sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Santo do dia

Segundo as palavras de Santo Inácio, somos o trigo de Cristo, por ele semeado no sulco da Igreja, regado com o seu sangue e fecundado pela sua graça. Amadureçamos, portanto, ao sol da sua caridade, e não nos queixemos de ser esmagados pela pedra das provações, para nos tornarmos pão celeste.


1º de fevereiro: Santo Inácio de Antioquia, patriarca de Antioquia e mártir (107)

Alguns autores asseguram que Inácio foi esta criança que Nosso Senhor colocou entre os Apóstolos quando, para lhes dar uma lição de humildade, lhes disse: Se não vos tornardes como as crianças, nunca entrareis no reino dos céus. O certo é que foi amigo dos primeiros discípulos do Salvador, ele próprio discípulo de São João, o Apóstolo amado.

Inácio foi um grande bispo, um homem de rara santidade; mas a sua glória está acima de todo o seu martírio. Levado perante o imperador Trajano, foi submetido a um longo interrogatório:

“Então é você, demônio feio, quem insulta nossos deuses?

- Ninguém além de você jamais chamou Theophore de demônio mau.

– O que você quer dizer com esta palavra Teóforo?

-- Aquele que carrega Jesus Cristo no coração.

– Você então acredita que não carregamos nossos deuses em nossos corações?

--Seus deuses! Eles são apenas demônios; só existe um Deus Criador, um só Jesus Cristo, Filho de Deus, cujo reinado é eterno.

-- Sacrifício aos deuses, farei de você pontífice de Júpiter e pai do Senado.

-Suas honras não são nada para um sacerdote de Cristo.

Trajano, irritado, manda levá-lo para a prisão. “Que honra para mim, Senhor”, exclama o mártir, “ser acorrentado por amor a Ti!” e ele apresenta as mãos às correntes, beijando-as nos joelhos.

O interrogatório do dia seguinte terminou com estas belas palavras de Inácio: “Não farei sacrifícios; não temo nem o tormento nem a morte, porque estou ansioso por ir para Deus”.

Condenado às feras, foi levado de Antioquia para Roma via Esmirna, Trôade, Óstia. Sua passagem foi um triunfo em todos os lugares; ele fez lágrimas de dor e admiração correrem por toda parte:

"Vou para a morte com alegria, ele poderia dizer. Deixe-me servir de alimento para os leões e os ursos. Eu sou o trigo de Deus; devo ser moído diante de seus dentes para me tornar um pão digno de Jesus. Cristo. Nada me toca , tudo me é indiferente, exceto a esperança de possuir meu Deus. Que o fogo me reduza a cinzas, que eu expire na forca de uma morte infame apenas sob os dentes de tigres furiosos. dos leões famintos todo o meu corpo seja esmagado; deixe os demônios se reunirem para esgotar sua raiva sobre mim: sofrerei tudo com alegria, desde que desfrute de Jesus Cristo. Que linguagem e que amor!

Santo Inácio, devorado por um leão, repetiu o nome de Jesus até o último suspiro. Restaram apenas alguns ossos de seu corpo que foram transportados para Antioquia.

Igreja de Santo Inácio all'Olivella em Palermo (Itália)

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I

Da confiança em Maria, Rainha de misericórdia

Salve Rainha, Mãe de Misericórdia!
Salve Rainha, Mãe de Misericórdia!

Positusque est thronus matri regis, quae sedit ad dexteram eius – “Foi posto um trono para a mãe do rei, a qual se assentou à sua mão direita” (1 Rs 2, 19)

Sumário. O ofício da Santíssima Virgem no céu é compadecer-se dos miseráveis e socorrê-los, pois que exatamente para este fim o Senhor a constituiu Rainha de Misericórdia. Se nos quisermos salvar, recorramos com confiança a esta amada Mãe. A nossa confiança deve ser tanto maior quanto mais profunda for a nossa miséria, porque os miseráveis são destinados a ser a sua coroa de glória no paraíso. É, porém, mister que tenhamos a vontade de nos emendarmos.

