segunda-feira, 30 de junho de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 Festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo

Redemisti nos Deo in sanguine tuo… et fecisti nos Deo nostro regnum —“Remiste-nos para Deus com o teu sangue…e fizeste- nos para nosso Deus reino” (Ap 5, 9)

Sumário. O Senhor podia obter-nos a salvação sem sofrer; pois que uma só lágrima, uma só oração teria sido bastante para salvar uma infinidade de mundos. A fim de nos patentear, porém, o seu amor, quis derramar o seu Sangue até a última gota, no meio das mais atrozes dores. Como é que os homens respondem a um tão grande amor? Mostremo-nos ao menos nós gratos para com esse Coração amabilíssimo, e para reparar as ofensas que lhe tenhamos feito habituemo-nos a oferecer muitas vezes ao Eterno Pai este preço da nossa Redenção.

I. Considera o imenso amor que o Filho de Deus nos mostrou, remindo-nos ao preço de seu divino Sangue. Podia salvar-nos sem sofrer; pois que uma só lágrima, um só suspiro, até uma só oração, sendo de valor infinito, teria sido o suficiente para salvar o mundo e até mil mundos. Mas o que bastava para a Redenção, diz São João Crisóstomo, não bastava para patentear o amor que Deus nos tinha; tanto mais que ele quis fazer-se ao mesmo tempo o nosso guia e o nosso mestre: Remiste-nos para Deus com o teu sangue.

Para nos ensinar pelo seu exemplo a obediência às ordens do Pai, também a custo de sacrifícios, Jesus começou a derramar o seu precioso sangue, quando tinha oito dias apenas, sob o cutelo da circuncisão. Além disso, para nos ensinar a domarmos as nossas paixões rebeldes, e ao mesmo tempo a nos conformarmos em tudo com a vontade divina, mesmo com sacrifício da vida, continuou a derramá-lo no Horto das Oliveiras, numa agonia mortal e com tamanha abundância que corria sobre a terra: Factus est sudor eius sicut guttae sanguinis decurrentis in terram (1)— “Veio-lhe um suor, como de gotas de sangue que corria sobre a terra”.

Para reparar a delicadeza com que tratamos o nosso corpo, e mais ainda as nossas satisfações indignas, os nossos pensamentos de soberba e luxúria, Jesus Cristo quis derramar seu sangue no pretório de Pilatos sob os golpes de uma cruel flagelação e de uma bárbara coroação de espinhos.

Finalmente, depois de haver tinto com o seu sangue o caminho do Calvário, para nos ensinar que o caminho do céu é o dos sofrimentos; depois de o haver derramado ainda copiosissimamente pelas mãos e pés, deixando-se crucificar a fim de reparar o abuso da nossa liberdade; vendo por um lado que o coração humano é a raiz viciada de todos os males, e por outro, que no seu coração restavam ainda poucas gotas de seu precioso sangue, quis derramá-las também, permitindo que o seu lado sacrossanto fosse aberto por uma lançada: Unus militum lancea latus eius aperuit (2) — “Um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança”.

Ainda não satisfeito com tudo isso, quis o Senhor, mesmo depois da sua morte e até a consumação dos séculos, preparar-nos com o seu Sangue um banho para as nossas almas no sacramento da Penitência, e no da Eucaristia dar-no-lo como bebida para refazer as nossas forças. Ó invenções admiráveis do amor de um Deus para com os homens! Mas de que modo respondemos nós a tão grande amor?

II. Para mostrares a tua gratidão para com Jesus, e também para desagravá-lo de tantas ofensas que recebe, nutre uma devoção particular pelo seu precioso Sangue. Quando meditares na Paixão do Senhor, chega-te em espírito a ele e pede-lhe que te tinja com o seu Sangue divino. No tribunal da penitência, imagina ver na pessoa do Confessor a pessoa mesma do Redentor, que, dando-te a absolvição, derrama esse sangue sobre a tua alma, e na recepção da comunhão ou na celebração da missa, afigura-te que chegas teus lábios ao lado sagrado de Jesus. Habitua-te sobretudo a oferecer frequentes vezes ao Pai Eterno o Sangue preciosíssimo de Jesus Cristo, em desconto de teus pecados, pelas necessidades da santa Igreja, pela conversão dos pecadores e em sufrágio das almas do purgatório (3).

 “Ó Sangue preciosíssimo de vida eterna, preço e resgate do mundo inteiro, bebida e banho salutar das nossas almas, que continuamente defendeis a causa dos homens, junto do trono da suprema misericórdia, eu vos adoro profundamente e quereria, quanto me é possível, compensar-vos das injúrias e dos ultrajes que recebeis constantemente dos homens e principalmente daqueles que levam a audácia até de proferir blasfêmias contra vós. E quem não bendirá este Sangue de um valor infinito? Quem se não sentirá inflamar de amor por Jesus que o derramou? Que seria de mim, se não fosse resgatado por este Sangue divino? Quem o tirou das veias do meu Senhor até a última gota? Ah, que foi sem dúvida o amor. Ó amor imenso, que nos destes um bálsamo tão salutar! Ó bálsamo inestimável, brotado da fonte de um amor infinito, fazei que todos os corações e todas as línguas vos louvem, glorifiquem e agradeçam agora e sempre e por toda a eternidade (4).

“E Vós, ó Pai Eterno, que estabelecestes o vosso Filho unigênito como Redentor do mundo, e quisestes ser aplacado pelo seu sangue, concedei-nos propício que, durante a minha vida terrestre, eu venere solenemente este preço da nossa salvação, e seja por ele livrado de todo o mal da vida presente, de tal modo que eu mereça gozar no céu o seu fruto perpétuo” (5). Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

Referências:
(1) Lc 22, 44.
(2) Jo 19, 34.
(3) Indulgência de 100 dias cada vez.
(4) Indulgência de 300 dias cada vez.
(5) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 351-354)

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 Da pureza de intenção

Pureza (por Jan lawnikanis)
Pureza (por Jan lawnikanis)
Omne, quodcumque facitis in verbo aut in opere, omnia in nomine Domini Iesu Christi, gratias agentes Deo et Patri per ipsum – “Tudo quanto fizerdes por palavra ou por obra, tudo seja em nome do Senhor Jesus Cristo, rendendo graças por Ele a Deus Pai” (Cl 3, 17)

Sumário. Nunca deixemos de dirigir de manhã a Deus todas as ações do dia; e procuremos renovar a boa intenção ao menos no começo das ações principais. É certo que as ações, boas em si mesmas, porém feitas para granjear louvores humanos, para satisfazer ao amor próprio ou por qualquer motivo humano, são como que postas num saco furado. Ao contrário, a pureza de intenção faz preciosas as ações mais insignificantes, porquanto toda obra feita para Deus é verdadeiro ato de amor divino.

I. A pureza de intenção consiste em fazer todas as ações com o único intuito de agradar a Deus. Jesus Cristo disse: “Se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso. Mas, se o teu olho for mau, todo o teu corpo estará em trevas.” Segundo a explicação de Santo Agostinho, o olho simples significa a intenção pura de dar gosto a Deus: o olho tenebroso significa a intenção má, quando se faz uma coisa por vaidade, ou para própria satisfação. Ora, segundo a intenção for boa ou má, a obra será também aos olhos de Deus boa ou má. — Poderá haver obra mais sublime do que o dar a vida pela fé? Todavia diz São Paulo que aquele que morre com outro intuito que não a vontade de Deus, nenhum proveito tem de seu martírio. Ora, se não aproveita nada o martírio, não sendo sofrido por amor de Deus, que utilidade terão todas as pregações, todos os livros e todos os trabalhos dos operários sagrados e todas as austeridades dos penitentes, quando feitos para granjear louvores humanos ou para contentar o amor próprio?

