar a salvação de nossas almas, supramos o que está faltando, com obras de misericórdia para com os pobres. Concedamos à virtude o que tiramos ao prazer; para que a abstinência do jejum sirva como alimento aos pobres”.


Tomemos nota desses avisos, uma vez que somos filhos da Santa Igreja, e como vivemos em uma época em que o jejum do Advento não existe, observemos o preceito das Quatro Têmporas com muito mais fervor, quanto que esses três dias, com a Vigília do Natal, são os únicos dias em que a Igreja atualmente nos obriga, de maneira precisa, a manter o jejum [1]. Avivemos em nós, com a ajuda dessas práticas, o zelo dos tempos antigos, sempre tendo em mente que, se a preparação interior é antes de tudo necessária para o Advento de Jesus Cristo em nossas almas, essa preparação não seria verdadeira em nós, se não se manifestar externamente nas práticas de religião e penitência.


O jejum das Quatro Têmporas tem outro propósito além de santificar, por um ato de misericórdia, as várias estações do ano; tem um relacionamento íntimo com a Ordenação dos Ministros da Igreja, que são consagrados no sábado e cuja proclamação diante do povo ocorreu anteriormente na Missa na quarta-feira. As Ordenações do mês de dezembro foram durante muito tempo célebres na Igreja Romana; o décimo mês eram, como parece nas antigas Crônicas dos Papas, a única vez que as Ordens sagradas eram conferidas em Roma, com raras exceções. Os fiéis deveriam unir-se às intenções da Igreja e apresentar a Deus a oferta de seus jejuns e abstinências, a fim de obter dignos ministros do Verbo divino e dos Sacramentos, e verdadeiros pastores do povo cristão.

A Igreja não lê hoje no Ofício de Matinas nada do Profeta Isaías; contenta-se em lembrar a passagem do Evangelho de São Lucas, na qual é anunciada a Anunciação da Santíssima Virgem, e depois ler um pedaço do comentário de São Ambrósio sobre o mesmo trecho. A escolha deste Evangelho, que segundo os costumes do ano inteiro, é a mesma da Missa, deu uma celebridade especial a esta quarta-feira da terceira semana do advento. Antigamente as festas que caiam nesta quarta-feira eram transladadas, como pode ser visto nos antigos Ordinários usados ​​em várias Igrejas distintas, tanto catedrais quanto abaciais; nem se diziam as orações feriais de joelhos neste dia; nas Matinas, o celebrante, vestido de capa branca, com cruz, velas e incenso, e ao som do grande campanário cantava o Evangelho Missus est, ou seja, a Anunciação; nas abadias, o abade devia fazer aos monges uma homilia como nas festas solenes. Graças a essa prática, agora desfrutamos dos quatro magníficos sermões de São Bernardo em homenagem à Santíssima Virgem, intitulados: Super Missus est.


A estação fica em Santa Maria Maior, por causa do Evangelho da Anunciação, que, como acabamos de ver, tornou este dia uma verdadeira festa da Santíssima Virgem.


[1] Referência ao costume da época que, embora em nossos dias já não exista, seria proveitoso a quem ainda o observasse [N.T].

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