I. Depois que a grande Virgem Maria foi elevada à dignidade de Mãe do Rei dos reis, com justa razão a santa Igreja a honra e quer que todos a honrem, com o título glorioso de Rainha. Mas, não somente de Rainha, senão de Rainha de misericórdia; porque ela é toda doce, clemente e inclinada a fazer bem a nós miseráveis: Salve, Rainha, Mãe de misericórdia! Considerando João Gerson as palavras de Davi: duo haec audivi, etc. (1) — “estas duas coisas tenho ouvido”, diz que, consistindo o reino de Deus na justiça e na misericórdia, o Senhor o dividiu. O reinado da justiça, reservou-o para si, e o reinado da misericórdia, cedeu-o a Maria, ordenando que todas as misericórdias que se concedessem aos homens, passassem pelas mãos de Maria e se distribuíssem a seu arbítrio, de sorte que o oficio da Virgem no céu é compadecer-se dos miseráveis a aliviá-los.

Na Sagrada Escritura se lê que a rainha Ester, com medo de irritar o seu esposo Assuero, se recusou a interceder junto dele a fim de que revocasse a sentença de morte pronunciada contra os Judeus. Mas Mardoqueu repreendeu-a e mandou dizer-lhe que não pensasse só em salvar-se a si, pois o Senhor a tinha posto sobre o trono para bem de todo o seu povo (2).

Não há perigo de que a nossa Rainha Maria jamais se recuse a ajudar os seus filhos; mas se em tempo algum ela recusasse alcançar-nos de Deus o perdão do castigo, de nós bem merecido, poderíamos também dizer-lhe: Ne putes, quod animam tuam tantum liberes — Não cuideis, Senhora, que Deus vos elevou a ser Rainha do mundo só para bem vosso, senão também a fim de que, elevada tão alto, possais compadecer-vos mais dos miseráveis e socorrer a todos os homens que a vós recorrem: quia in domo regis es prae cunctis hominibus.

II. Refugiemo-nos, pois, mas refugiemo-nos sempre aos pés da nossa dulcíssima Rainha, se seguramente nos queremos salvar. Se nos espanta e nos desanima a vista dos nossos pecados, lembremo-nos que Maria foi feita Rainha de misericórdia a fim de salvar com a sua proteção aos mais perdidos pecadores que a ela se recomendar. Estes hão de ser a sua coroa no céu, como disse o seu divino Esposo; coroa bem digna e própria da Rainha da misericórdia: Coronaberis de cubilibus leonum, de montibus pardorum (3).

Ó Maria, eis aqui a vossos pés um miserável escravo do inferno, que vos pede misericórdia. É verdade que não mereço nenhum favor; mas vós sois Rainha de misericórdia, e a misericórdia é para aquele que não a merece. Todo o mundo vos chama o refúgio e a esperança dos pecadores; sois, portanto, também o meu refúgio e a minha esperança. Sou como ovelha desgarrada, mas foi para salvação das ovelhas desgarradas que o Verbo Eterno desceu do céu e se fez vosso Filho; Ele quer que eu a vós recorra e que vós me socorrais com as vossas orações.

Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis! Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós! Ó grande Mãe de Deus que por todos rogais, rogai a vosso Filho também por mim! Dizei-Lhe que sou devoto vosso e que vós me protegeis. Dizei-Lhe que em vós pus toda a minha esperança. Dizei-Lhe que me dê o perdão e que detesto todas as ofensas que lhe tenho feito. Dizei-Lhe que pela sua misericórdia me conceda a santa perseverança. Dizei-lhe que me dê a graça de amá-Lo de todo o meu coração. Dizei-Lhe, enfim, que me quereis ver salvo. Jesus faz tudo que vós lhe pedis. Ó Maria, esperança minha, em vós confio, tende piedade de mim.