Disse o profeta Ageu, que as obras, embora santas por natureza, mas não feitas para Deus, são postas in sacculum pertusum (1), em um saco roto, quer dizer, que se perdem todas e nada resta, Ao contrário, toda a ação, por insignificante que seja, mas feita para o agrado de Deus, tem muito mais valor do que muitas obras grandiosas feitas sem reta intenção. — Lemos em São Marcos que a viúva pobre não deitou no cofre das oferendas do templo senão duas pequenas moedas, mas o Salvador dela disse: Vidua haec pauper plus omnibus misit (2) — “Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros”. Explica São Cypriano que ela deu mais do que os outros, porque deu as duas pequenas moedas com a intenção pura de agradar a Deus.

Para conhecer se uma ação foi feita com intenção reta, um dos melhores sinais é o não perturbar-se quando não se alcança o intento desejado. Outro sinal é se depois da obra feita se fica contente e tranquilo, posto que outros murmurem ou a desaprovem. — Pelo mais, se acontecer que o que fez bem é louvado, não deve inquietar-se pelo medo da vanglória. Se tal pensamento surgisse na mente, deveria desprezá-lo e dizer com São Bernardo: Nec propter te coepi, nec propter te desinam: “Não é para ti que comecei, nem para ti a quero interromper”.

II. A intenção de adquirirmos uma glória mais alta no céu é boa; mas a mais perfeita é a de agradar ao Senhor. É esta intenção que fere o Coração de Deus de amor para conosco, assim como disse a Esposa sagrada: Vulnerasti cor meum in uno oculorum tuorum (3) —“Feriste meu Coração com um dos teus olhos”. Pelo que o Apóstolo deu também a seus discípulos este conselho: Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, tudo fazei para glória de Deus (4). — Dizia a Venerável Beatriz da Encarnação, primeira filha de Santa Teresa: “Nenhum valor terrestre pode igualar o de qualquer obra feita para Deus, posto que mais insignificante.” Com razão, pois que todas as obras feitas para Deus são outros tantos atos de amor divino. A pureza de intenção faz preciosas as ações mais desprezíveis; como sejam: o comer, o lavrar a terra, mesmo o divertir-se, com tanto que sejam feitas por obediência e para agradar a Deus.

Devemos, portanto, desde pela manhã dirigir a Deus todas as ações do dia. E será de grande vantagem renovar essa intenção no começo de todas as ações, ao menos das mais importantes, por exemplo, antes da oração, da comunhão, da leitura espiritual; paremos um instante no começo destas ações, como fazia certo solitário, que antes de principiar qualquer ação parava um pouco e levantava os olhos ao céu. Perguntado por que razão assim fazia, respondeu: Procuro acertar o tiro.

Ó meu Jesus, quando começarei a Vos amar com todas as veras? Ai de mim! Se entre as minhas ações, mesmo boas, procuro uma feita unicamente para Vos agradar, não a posso achar. Tende piedade de mim! não permitais que eu Vos sirva tão mal até a minha morte. Ajudai-me, afim de que o resto de minha vida seja empregado unicamente no vosso serviço e no vosso amor. Fazei com que eu suporte tudo para Vos dar gosto, e faça tudo somente para Vos agradar; eu vo-lo peço pelos merecimentos da vossa paixão. — Ó minha grande advogada, Maria, obtende-me esta graça pela vossa intercessão.

Referências:

(1) Ag 1, 6
(2) Mc 12, 43
(3) Ct 4, 9
(4) 1Cor 10, 31

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 183-185)


Santo do dia

1 de julho: São Galo, Bispo de Clermont (489-553)

O homem, diz o apóstolo São Tiago, domesticou todos os tipos de animais, as feras da terra, as aves, os répteis. Mas nenhum homem pode domar a língua. Pelo menos precisamos ficar de olho nessa menina indisciplinada, para amenizar seus excessos.

São Galo nasceu por volta do ano 489, em Clermont, na Auvergne, em uma das famílias mais ilustres do país. Para escapar das obsessões do pai, que queria lançá-lo no caminho das honras e forçá-lo ao casamento, decidiu fugir da casa paterna e foi para o mosteiro vizinho, onde só foi aceito, porém, após o consentimento do pai, que finalmente se submeteu ao sacrifício, dizendo: "Seja feita a vontade de Deus, não a minha". O novo homem religioso avançou rapidamente no caminho da perfeição, e não se sabia o que mais admirar nele, sua inocência ou sua austeridade. A oração era seu prazer; ele tinha um gosto particular por cantar louvores divinos.

A fama do jovem chegou aos ouvidos do Rei Thierry, que o apegou à sua pessoa, quando ele ainda era apenas diácono. Um dia, entristecido ao ver uma população pagã prestando homenagem vã aos ídolos, ele foi atear fogo ao templo e escapou por pouco da morte com que os furiosos pagãos o ameaçaram. Mais tarde, quando ele relatou esse incidente de sua juventude: "Ai de mim!" ele disse, "por que eu fugi? Eu covardemente perdi a graça do martírio."

Com a morte do Bispo de Clermont, o santo monge foi eleito para sucedê-lo. Ele recebeu o sacerdócio e a consagração episcopal. As brilhantes virtudes do novo pastor, sua gentileza, sua humildade, sua caridade paterna, logo lhe conquistaram a afeição geral.

Entre todas as suas virtudes, havia motivos para notar uma paciência verdadeiramente admirável. Um dos seus sacerdotes, a quem ele estava justamente repreendendo, ousou um dia bater-lhe na cabeça; O bom bispo simplesmente olhou para ele com compaixão e sem lhe dirigir qualquer reprovação. Em outra ocasião, um padre o inundou de insultos em praça pública; O Santo respondeu-lhe com silêncio, e o culpado logo veio pedir-lhe perdão publicamente.

Deus deu à santidade do bispo o testemunho de milagres. Um grande incêndio ameaçava devorar grande parte da cidade; O pontífice foi rezar diante do altar, pegou o livro dos Evangelhos e o jogou nas chamas, que imediatamente se apagaram. Ele preservou Clermont de todos os acidentes, com suas orações, durante um terremoto; em um tempo de peste ele também obteve a preservação de seu povo.

O santo bispo deu, ao morrer, os mais belos exemplos de resignação. Um grande número de milagres ocorreram em seu túmulo. É invocado contra febre.


Basílica de Nossa Senhora do Porto em Clermont-Ferrand (França)



domingo, 29 de junho de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 Devemos morrer


Morte (por Jonathan Herbert)
Statutum est hominibus semel mori, post hoc autem iudicium – “Está decretado aos homens que morram uma vez e que depois se siga o juízo” (Hb 9, 27)

Sumário. Meu irmão, por muitos anos que tenhas a viver, sabe que para todos os homens já está escrita a sentença de morte. O que sucedeu a nossos antecessores, suceder-nos-á também. Cedo ou tarde devemos morrer, e depois da morte espera-nos um juízo inexorável e uma eternidade ou de gozos infindos no paraíso, ou de tormentos indizíveis no inferno. Que insensatez seria, pois, a nossa, se para buscarmos uma fortuna que em breve se extingue, nos descuidarmos da eternidade!

I. Para todos os homens está escrita a sentença de morte: és homem, deves morrer. Dizia Santo Agostinho que toda a nossa sorte, quer boa, quer má, é incerta; mas que só a morte é indubitavelmente certa. Cetera nostra bona et mala incerta sunt; sola mors certa est. É incerto se tal menino recém nascido virá a ser pobre ou rico, se terá boa ou má saúde, se morrerá moço ou velho; tudo isto é incerto; só é certo que deve morrer.

Vê: de quantos no princípio do século passado viviam na tua pátria, já não existe nenhum. Até os príncipes, os monarcas da terra passaram ao outro mundo; nada mais deles resta senão um mausoléu de mármore com uma bela inscrição, que tão somente serve para nos ensinar que dos grandes do mundo só resta um bocado de pó, resguardado por algumas pedras. Pergunta São Bernardo: Que foi feito dos amadores e adoradores do mundo? E responde: Nada deles restou senão cinzas e vermes. – Nihil ex eis remansit, nisi cineres et vermes.