Referências:

(1) Sl 61, 12
(2) Est 4, 13
(3) Ct 4, 8


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 188-190)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I

Jesus cresce em idade e em sabedoria e em graça

Et Iesus proficiebat sapientia et aetate et gratia apud Deum et homines – “E Jesus crescia em sabedoria, e em idade e em graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52)

Sumário. Posto que Jesus, desde o primeiro instante de sua vida, estivesse enriquecido de todos os carismas celestiais; contudo, crescendo em idade, crescia também em sabedoria, isso é, manifestava-a mais e mais. No mesmo sentido se diz que crescia em graça diante de Deus e dos homens. Nós também, com o progredir dos anos, devíamos ter crescido no amor, mas talvez tenha aumentado a nossa tibieza e culpabilidade. Imploremos o perdão do Senhor com o propósito de sermos para o futuro mais fervorosos.

I. Falando da morada do Menino Jesus na casa de Nazaré, diz São Lucas: Et Iesus proficiebat — “E Jesus crescia”. Assim como ia crescendo em idade, crescia também em sabedoria. Não como se Jesus adquirisse conhecimento mais perfeito das coisas, como nós; porquanto, desde o primeiro instante da sua vida, foi enriquecido de toda a ciência e sabedoria divina: In quo sunt omnes thesauri sapientiae et scientiae absconditi (1) — “No qual (Jesus) estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. Mas diz-se que crescia, porque com o correr dos anos ia manifestando mais e mais a sua sublime sabedoria.

E neste sentido também se diz que Jesus crescia em graça diante de Deus e dos homens. Diante de Deus, porquanto todas as suas ações divinas, posto que não Lhe aumentassem a santidade nem os merecimentos (visto que desde o princípio foi Jesus repleto de santidade e de merecimentos, de modo que de sua plenitude nós recebemos todas as graças: De plenitudine eius accepimus omnes (2), todavia as obras do Redentor, consideradas em si mesmas, eram suficientes para Lhe acrescentar graças e méritos. Jesus crescia também em graça diante dos homens, crescendo em beleza e amabilidade. Oh! Como Jesus se ia tornando sempre mais querido e amável em sua adolescência, dando sempre mais a conhecer as belas qualidades que o faziam tão amável! Com que alegria obedecia o santo Menino a Maria e José! Com que recolhimento de espírito trabalhava! Com que modéstia se alimentava! Com que moderação falava! Com que doçura e afabilidade conversava com todos! Com que devoção orava! Numa palavra, cada ação, cada palavra, cada movimento de Jesus Cristo abrasava e feria o coração de todos que o viam e em particular de Maria e José, que tinham a ventura de O ver sempre junto de si. Oh! Como estavam estes santos Esposos sempre atentos a contemplar e admirar todas as ações, palavras e movimentos do Homem-Deus!

II. Crescei, amável Jesus, crescei para mim. Crescei para me ensinar por vossos divinos exemplos as vossas belas virtudes. Crescei para consumar o sacrifício da cruz, do qual depende a minha salvação eterna. Oh meu Senhor, fazei com que eu também cresça cada vez mais no vosso amor e graça. No passado, ai! Cresci somente em ingratidão para convosco, que tanto me haveis amado. Fazei, ó meu Jesus, com que no futuro seja o contrário; Vós conheceis a minha fraqueza; Vós deveis dar-me luz e força. Fazei com que eu compreenda quanto mereceis ser amado. Vós sois um Deus de infinita beleza e de infinita majestade, que não recusastes descer do céu, para vos fazerdes homem e levardes por nosso amor uma vida desprezada e penosa, terminada por uma morte tão cruel. Onde poderíamos achar amigo mais amável e mais amante?