Cada homem, pois, seja mesmo nobre ou rei, há de ser ceifado pela morte; e quando esta chega não há força que lhe possa resistir. Resiste-se ao fogo, diz Santo Agostinho, à água, ao ferro; resiste-se ao poder dos reis; mas não se pode resistir à morte. – Conta Vicente de Beauvais que um rei da França, ao chegar o fim da vida, exclamou: “Eis que com todo o meu poder não posso alcançar que a morte me espere uma hora mais.” Quando chega o termo da vida, ninguém o pode adiar por um instante sequer: Constituisti terminos eius qui praeteriri non poterunt (1) – “Tu lhe demarcaste os limites, dos quais ele não pode passar”.
 
 Por muitos anos que tenhas a viver, meu irmão, deve vir um dia, e nesse dia uma hora, que te será a última. Para mim, que agora estou escrevendo;  para ti que lês esta meditação, já está decretado o dia, o instante, em que eu deixarei de escrever e tu deixarás de ler: Quis est homo qui vivet et non videbit mortem? (2) – “Que homem há que viva e não veja a morte?” Está proferida a sentença. Nunca existiu homem tão insensato que se julgasse isento da morte. O que sucedeu a nossos antecessores, suceder-te-á também. Devemos morrer, e depois da morte espera-nos um juízo inexorável.

É preciso, por consequência, que não busquemos essa fortuna que se extingue, mas a que será eterna, já que são eternas as nossas almas. De que te serviria ser feliz neste mundo (dando de barato que a verdadeira felicidade se pode encontrar numa alma separada de Deus), se depois tivesses de ser desgraçado durante toda a eternidade? Para tua satisfação edificaste talvez uma casa; mas reflete que breve a terás de abandonar e irás apodrecer numa cova. Obtiveste talvez essa dignidade que te torna superior aos outros, mas a morte virá e te reduzirá igual aos homens mais abjetos da terra.

Ai de mim que durante tantos anos só pensei em Vos ofender, ó Deus da minha alma! Passaram-se todos esses anos, a minha morte está talvez próxima, e que acho em mim senão mágoas e remorsos de consciência? Agradeço-Vos, ó meu Jesus, o terdes esperado até agora por mim, e já que me dais o tempo de remediar o mal que está feito, arrependo-me de todo o coração de Vos ter ofendido. Com vosso auxílio proponho empregar unicamente para Vos amar todos os dias de vida que me restam. Ah! Meu Jesus, não repilais o traidor que arrependido se abraço com vossos pés, Vos ama e Vos pede misericórdia. † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas. – Ó Maria, minha Mãe, minha esperança e meu refúgio, recomendo-me a vós; rogai a Jesus por mim, e alcançai-me a santa perseverança.

Referências:
(1) Jó 14, 5
 (2) Sl 88, 49

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 180-183

Santo do dia

30 de junho: São Paulo, apóstolo dos gentios (66)


Quem pode se orgulhar de trabalhar como São Paulo para a glória de Deus? Entretanto, o incansável apóstolo, por medo da reprovação, castigou seu corpo e o tratou como um escravo. Peçamos a Deus que nos encha de um temor salutar.



A festa da Conversão de São Paulo (25 de janeiro) nos deu a oportunidade de conhecer a história da maravilhosa conversão deste grande Apóstolo. Aqui devemos recordar as viagens do seu apostolado, o sucesso da sua pregação, os ensinamentos sublimes das suas epístolas, as suas prisões, os seus sofrimentos, o seu martírio. Quem melhor do que ele resumiu tudo isso nesta bela página de sua segunda epístola aos Coríntios, onde vinga sua missão divina atacada por falsos irmãos?

Por Jesus Cristo, suportei muitos trabalhos, muitas vezes fui preso, sofri os golpes dos meus inimigos, frequentemente corri perigo de morte; recebi dos judeus, cinco vezes diferentes, trinta e nove açoites; fui açoitado três vezes com varas pelos ímpios; fui apedrejado uma vez, sofri três naufrágios; passei um dia e uma noite no fundo do mar; multipliquei minhas viagens difíceis e cansativas; muitas vezes quase pereci em rios, ou nas mãos de ladrões, ou me tornei vítima, às vezes do ódio dos judeus, às vezes da fúria dos gentios; encontrei perigos no meio das cidades, nos desertos, no mar, ou com falsos irmãos; passei muitos anos em trabalhos, em tristeza, em vigílias, em fome e sede, em jejum, em frio, em nudez. Além desses males externos, quantos... Que dor me causou a minha preocupação diária por tantas igrejas que fundei? Quem sofre? sem que eu sofra com ele? Quem corre o risco de se perder sem que eu arda de dor?"

Se Paulo é admirável em suas obras apostólicas, não o é menos em suas Epístolas, onde nos aparece a grande alma deste incomparável Apóstolo, com a substância do cristianismo.

"São Paulo", conta-nos o historiador Nicéforo, segundo uma tradição autêntica, "era de baixa estatura; seu rosto pálido, sua longa barba branca, sua cabeça quase calva, faziam-no parecer mais velho do que realmente era". Sob esse frágil envoltório escondia-se uma alma valente, um espírito magnânimo, um coração invencível que o perigo nunca espantava ou aterrorizava. Verdadeiro modelo do apóstolo, ele se fez tudo para todos, soube adaptar-se às circunstâncias e adquiriu uma influência surpreendente sobre as pessoas a quem pregava; sua pessoa e sua vida recordarão sempre as maiores maravilhas que a Providência operou em prol da extensão do Evangelho.


Túmulo de São Paulo, Basílica de São Paulo Fora dos Muros em Roma (Itália)





sábado, 28 de junho de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: 3º Domingo depois de Pentecostes

A ovelha perdida e o Pastor divino

Jesus Divino Pastor

Congratulamini mibi, quia inveni ovem meam, quae perierat – “Congratulai-vos comigo, porque achei a  ovelha que se tinha perdido” (Lc 15, 6)

Sumário. No Evangelho de hoje, Jesus Cristo representa-nos a sua misericórdia para com os pecadores. Com efeito, nós éramos como que  ovelhas desgarradas: cada um ia errando por seu caminho. O divino Pastor, porém, solicito por nós, desceu do céu à terra, para nos reconduzir ao aprisco. Oh! que festa houve então no paraíso! Mas a festa se torna em luto, cada vez que pecamos ou caímos novamente do fervor na tibieza. Como, pois, teremos a triste coragem de fazê-lo?

I. Refere-se no Evangelho de hoje que os Fariseus e os Escribas murmuravam de Jesus Cristo, porque se chegava aos publicanos e pecadores. Então o Senhor lhes propôs esta parábola: Qual de vós possuindo cem  ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu até a encontrar? Achando-a põe-na aos ombros muito alegre e chegando à casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se tinha perdido: Inveni ovem meam quae perierat.

Sob uma figura tão bela quis Jesus Cristo representar a sua própria pessoa e a sua misericórdia para com os pecadores. Todos nós éramos como que ovelhas desgarradas, cada um ia errando pelo seu caminho (1). Então Jesus, solicito por nossa salvação, desceu do céu à terra para nos reconduzir a seu aprisco e pôr-nos de novo no caminho que conduz à felicidade eterna. Pelo que São Pedro escreve: Eratis sicut oves errantes (2). – Vós éreis como ovelhas desgarradas; mas agora estais reconduzidos ao Pastor e Bispo de vossas almas.

Ah, meu divino Pastor Jesus! Eu também fui uma daquelas ovelhas perdidas, mas Vós me viestes buscar até me achar, como tenho a confiança. Vós me achastes e eu Vos achei. – Mas, ó Senhor, porque é que convidais vossos amigos, quer dizer, os anjos e os santos, a alegrarem-se convosco? Parece que antes lhes devíeis dizer que se alegrem com a ovelha, por Vos haver achado, seu Deus e seu tudo. É, pois, tão grande o amor que tendes à minha alma, que Vos sentis feliz por a terdes achado! E depois disso, como poderei tornar a Vos deixar, ó meu amado Senhor?Melhores presentes para os seus entes queridos

II. Dico vobis, quod ita gaudium erit in coelo. Considera como Jesus conclui a sua parábola: “Assim também vos digo, haverá mais alegria no céu por um só pecador que faz penitência do que por noventa e nove justos que não precisam de penitência”. São Gregório nos explica a razão disso, dizendo: “É mais agradável a Deus uma vida fervorosa depois do pecado, do que a vida inocente mas arrefecida pela segurança”. A alegria, porém, do paraíso converte-se em luto, quando uma ovelha, procurada com tamanha solicitude e reconduzida com tanto amor ao aprisco do divino Pastor, de novo se desvia, pela recaída no pecado mortal, ou no hábito das faltas veniais deliberadas. Diz São Francisco de Sales, que os anjos, se pudessem chorar, chorariam de compaixão ao verem tão grande miséria. E São Bernardo acrescenta: Pecccatum, quantum in se est, Deum perimit – “O pecado, pela sua natureza, causa a morte de Deus”. Como se dissesse: Se Jesus Cristo pudesse morrer, um só pecado mortal bastaria para fazê-lo morrer de pura tristeza.

Ah, meu dulcíssimo Redentor! É assim que eu também Vos tenho tratado cada vez que desprezei a vossa graça. – Oh não! Ter eu antes morrido mil vezes do que ofender-Vos, ó bondade infinita! Mas já que me viestes procurar e me achastes, uni-me a Vós, prendei-me com os felizes laços do vosso santo amor, afim de que Vos ame sempre e não mais me afaste de Vós. Se desejais vingar-Vos das amarguras que Vos causei, vingai-Vos, eu vo-lo peço, não já expulsando-me da vossa presença, mas concedendo-me uma dor tão viva, que me faça chorar por toda a minha vida.Melhores presentes para os seus entes queridos

Ó meu Jesus, amo-Vos de todo o coração e sabei que não quero mais viver sem o vosso amor; socorrei-me com o vosso auxílio. – “Ó Deus, protetor dos que em Vós esperam, e sem o qual nada há firme nem santo, multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que, por Vós dirigidos e guiados, passemos de tal modo pelos bens terrenos, que não percamos os eternos. Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo” (3). † Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) Is 53, 6
 (2) 1 Pd 2, 25
 (3) Or. Dom.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 178-180)

Santo do dia

29 de junho: São Pedro, Príncipe dos Apóstolos (66)
Ainda mais orgulhosos e fracos que São Pedro, protestamos cem vezes que jamais negaríamos Jesus Cristo, e o negamos todos os dias, temendo a zombaria dos homens e abandonando nossos deveres. Choremos como este apóstolo e, tornando-nos mais humildes, aumentemos o nosso amor à medida que caímos.


No dia 29 de junho, a Igreja homenageia São Pedro e São Paulo, esses dois apóstolos incomparáveis, unidos na fé, na prisão e na morte. Mas, já que a festa de 30 de junho nos dá a oportunidade de falar de São Paulo, limitemo-nos hoje ao príncipe dos Apóstolos. É ao Evangelho que devemos recorrer para aprender os detalhes desta vida surpreendente.

Filho de pescador e pescador ele mesmo, simples, ignorante, sem instrução, ouviu o Filho de Deus dirigir-lhe este singular chamado: "Siga-me, e eu farei de você um pescador de homens". Entre todos os Apóstolos, ele brilha pela sua fé enérgica e reconhece em Jesus o Cristo, Filho de Deus. Ele nunca abandona o Salvador, está presente em todos os grandes momentos da vida do Mestre.

Apesar de sua tripla negação no dia da Paixão, uma falha tão nobremente reparada depois, ele é confirmado como chefe dos Apóstolos e chefe da Igreja. Seu trono logo desbancará o dos Césares, e o humilde pescador terá um nome mais imortal que o das maiores celebridades de todos os séculos.

Jesus disse certa vez aos Seus Apóstolos: "O discípulo não está acima do Mestre; se Me perseguem, perseguirão vocês." São Pedro deveria ter, de fato, o destino de Jesus Cristo e regar com seu sangue a Igreja nascente. Tocado pelas lágrimas dos fiéis, não movido pelo medo, Pedro pensou primeiro em fugir da perseguição que o imperador Nero acabara de levantar; mas quando ele estava saindo de Roma, viu Cristo em pé diante dele:

"Para onde vais, Senhor?" ele disse a ele.

"Vou para Roma", disse Jesus, "para ser crucificado novamente".

Com essas palavras, o Salvador desapareceu, e Pedro entendeu que deveria retornar a Roma para ser crucificado ali.

O príncipe dos Apóstolos teve que suportar os sofrimentos de uma longa prisão; ele teve ao menos o consolo de ser companheiro de São Paulo e de consumir seu sacrifício no mesmo dia que ele. Pedro foi condenado ao suplício da cruz; mas, por humildade, julgando-se indigno de ser crucificado como o divino Mestre, pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, o que lhe foi concedido. Ao chegar ao local da execução, Pedro não pôde conter a alegria do seu coração: "Esta é a árvore da vida", gritou ao povo, "a árvore onde a morte foi vencida e o mundo redimido. Graças te dou, Filho do Deus vivo!"

Túmulo de São Pedro, Basílica de São Pedro em Roma (Itália)

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Santo do dia

28 de junho: Santo Irineu, Bispo de Lyon e Mártir (120-202)

Assim é a fé cristã: Irineu, um homem de gênio, acreditou nela, proclamou-a, defendeu-a com suas palavras e sua pena, e se entregou por ela até a última gota de seu sangue.


Santo Irineu nasceu na Ásia Menor e lá passou seus primeiros anos. Teve a notável fortuna de ser, ainda jovem, discípulo do admirável Bispo de Esmirna, Policarpo. Irineu nutria tamanha veneração por seu santo mestre que, não contente em imbuir-se de sua doutrina e espírito, modelou suas ações e até mesmo seus passos e andar segundo ele. Logo se tornou bem informado nas Sagradas Escrituras e nas tradições apostólicas, e já se podia prever nele o futuro autor de tantas obras sagradas, e especialmente daquela notável obra contra as Heresias, da qual todos os futuros estudiosos se inspirariam, como de uma fonte rica e segura.

Irineu era o filho amado de Policarpo; mas também era a esperança e a alegria de toda a cristandade. Nunca um diácono desempenhou todos os seus deveres com tanto zelo. O ardor do jovem apóstolo inflamava-se cada vez mais ao ver os missionários que Policarpo enviava para a Gália; logo ele recebeu de seu mestre a ordem ansiosamente desejada de ir em auxílio do velho bispo de Lyon, São Potino.

Policarpo fez um grande sacrifício no dia da separação; mas também realizou uma obra frutífera. A felicidade do venerável Bispo da Gália superou todas as suas esperanças quando reconheceu o pleno mérito de seu jovem assistente. Com Irineu, o futuro da Igreja Ocidental estava salvo.

Uma terrível perseguição causou o desaparecimento de São Potino e de um grande número de fiéis; os pagãos acreditavam ter afogado a Igreja de Lyon no sangue de seus filhos; mas Irineu ainda permaneceu e, por ordem do Papa Eleutério, logo ascendeu à sé episcopal de Lyon. Suas orações, suas pregações, suas exortações, suas repreensões logo reconstituíram esta Igreja devastada. A paz, porém, era apenas precária, e a perseguição fez com que o sangue dos mártires corresse novamente. A hora de Irineu ainda não havia chegado; sua obra estava apenas começando, e Deus queria dar-lhe tempo para completá-la.

Quando, em 202, os horrores da perseguição irromperam novamente, a Igreja de Lyon, ainda proeminente, estava pronta para suportar o choque. Irineu, mais do que nunca, reavivou a fé de seus filhos e mostrou-lhes o Céu. Ele foi uma das primeiras vítimas; foi a justa recompensa devida aos seus longos trabalhos. Entre todos os louvores que lhe foram concedidos pelos Santos, citemos os gloriosos títulos de Zelote do Novo Testamento, Tocha da Fé, homem versado em todas as ciências.