Insensato que sou! No passado não vos quis conhecer e por isso Vos perdi. Peço-Vos perdão, já que de toda a minha alma me arrependo e tomo a resolução de ser todo vosso. Mas, ó meu Jesus, ajudai-me; recordai-me sem cessar a vida penosa e a morte dolorosa que sofrestes por meu amor. Dai-me luz e dai-me força. Quando o demônio me apresentar algum fruto vedado, dai-me firmeza para desprezá-lo; não permitais, que por qualquer gozo vil e passageiro eu Vos perca, ó Bem infinito. Amo-Vos, ó meu Jesus, morto por mim; amo-Vos, ó Bondade infinita; amo-Vos, ó amante da minha alma. — Ó Maria, sois vós a minha esperança; é pela vossa intercessão que espero obter a graça de amar a meu Deus de hoje em diante para sempre, e de nunca mais amar outra coisa que não seja Deus.

Referências:

(1) Cl 2, 3
(2) Jo 1, 16

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 186-188)

Santo do dia



 31 de janeiro: São João Bosco, presbítero ( 1815-1888 )


Jean Bosco nasceu em 1815 em uma vila no Piemonte. Seus pais eram camponeses pobres; mas sua mãe, viúva e mãe de três filhos, era uma mulher santa. O caráter jovial de Jean lhe deu uma grande influência sobre as crianças de sua idade. Ele os atraiu com suas maneiras gentis e intercalou com eles entretenimento e oração. Dotado de uma memória extraordinária, ele gostava de repetir para eles os sermões que ouvia na igreja. Esses foram os primeiros sinais de sua vocação apostólica. Seu coração, apoiado pelo de sua mãe e por um bom e velho padre, aspirava ao sacerdócio. A pobreza, ao forçá-lo a fazer trabalhos manuais, parecia impedi-lo de estudar. Mas, pela graça de Deus, sua coragem e inteligência aguçada superaram todos os obstáculos.


Em 1835 foi admitido no seminário maior. "João", disse-lhe sua mãe, "lembre-se de que o que honra um clérigo não é seu hábito, mas sua virtude. Quando você veio ao mundo, eu o consagrei a Nossa Senhora; no início de seus estudos, recomendei que você fosse Seu filho; seja Dela mais do que nunca, e faça com que Ela seja amada ao seu redor."


No seminário maior, como na aldeia e no colégio, João Bosco preludiou sua missão de apóstolo da juventude e deu aos seus colegas o exemplo do trabalho e da virtude na alegria. Sacerdote em 1841, veio para Turim. Comovido pelo espetáculo das misérias físicas e espirituais da juventude abandonada, ele reunia, aos domingos, alguns vagabundos, a quem instruía, moralizava, fazia rezar, ao mesmo tempo em que lhes proporcionava honestas distrações. Mas esse trabalho dominical não era suficiente para manter a vida cristã, nem mesmo a vida corporal, dessas pobres crianças.


João Bosco, embora privado de todos os recursos, comprometeu-se a abrir um asilo para os mais necessitados. Ele comprou uma casa por 30.000 francos, pagáveis ​​em quinze dias. "O quê!", disse sua mãe, que havia se tornado sua assistente, "mas você não tem um centavo no bolso!" -- "Venha!", retomou o filho, "se você tivesse dinheiro, você me daria algum? Bem, mãe, você acredita que a Providência, que é infinitamente rica, é menos boa do que você?"


Este é o tesouro divino de fé, esperança e caridade, do qual João Bosco, apesar de todas as dificuldades humanas, nunca deixou de haurir, para fundar as suas duas Sociedades Salesianas de Religiosos e Religiosas, a primeira das quais ultrapassa os 8.000 em número, e a segunda segundo a de 6.000, com estabelecimentos de caridade multiplicados hoje em todo o mundo.