Igreja de Santo Irineu em Lyon (França)




Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

Coração de Maria, imagem fiel do Coração de Jesus

Imaculado Coração de Maria, imagem fiel do Sagrado Coração de Jesus
Mater eius conservabat omnia verba haec in corde suo – “Sua Mãe conservava todas estas palavras em seu coração” (Lc 2, 51)

Sumário. Todas as qualidades que nos dias anteriores contemplamos no Coração de Jesus acham-se, com as devidas proporções, também no Coração de Maria, sua Mãe. Durante os trinta anos que a Virgem Santíssima conviveu com Jesus, não fez senão estudar continuamente no livro do Coração do Filho. Se, pois, amamos deveras a Maria e queremos ser seus dignos filhos, estudemos igualmente o Coração de Jesus e aprendamos de Nossa Senhora a praticarmos a humildade e o amor para com Deus e para com o próximo.Melhores presentes para os seus entes queridos

I. Depois da Encarnação do Verbo, a ocupação habitual de Maria Santíssima foi estudar o grande livro do Coração amabilíssimo de Jesus e nesta escola divina fez progressos tão grandes, que se tornou uma imagem fiel de Jesus. Pelo que todos os dotes que nos dias anteriores contemplamos no Coração do Filho, acham-se também, observadas as devidas proporções, no Coração da Mãe.

Com efeito, que coração há mais amável que o Coração de Maria? Coração todo puro, santo, imaculado, perfeito; Coração, em suma, no qual Deus acha as suas delícias, as suas complacências. – Coração ao mesmo tempo tão amante dos homens, que, se todas as criaturas unissem as suas forças, nem de longe conseguiriam igualar o amor de Maria: Amat nos amore invicibili (1) – “Ela nos ama com amor inexcedível”. Este amor de Maria para com o gênero humano, rivalizando com o do Eterno Pai, levou-a a fazer o sacrifício doloroso, de entregar à morte seu Filho inocente. Leva-a continuamente a compadecer-se com ternura maternal das nossas misérias; a socorrer-nos generosamente em nossas necessidades; a ser-nos reconhecida e recompensar fielmente qualquer obra boa feita por seu amor, qualquer palavra dita para glória sua, cada bom pensamento que lhe agrada.

Melhores presentes para os seus entes queridos
Como retribuição de todos os benefícios que a divina Mãe nos dispensou e ainda continuamente nos dispensa, não exige senão nosso amor; porquanto seu coração, à semelhança do de Jesus, é um coração desejoso de ser amado. – Vê, portanto, quanta aflição deve sentir vendo-se pago com desprezos. Não sejas tu do número daqueles ingratos que assim afligem a nossa terna Mãe.

II. Imitatores mei estote, sicut et ego Christi (2) – “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo”; é o que, com mais razão do que São Paulo, nos diz a divina Mãe. Se, pois, amas a Maria, deves, à sua imitação, estudar continuamente no livro do Coração de Jesus Cristo, afim de nele aprender todas as virtudes, especialmente as que te sejam mais necessárias como, por exemplo, o desapego da terra, a humildade, a mansidão, a resignação e sobretudo o amor para com Deus e para com o próximo. – Se não tens a coragem de estudar em tão grande livro, pede-a à divina Mãe.

Ó Coração de Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa; Coração amabilíssimo, objeto da complacência da adorável Trindade, de toda a veneração e amor dos anjos e dos homens; Coração mais semelhante ao de Jesus, do qual sois imagem perfeita; Coração cheio de bondade e todo compassivo com as nossas misérias: dignai-vos tirar a frieza de nossos corações e fazei que sejam transformados à semelhança do Coração do divino Salvador. Infundi-lhes o amor a vossas virtudes; abrasai-os no fogo feliz, que está continuamente ardendo em vosso Coração.Melhores presentes para os seus entes queridos

Abrangei a santa Igreja, guardai-a e sede-lhe sempre doce asilo e torre inexpugnável contra todos os assaltos dos seus inimigos. Sede-nos o caminho para irmos a Jesus e o canal pelo qual nos venham todas as graças necessárias para nossa salvação. Sede nosso socorro nas aflições, nosso conforto nas tentações, nosso refúgio nas perseguições, nosso auxílio em todos os perigos, especialmente nos últimos combates de nossa vida na hora da morte, quando todo o inferno se desencadear contra nós para roubar nossas almas, naquele momento terrível do qual depende a eternidade. Ó Virgem piedosíssima, deixai-nos experimentar então a doçura do vosso coração maternal e a eficácia do vosso poder para com o Coração de Jesus, abrindo-nos nesta fonte mesma da misericórdia um abrigo seguro, no qual possamos um dia chegar a bendizê-lo no paraíso por todos os séculos dos séculos.

Conhecidos, louvados, benditos, amados, servidos e glorificados, sejam sempre e por toda parte o diviníssimo Coração de Jesus e o puríssimo Coração de Maria.

Referências:

(1) S. Petr. Dam.
(2) 1 Cor 4, 16


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 175-178)

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Santo do dia

27 de junho: Nossa Senhora do Perpétuo Socorro


Em estilo bizantino, pintada sobre madeira e com fundo dourado, a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro tem cerca de 50 centímetros de altura. A Virgem aparece com seu divino Menino; em suas testas brilha uma auréola dourada. Dois anjos, um à direita e outro à esquerda, apresentam os instrumentos da Paixão ao assustado Menino Jesus, enquanto a Santíssima Virgem observa a cena patética com calma e resignada tristeza.

Após ser venerada por muito tempo em Creta, os habitantes desta ilha, fugindo de uma invasão turca no final do século XIV, trouxeram a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro para Roma. À invocação de Maria, sob o título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, o navio que transportava Sua santa imagem foi salvo de uma terrível tempestade.

Em 27 de março de 1499, após ter marchado triunfalmente pelas ruas da Cidade Eterna, precedido pelo clero de Roma e seguido pelo povo, o retrato da Virgem do Perpétuo Socorro foi colocado sobre o altar-mor da Igreja de São Mateus, perto de Santa Maria Maior. Graças ao cuidado dos monges agostinianos, a imagem sagrada tornou-se objeto de um culto muito popular, que Deus recompensou ao longo de vários séculos com inúmeros milagres.

Durante os conflitos da Revolução de 1789-1793, as tropas francesas que ocupavam Roma destruíram a Igreja de São Mateus. Um dos monges que serviam neste santuário conseguiu remover secretamente a Madona milagrosa. Ele a escondeu com tanto cuidado que, por sessenta anos, as pessoas se perguntaram o que teria acontecido com a famosa pintura.

Deus permitiu uma combinação de circunstâncias providenciais para redescobrir a venerada imagem. Em 1865, a fim de devolver a piedosa representação aos mesmos lugares onde outrora fora rezada, Pio IX ordenou que fosse trazida de volta ao Esquilino, à igreja de Santo Afonso de Ligório, construída no recinto onde antes se erguia a igreja de São Mateus. Em 26 de abril de 1866, os Redentoristas entronizaram solenemente Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em sua capela.

Desde então, graças ao zelo dos filhos de Santo Afonso e aos inúmeros milagres obtidos em seu piedoso santuário, a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro cresceu extraordinariamente. Em 23 de junho de 1867, para reconhecer e perpetuar a memória desses preciosos favores, o venerável Cabido do Vaticano coroou a santa imagem com grande pompa.

Em 1876, o Papa Pio IX estabeleceu uma Arquiconfraria na Igreja de Santo Afonso, dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Hoje, a Santíssima Virgem é invocada com este nome na maioria das igrejas ocidentais.

 

Oração a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Ó Santíssima Virgem Maria, que para nos inspirar uma confiança sem limites, quiseste tomar o doce nome de Mãe do Perpétuo Socorro, nós vos suplicamos que nos assistais em todo o tempo e em todo o lugar, nas nossas tentações, depois das nossas quedas, nas nossas dificuldades, em todas as misérias da vida e especialmente no momento da nossa morte.