Foto de São João Bosco em Barcelona em 1886


Corpo de São João Bosco, santuário de Maria Auxiliadora em Turim (Itália)


31 DE JANEIRO SÃO JOÃO BOSCO - CONFESSOR


João Bosco, nascido num local humilde em Caltelnuovo, em Asti, e, perdendo o pai, foi bem santissimamente educado pela mãe; desde a primeira idade se previa a maravilha de Santo que haveria de ser. De caráter manso e inclinado à piedade, gozava de uma especial autoridade entre os seus pares, entre os quais ele, maduramente, resolvia as brigas, acabava com as rixas, e combatia as palavras torpes e jogos lascivos. Ocupava-se com eles atraindo-os com seu modo gracioso de falar, inserindo-os nas orações por meio de brincadeiras, repetindo-lhes a doutrina sagrada que ouvia na igreja com um admirável número de doces sermões, e instigando os menininhos a, o quanto antes e amiúde, frequentar os sacramentos da Penitência e Eucaristia. Sendo modesto no falar e na aparência, atraía todos a si pela beleza dos seus costumes e pela candura da sua inocentíssima vida. Entretanto, devido à penúria da família, passou toda uma adolescência de trabalhos e tribulações, nos quais, porém, sempre esteve alegre e em Deus confiando que se tornaria sacerdote.


Feitos os votos, esteve primeiro na cidade de Chieri, e depois na Augusta de Turim, sendo seu mestre São José Cafasso, com grande aplicação, fez progressos na ciência dos santos, e no aprendizado de teologia moral. Aí também, sua vontade se inclinava, como por uma inspiração sobrenatural, a dedicar-se aos jovens, para ensinar-lhes os rudimentos da doutrina cristã. Quando o número deles cresceu, fundou, com inspiração celestial, uma sede estável para reuni-los, na cidade chamada Valdocco, tendo de superar ásperas e quotidianas dificuldades, e gastava todas as suas energias nisso. Um pouco depois, com o auxílio da Virgem Mãe de Deus, que lhe aparecera quando criança, revelando-lhe o seu futuro, João fundou a Sociedade dos Salesianos, cujo principal fim fosse ganhar para Cristo as almas dos jovens; fondou ainda uma outra congregação, de virgens consagradas, chamada de Nossa Senhora Auxiliadora, para dirigir as jovens nos caminhos do Senhor; por fim, fundou a Ordem Terceira dos Cooperadores, para, com zelo e piedade, ajudar na obra Salesiana. Assim, em breve tempo, fez grandes contribuições tanto à sociedade cristã quanto à civil.

Cheio de zelo pelas almas, ele não se poupava nenhum trabalho e nenhum gasto para construir centros recreacionais para os jovens, orfanatos, escolas para crianças trabalhadoras, escolas e casas para a instrução dos jovens, e igrejas longe e largamente pelo mundo. Ao mesmo tempo, ele não cessou de espalhar a Fé por todo o país Subalpino, por palavra e pelo exemplo, e por toda a Itália, escrevendo e editando bons livros e distribuindo-os, e nas missões estrangeiras, às quais enviou numerosos pregadores. Um homem simples e reto, inclinado a toda boa obra, ele brilhou em todas as virtudes, principalmente por sua intensa e ardente caridade. Com a alma sempre aplicada a Deus, e agraciada com dons celestiais, esse santo homem de Deus não tinha medo das ameaças, nem se cansava com o trabalho, nem era oprimido pelos cuidados, nem se perturbava pela adversidade. Ele recomendou três obras de piedade aos seus seguidores: receber tão frequentemente quanto possível os sacramentos da Penitência e da Santa Eucaristia, cultivar a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora, e ser um fidelíssimo filho do Soberano Pontífice. Também deveria ser mencionado que João Bosco, nas circunstâncias muito difíceis, ia ao Papa mais de uma vez, para consolá-lo nos males vindos de leis que naquele tempo foram promulgadas contra a Igreja. Com uma vida de tantas realizações, ele morreu no dia 31 de janeiro de 1888. Ilustre por seus muitos milagres, o Sumo Pontífice, Pio XI, beatificou-o em 1929. Cinco anos depois, no dia solene da Páscoa, no nongentésimo aniversário da Redenção do gênero humano, ele foi canonizado, em meio a uma multidão vinda a Roma de todas as partes do mundo.