Dai-nos, ó Mãe caridosa, o pensamento e o hábito de recorrer sempre a vós, pois estamos certos de que, se vos invocarmos fielmente, sereis fiel em socorrer-nos.

Concedei-nos, pois, esta graça das graças, a graça de rezar-vos sem cessar e com a confiança de uma criança, para que, em virtude desta oração fiel, alcancemos o vosso auxílio perpétuo e a vossa perseverança final.

Abençoa-nos, ó Mãe terna e prestativa, rogai por nós, agora e na hora de nossa morte.

Que assim seja.


Pintura de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Igreja de Santo Afonso em Roma (Itália)

 


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Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

Festa do Sagrado Coração de Jesus

Sacratíssimo Coração de Jesus

Filios enutrivi et exaltavi; ipsi autem spreverunt me – “Criei uns filhos e engrandeci-os; eles, porém, me desprezaram” (Is 1, 2)

Sumário. Os homens prometem facilmente, mas depois faltam muitas vezes à palavra, ou porque enganaram prometendo ou porque não a podem ou não a querem guardar. Não faz assim Jesus Cristo, que, sendo Deus todo poderoso, não pode enganar nem mudar. Quanto melhor é, pois, ter que tratar com este Coração divino do que com os homens! Ponhamos, porém, a mão na consciência: somos nós fiéis a Deus, assim como ele nos é fiel? Quantas vezes temos já prometido amá-Lo e depois o temos traído!
I. Oh! Quanto o belo Coração de Jesus é fiel para com aqueles que Ele chama a seu santo amor! Fiel é aquele que vos chamou: ele também assim fará. A fidelidade de Deus nos dá ânimo para esperar tudo, se bem que nada mereçamos. Depois de expulsarmos a Deus de nosso coração, basta que Lhe abramos a porta para Ele entrar logo segundo a promessa feita: Si quis aperuerit mihi ianuam, intrabo ad illum et coenabo cum illo (1) – “Se alguém me abrir a porta, entrarei em sua casa e ceiarei com ele”. – Se desejamos graças, peçamo-las em nome de Jesus Cristo, visto que Ele nos prometeu que assim as obteremos: Se pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, Ele vo-la dará (2). Nas tentações, confiemos nos méritos de Jesus, e Ele não permitirá que os inimigos nos incomodem acima das nossas forças: Fidelis autem Deus est, qui non patietur vos tentari supra id quod potestis (3). Oh, como é preferível tratar com Deus a tratar com os homens! Quantas vezes estes não prometem e depois faltam à palavra, quer porque enganam na promessa, quer porque depois da promessa mudam de opinião. Non est Deus quasi homo, ut mentiatur; nec ut filius hominis ut mutetur (4). Deus, assim diz o Espírito Santo, não pode ser infiel em suas promessas, porque não pode mentir, sendo a verdade mesma; nem pode mudar de opinião, porque tudo o que quer é justo e reto. Prometeu acolher todo aquele que a Ele se chega; dar auxílio ao que o pede, amar àquele que O ama, e depois não há de fazer? Dixit ergo, et non faciet? Oxalá fôssemos nós tão fiéis a Deus, assim como Ele o é para conosco! No passado, quantas vezes não Lhe temos prometido sermos todos d’Ele, servi-Lo e amá-Lo; e depois nos tornamos traidores, e renunciando ao seu serviço, fizemo-nos escravos do demônio! Peçamos-Lhe que nos dê força para Lhe sermos fieis no futuro. – Felizes de nós, se formos fiéis a Jesus Cristo nas poucas coisas que Ele nos manda! Ele será fiel recompensando-nos copiosamente, e nos fará ouvir o que prometeu a seus servos fiéis: Euge, serve bone et fidelis! Quia super pauca fuisti fidelis, super multa te constituam; intra in gaudium domini tui (5) – “Eia, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, te investirei na posse do muito: entra no que é gozo de teu senhor”. II. Amadíssimo Redentor meu, oxalá que eu Vos tivesse sido fiel, como Vós o fostes comigo. Cada vez que Vos abri a porta do meu coração, nele entrastes para me perdoar e receber a vossa graça; cada vez que Vos invoquei, correstes em meu socorro. Vós fostes sempre fiel e eu Vos fui muitas vezes infiel: prometi servir-Vos e depois tantas vezes Vos virei as costas; prometi amar-Vos e depois mil vezes Vos recusei meu amor, como se Vós, meu Deus, meu Criador e meu Redentor, fosseis menos digno de ser amad, que as criaturas e as miseráveis satisfações pelas quais Vos abandonava. Perdoai-me, ó meu Jesus. Reconheço a minha ingratidão e a detesto. Reconheço que sois a bondade infinita, digna de um amor infinito, especialmente digna de ser amada por mim, a quem tanto tendes amado após tantas ofensas da minha parte. Desgraçado de mim se me condenasse! As graças que me destes e as provas de amor que me prodigalizastes, seriam o inferno do meu inferno. Não seja assim, ó meu amor; não permitais que Vos abandone de novo, e que, por um justo castigo, seja precipitado no inferno para continuar a pagar com ódio e injúrias vosso amor para comigo. Ó Coração terno e fiel de Jesus, inflamai meu pobre coração, para que se abrase de amor para convosco, como Vós para comigo. Parece que de presente Vos amo, ó meu Jesus, mas amo-Vos muito pouco; dai-me que Vos ame muito e Vos seja fiel até à morte. É esta a graça que Vos peço, bem como a graça de a pedir sempre. Deixai-me morrer antes que venha novamente a trair-Vos. “Fazei, Senhor Jesus Cristo, que nos vistamos das virtudes e nos inflamemos com os afetos de vosso Santíssimo Coração, para que mereçamos ser conformes à imagem da vossa bondade e participar do fruto da redenção.” (6) Fazei-o pelo amor de vossa e minha amada Mãe, Maria. Referências: (1) Ap 3, 20 (2) Jo 14, 13 (3) 1Cor 10, 13 (4) Nm 23, 19 (5) Mt 25, 23 (6) Or. Festi. (LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 173-175)

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: 9º Dia da Novena ao Sagrado Coração de Jesus

Coração de Jesus desprezado

Coração de Jesus desprezado

Filios enutrivi et exaltavi; ipsi autem spreverunt me “Criei uns filhos e engrandeci-os; eles, porém, me desprezaram” (Is 1, 2)

Sumário. Para um coração amante não há pena mais pungente do que ver desprezado seu amor, mormente quando as provas de amor foram manifestas e a ingratidão é grande. Vejamos, pois, qual deva ter sido a pena do Coração sensibilíssimo de Jesus que em retorno dos muitos benefícios feitos aos homens, só recebe ofensas, injúrias e desprezos, como nem se praticariam para com o mais vil dos homens. Poderemos pensar nesses tratos indignos para com Deus sem sentirmos compaixão e sem nos esforçarmos para o desagravar com o nosso amor?

I. Não há para um coração amante pena mais pungente do que ver seu amor desprezado; mormente quando as provas de amor foram manifestas é mais negra a ingratidão que se mostra. – Se alguém por amor de Jesus Cristo se privasse de todos os seus bens, fosse viver num deserto, se alimentasse só com ervas, dormisse no chão, se macerasse com penitências, se, afinal, se deixasse martirizar; que seria tudo isso em compensação do sangue e da vida que o grande Filho de Deus sacrifícios por nós? Se nós nos entregássemos cada instante à morte, de certo nada seria em compensação do amor que Jesus Cristo nos mostrou em se dando a nós no Santíssimo Sacramento. Um Deus esconder-se sob as espécies de um pouco de pão e fazer-se o sustento de suas criaturas!

Mas, ó céus! Como é que os homens reconhecem e recompensam o amor de Jesus Cristo? Como? Com ultrajes, desprezo de suas leis e doutrinas; numa palavra, com injúrias tais, que não as haviam de fazer nem a um inimigo ou escravo, nem ao homem mais abjeto do mundo. – poderemos pensar em todos os ultrajes que Jesus Cristo tem recebido e ainda recebe todos os dias, sem que nos compadeçamos dele, sem que procuremos compensar com nosso amor o amor imenso de seu divino Coração que no Santíssimo Sacramento arde do mesmo amor para conosco, desejoso de nos comunicar seus bens, de se dar todo a nós, disposto a acolher-nos em seu Coração cada vez que a ele recorramos? Qui venit ad me, non eiciam foras (1) – “O que vem a mim, não o lançarei fora”.