MISSAL QUOTIDIANO COMPLETO / EM PORTUGUÊS com o próprio do Brasil edição B - editado e impresso nas oficinas tipográficas do Mosteiro de São Bento / Bahia, 23 de dezembro de 1957. Pág 422.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I

 Jesus na casa de Nazaré

Sagrada Família, modelo de família cristã
Jesus, durante seus 30 anos de vida serviu e ajudou com humildade a seus pais

Descendit (Iesus) cum eis, et venit Nazareth, et erat subditus illis – “Desceu (Jesus) com eles, e veio para Nazaré e lhes estava sujeito” (Lc 2, 51)

Sumário. De volta do Egito, São José foi para a Galiléia e fixou a sua morada na pobre casa de Nazaré. Foi portanto ali que o Filho de Deus passou na obscuridade e no desprezo o resto de sua infância e mocidade, até a idade de trinta anos, a fim de nos ensinar a vida humilde, recolhida e oculta. E apesar disso há tantos cristãos tão orgulhosos, que só ambicionam ser vistos e honrados!… Examinemo-nos, se por ventura somos do número desses ambiciosos.

I. Quando São José voltou para a Palestina, soube que Arquelau reinava na Judéia, no lugar de seu pai Herodes. Teve, pois, medo de ir para lá, e avisado em sonho, retirou-se para Nazaré, cidade da Galiléia, onde fixou sua morada numa pobre casa. Ó ditosa casa de Nazaré, eu te saúdo e te venero! Há de chegar um tempo em que serás visitada pelas primeiras grandezas da terra. Quando os romeiros se virem dentro de ti, não se saciarão de derramar lágrimas de ternura, lembrando-se que é dentro das tuas pobres paredes que o Rei do céu passou quase toda a sua vida.

É naquela casa que o Verbo Encarnado viveu o resto de sua infância e da sua mocidade. E como viveu? Viveu pobre e desprezado pelos homens, qual simples oficial e obedecendo a Maria e José: et erat subditus illis — “e lhes estava sujeito”. Ó Deus! Que ternura se experimenta em pensar que naquela pobre casa o Filho de Deus faz o ofício de criado! Ora vai buscar água, ora abre ou fecha a loja, ora varre a casa, ora ajunta as achas para o fogo, ora afadiga-se ajudando José em seus trabalhos. Ó assombro! Ver um Deus que varre a casa! Um Deus que faz o ofício de servente! Ó pensamento que devia abrasar a todos em santo amor para com um Redentor que tanto se abaixou para se fazer amar por nós!

Adoremos todas essas ações humildes de Jesus, porquanto foram todas divinas. Adoremos sobretudo a vida oculta e desprezada que Jesus Cristo levou na casa de Nazaré. Ó homens orgulhosos, como podeis ter a ambição de serdes vistos e honrados vendo o vosso Deus que passa trinta anos de sua vida em pobreza, oculto e ignorado, para vos ensinar o recolhimento e a vida humilde e oculta?

II. Ó Menino adorado! Eu Vos vejo, qual humilde operário, trabalhar e suar numa pobre oficina. Já entendo: é para mim que Vos abateis e fatigais de tal sorte. Assim como empregastes toda a vossa vida por amor de mim, fazei, ó meu amado Senhor, que eu empregue também por vosso amor o que ainda me resta de vida. Não considereis a minha vida passada, que tanto para mim como para Vós tem sido uma vida de dor e de lágrimas, uma vida desregrada, uma vida de pecados. Permiti, ó Jesus, que a Vós me associe nos dias que ainda me restam, deixai-me trabalhar e sofrer convosco na oficina de Nazaré e depois morrer convosco no Calvário, abraçando a morte que me destinastes.