Estamos habituados a ouvir falar em Coração, Encarnação, Redenção, em Jesus nascido numa gruta,  em Jesus morto na cruz. Ó Deus! Se algum homem nos tivesse prestado um destes benefícios, ser-nos-ia impossível não o amar. Só Deus, por assim dizer, é tão desditoso, que, apesar de não saber mais que fazer para ser amado dos homens, não pode conseguir o seu intento: em vez de amado, é ultrajado e desprezado. Tudo provem de que os homens se esquecem do amor de Deus.

II. Coração do meu Jesus, abismo de misericórdia e amor, à vista de vossa bondade comigo e de minha ingratidão, como é possível não morrer eu e consumir-me de dor? Ó meu Salvador, depois de me haverdes dado o ser, ainda me destes todo o vosso sangue e a vida e Vós entregastes por amor de mim aos opróbrios e à morte. Não contente disto, inventastes o meio de Vos sacrificar todos os dias por mim na santíssima Eucaristia, não recusando expor-Vos às injúrias que deveis receber (como de antemão o sabíeis) neste Sacramento de amor. Ó céu! Como posso ver-me tão ingrato a vosso respeito sem expirar de confusão?

Ah Senhor! Ponde termo às minhas ingratidões, feri meu coração com vosso santo amor, e fazei que seja todo vosso. Lembrai-Vos das lágrimas e do sangue que derramastes por meu amor, e perdoai-me. Não sejam para mim perdidas tantas dores. Apesar de me verdes tão ingrato e tão indigno de vosso amor, não me deixastes de amar, ainda quando eu Vos não amava, nem desejava ser amado de Vós; quanto, pois, não devo esperar vosso amor, agora que desejo unicamente Vos amar e ser de Vós amado?

Por piedade, contentai plenamente meu desejo; ou antes o vosso desejo, já que sois Vós que m´o inspirais. Seja o dia de hoje o da minha inteira conversão, começando desde já a Vos amar, ó soberano Bem, para nunca cessar de o fazer. Fazei-me morrer completamente a mim mesmo e não viver mais senão para Vós, arder sempre no vosso santo amor e reproduzir em mim as vossas belas virtudes, especialmente a humildade e a mansidão no meio dos desprezos. † Ó Jesus, manso e humilde de Coração, fazei meu coração semelhante ao vosso (2).

– Ó Maria, vosso coração foi o feliz altar em que ardeu sem cessar o fogo do divino amor.

– Minha terna Mãe, fazei meu coração semelhante ao vosso. Rogai por mim a vosso Filho, que se compraz em vos honrar, não recusando coisa alguma que lhe pedis.

Referências:

(1) Jo 6, 37
 (2) Indulg. de 100 dias


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 170-172)

Santo do dia

26 de junho: São João e São Paulo, mártires (362)

Viver para Deus e, se necessário, morrer por Ele, é o dever de um verdadeiro cristão. Estamos nessa disposição?


João e Paulo eram dois irmãos de alta família; viviam em Roma e ocupavam posições muito honrosas na casa principesca de Constança, filha de Constantino; eram notáveis ​​por suas obras de piedade e por sua grande caridade para com os pobres.


Quando Juliano, o Apóstata, ascendeu ao trono, eles renunciaram a todos os seus cargos e se retiraram para sua casa no Monte Coelia, partes das quais foram recentemente consideradas muito interessantes e bem preservadas, sob a antiga igreja construída em sua homenagem e administrada hoje pelos Passionistas.


Juliano, tão sedento por ouro quanto pelo sangue dos cristãos, resolveu confiscar os bens dos dois irmãos, que haviam se recusado a servi-lo. Convidou-os a comparecer à sua corte, como no tempo de Constantino e seus filhos; mas eles se recusaram a se comunicar com um apóstata. Dez dias de reflexão foram-lhes concedidos; aproveitaram-se disso para se prepararem para o martírio por meio de obras de caridade. Venderam tudo o que puderam de suas propriedades e distribuíram aos pobres dinheiro, roupas e móveis preciosos, preferindo não ver todos esses bens caírem nas mãos de um homem tão ganancioso quanto ímpio; então, passaram o resto do tempo em oração e fortalecendo os fiéis na resolução de morrer por Jesus Cristo em vez de abandonar a religião. No décimo dia, o enviado do imperador os encontrou em oração e prontos para sofrer qualquer coisa por sua fé: "Adore Júpiter", disse-lhes, presenteando-os com um pequeno ídolo dessa divindade.


"Deus nos livre", responderam eles, "de adorarmos um demônio! Que Juliano nos ordene fazer coisas úteis ao bem do Estado e de sua pessoa: esse é seu direito; mas que ele nos ordene adorar simulacros de homens perversos e impuros, isso está além de seu poder. Nós o reconhecemos como nosso imperador, mas não temos outro Deus além do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que são um só Deus em três pessoas." O mensageiro, vendo que não conseguia abalar a coragem invencível deles, ordenou que cavassem uma cova em seu jardim; mandou decapitá-los durante a noite em sua própria casa e depois enterrá-los secretamente.


O imperador, temendo que essa execução despertasse a reprovação de Roma, espalhou o rumor de que os havia enviado para o exílio; mas os demônios publicaram sua morte e triunfo, e o executor das ordens de Juliano, depois de ver seu filho liberto do demônio pela intercessão dos mártires, converteu-se com sua família.


Basílica dos Santos João e Paulo em Roma (Itália)



terça-feira, 24 de junho de 2025

Santo do dia

25 DE JUNHO: SÃO GUILHERME, ABADE (1085)


Nasceu em Vercelli, na Itália. Fundou no Montevergine um Mosteiro de Beneditinos Eremitas. Operou muitos milagres.


A França foi a terra natal deste santo. São Guilherme  pertenceu a  classe militar e na mocidade  não teve uma vida muito de acordo  com as leis da  moral cristã. Guilherme nasceu em Vercelli, no ano de 1085, de uma rica família da nobreza francesa. Aos quinze anos, já vestia o hábito de monge e era um fervoroso peregrino.

 Percorreu toda a Europa visitando os santuários mais famosos e sagrados, pretendendo tornar-se um simples monge peregrino na Terra Santa. Foi dissuadido ao visitar, na Itália, João de Matera, hoje santo, que lhe disse, profeticamente, que Deus não desejava apenas isso dele. Contribuiu também, para sua desistência, o fato de ter sido assaltado por ladrões de estrada, que lhe aplicaram uma violenta surra. 

O incidente acabou levando-o a procurar a solidão na região próxima de Avellino, na montanha de Montevergine. Era uma terra habitada apenas por animais selvagens, onde, segundo a tradição, um lobo teria matado o burro que lhe servia de transporte. Guilherme, então, teria domesticado toda a matilha, que passou a prestar-lhe todo tipo de auxílio. Vivia como eremita, dedicando-se à oração e à penitência, mas isso durou pouco tempo. Logo começou a ser procurado por outros eremitas, religiosos e fiéis. Acabou fundando, em 1128, um mosteiro masculino, o qual colocou sob as regras beneditinas e dedicou a Maria, ficando conhecido como o Mosteiro de Montevergine.

 Dele Guilherme se tornou o abade, todavia por pouco tempo, pois transmitiu o cargo para um monge sucessor e continuou peregrinando. Entretanto tal procedimento se tornou a rotina de sua vida monástica. Guilherme acabou fundando um outro mosteiro beneditino, dedicado a Maria, em Monte Cognato. Mais uma vez se encontrou na posição de abade e novamente transmitiu o posto ao monge que elegeu para ser seu sucessor. Desejando imensamente a solidão, foi para a planície de Goleto, não muito distante dali, onde, por um ano inteiro, viveu dentro do buraco de uma árvore gigantesca. E eis que tornou a ser descoberto e mais outra comunidade se formou ao seu redor. Dessa vez teve de fundar um mosteiro "duplo", ou seja, masculino e feminino. Contudo criou duas unidades distintas, cada uma com sua sede e igreja própria. E foi assim que muitíssimos mosteiros nasceram em Irpínia e em Puglia, como revelou a sua biografia datada do século XII. 

Desse modo, ele, que desejava apenas ser um monge peregrino na Terra Santa, fundou a Congregação Beneditina de Montevergine, que floresceu por muitos séculos. Somente em 1879 ela se fundiu à Congregação de Montecassino. Guilherme morreu no dia 25 de junho de 1142, no mosteiro de Goleto. Teve os restos mortais transferidos, em 1807, para o santuário do Mosteiro de Maria de Montevergine, o primeiro que ele fundara, hoje um dos mais belos santuários marianos existentes. Em 1942, o papa Pio XII canonizou-o e declarou são Guilherme de Vercelli Padroeiro principal da Irpínia.

Santo do dia

25 de junho: São Próspero da Aquitânia, Doutor da Igreja (466)

Estejamos atentos a qualquer novidade em matéria de doutrina; permaneçamos constantemente ligados ao centro da fé e nunca nos desviemos dos ensinamentos da Igreja.


São Próspero nasceu na Aquitânia no início do século V; nós o conhecemos sobretudo por suas excelentes obras, pois este homem erudito parece ter passado a vida de pena em punho, em controvérsias contra hereges. Ele evidentemente se dedicou ao estudo da literatura e, especialmente, à compreensão da Sagrada Escritura. Em Próspero, a ciência se uniu à virtude, e um autor contemporâneo, enchendo-o de grandes elogios, o chama de homem santo e venerável. Os semipelagianos, em particular, tinham nele um de seus adversários mais formidáveis.

Sua erudição e santidade o tornaram famoso em toda a Igreja, e São Leão Magno, que conhecia seus méritos, mal foi elevado ao pontificado supremo, atraiu Próspero a Roma para torná-lo seu secretário e usá-lo, como São Dâmaso fizera com São Jerônimo, para responder às perguntas que lhe eram dirigidas por todo o universo cristão. Vários historiadores chegam a acreditar que a essência da admirável carta de São Leão sobre a Encarnação do Verbo foi composta por São Próspero, e que o grande Papa apenas acrescentou seu estilo a ela.

O santo não era menos habilidoso nas ciências humanas do que nas ciências eclesiásticas, especialmente em matemática, astronomia e cronologia. Tudo indica que Próspero não era bispo nem padre; mas, como passou a vida combatendo heresias, defendendo as verdades da religião e esclarecendo o grande e difícil mistério da graça, a Igreja lhe concedeu um lugar entre seus Padres e Doutores.



Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: 8º Dia da Novena ao Sagrado Coração de Jesus

 Coração agradecido de Jesus

Coração de Jesus apresentado à Santa Margarida Maria

Omnis qui reliquerit domum, vel fratres… propter nomen meum, centuplum accipiet, et vitam aerternam possidebit – “Todo aquele que deixar por amor de meu nome a casa ou os irmãos, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna” (Mt 19, 29)

Sumário. É tão agradecido o Coração de Jesus, que não pode ver qualquer obra, por pequena que seja, mas feita por seu amor, sem a recompensar nesta vida ou na outra. Apesar disso, os homens, que se mostram gratos até aos animais, são tão ingratos para com Deus, depois de receberem dele tão grandes benefícios. Parece de certo modo que os benefícios de Deus mudam de natureza e se tornam vexames, porque em vez de gratidão e amor, lhe retribuem ofensas e injúrias. Como é que nós até ao presente havemos correspondido à divina beneficência?… Como lhe corresponderemos para o futuro?


I. É tão agradecido o Coração de Jesus, que não pode ver uma obra qualquer nossa feita por seu amor, uma palavra qualquer dita para sua glória, um bom pensamento refletido para sua complacência, e não dar a cada qual a devida recompensa. Mais: Ele é tão agradecido, que dá sempre cento por um: Centuplum accipiet. – Os homens, sendo gratos e querendo recompensar um benefício recebido, recompensam-no uma vez; cumprem, como se diz, a sua obrigação e depois não pensam mais nisso. Não é assim que Jesus Cristo faz conosco; cada ação boa por nós praticada afim de Lhe dar o gosto, é por Ele não somente recompensada ao cêntuplo na vida presente, mas ainda lá na outra vida recompensa-a infinitas vezes em cada instante da eternidade: quem, pois, não se esmerará em contentar, quanto possa, a um Coração tão agradecido?


Mas, ó céu! Como se aplicam os homens a agradarem a Jesus Cristo? Ou, digamos antes, como podemos nós ser tão ingratos para com o nosso Salvador? Se por nossa salvação ele não tivesse derramado senão uma só gota de sangue, uma só lágrima, ficar-Lhe-íamos infinitamente obrigados, porque aquela gota de sangue, aquela lágrima teriam tido aos olhos de Deus um valor infinito para nos obter toda graça. Jesus, porém, quis despender por nós todos os instantes da sua vida, deu-nos todos os seus merecimentos, todas as suas penas e ignomínias, todo o sangue e a vida, de modo que temos, não somente uma, senão mil obrigações para o amarmos.


Mas, infelizmente, nós somos gratos, até aos animais; se um cachorrinho nos faz alguma festa, parece que nos constrange a amá-lo; como podemos então ser tão ingratos para com Deus? Parece que os benefícios de Deus, quando prestados aos homens, mudam de natureza e se tornam vexames; porquanto Deus, em vez de gratidão e amor, só aufere deles ofensas e injúrias. Iluminai, ó Senhor, esses ingratos, afim de que reconheçam o amor que lhes tendes.


II. Ó meu amado Jesus, eis aqui a vossos pés um ingrato. Tenho sido grato para com as criaturas e ingrato somente para convosco. Para convosco, digo, que morrestes por mim, e não pudestes fazer mais afim de me obrigar a amar-Vos. O que me consola e anima é que estou tratando com um Coração de Bondade e misericórdia infinita, que promete esquecer todas as ofensas do pecador que se arrepende e o ama.


Meu querido Jesus, no passado eu Vos ofendi e Vos desprezei; mas agora amo-Vos sobre todas as coisas, mais que a mim mesmo. Fazei-me saber o que de mim desejais; estou pronto a fazê-lo com a vossa graça. Creio que sois meu Criador, que por meu amor destes vosso sangue e vida; creio também que por meu amor Vos quisestes ficar no Santíssimo Sacramento. Graças Vos sejam dadas, ó amor meu! Por piedade, não permitais que para o futuro eu seja ainda ingrato por tantos benefícios e tantas provas de vosso amor. Ligai-me, prendei-me a vosso Coração e não permitais que no tempo de vida que me resta torne a Vos desgostar e amargurar. Já basta de ofensas, ó meu Jesus, quero agora amar-Vos.


Oxalá pudessem voltar os anos perdidos! Mas, infelizmente, eles não voltam mais e breve será a vida que ainda me resta. Mas, meu Deus, quer seja breve, quer seja longa, quero empregá-la toda em Vos amar, ó Bem supremo, digno de um amor eterno e infinito. Quero empregá-la para que também os outros Vos amem. † Amado seja em toda parte o Sagrado Coração de Jesus (1). “Louvado, adorado, amado, agradecido e venerado seja a todo o instante o Coração eucarístico de Jesus em todos os tabernáculos do mundo, até à consumação dos séculos. Assim seja (2).


Melhores presentes para os seus entes queridos

– Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe, Maria, obtende-me a força para ser fiel a estes meus propósitos e não permitais que novamente eu seja ingrato para convosco e para com vosso Filho.


Referências:


(1) Indulg. de 100 dias

 (2) Indulg. de 100 dias


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 167-170)

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

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