Ó meu amadíssimo Jesus, meu amor, não permitais que eu Vos deixe e Vos abandone novamente, como fiz outrora. Vós, ó meu Deus, vivestes oculto, ignorado e desprezado, e sofrestes numa oficina em tão grande pobreza, e eu, verme desprezível, andei atrás das honras e prazeres, e por eles me separei de Vós, Bem supremo! Agora, porém, ó meu Jesus, eu Vos amo; e porque Vos amo, não quero mais viver longe de Vós. Renuncio a tudo o mais para unir-me a Vós, ó meu Redentor, oculto e humilhado por mim. Com a vossa graça me dais mais contentamento do que jamais me têm dado todas as vaidades e prazeres da terra, pelos quais tive a desgraça de Vos deixar.

Ó Virgem Santíssima, que ditosa sois por haverdes acompanhado vosso Filho na sua vida pobre e oculta, e vos terdes assim feito semelhante ao vosso Jesus. Minha Mãe, fazei que eu também, ao menos pelo pouco tempo de vida que me resta, me torne semelhante a vós e a meu Redentor.

— “E Vós, ó Pai Eterno, que pelo mistério da Encarnação do Verbo consagrastes misericordiosamente a casa da Bem-aventurada Virgem Maria, e a colocastes maravilhosamente no seio da vossa Igreja, concedei-nos que, afastados dos tabernáculos dos pecadores, mereçamos habitar em vossa santa Casa, pelo mesmo nosso Senhor Jesus Cristo.” (1)

Referências:

(1) Or. Eccl.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 183-186)

Santo do dia

 Acostumada a comandar como uma rainha, Batilde não desdenha obedecer como a mais baixa das mulheres. Seguindo seu exemplo, abdiquemos de nossa própria vontade nas mãos de nossos superiores.

 

30 de janeiro: Santa Batilde, Rainha da França (680)


Santa Batilde nasceu na Inglaterra no século VI. Ainda jovem, após uma guerra, ela foi vendida como escrava e comprada por um preço baixo por um senhor da corte do rei franco Clóvis II. O jovem rei, encantado com as virtudes dela, tomou-a como esposa. Esta escolha providencial resultaria na glória da França.


Longe de se orgulhar da sua elevação, Bathilde preservou a simplicidade da sua vida no trono; mas ela revelou a mais nobre inteligência, as mais altas qualidades e uma dignidade à altura da sua situação. Serva humilde e conselheira prudente do marido, bispo amoroso como os seus pais e religiosos como os seus irmãos, generoso com os pobres, a quem cobria de esmolas, defensor dos desventurados, das viúvas e dos órfãos, fundador de mosteiros, um zelo extraordinário pela redenção dos cativos e da abolição da escravatura: tal foi, no trono, o digno emulador de Santa Clotilde.


No meio da corte, ela encontrou tempo para se dedicar à oração e para se dedicar a todos os deveres da piedade; desligada da grandeza deste mundo, ela apenas aspirava a voar livremente rumo aos deliciosos retiros de oração e meditação.


A morte do marido impôs-lhe novas obrigações e, durante a infância do jovem rei Clotário, seu filho, ela teve que carregar todo o peso da administração de um vasto reino. Se ela fez isso com grande sabedoria, não foi sem grandes provações. A sua virtude foi purificada na tribulação, e foi sem pesar que finalmente conseguiu libertar-se da regência e entrar como simples freira no mosteiro de Chelles, que ela havia fundado. Então, finalmente, ela pôde dedicar-se inteiramente à ação de graças e dedicar-se à prática das virtudes mais heróicas.


Nenhuma freira foi mais submissa, ninguém gostou mais dos trabalhos mais humildes, ninguém observou o silêncio com mais fidelidade; ela era admirável sobretudo por sua humildade e seu desprezo por si mesma. “Parece-me”, disse ela, “que a maior felicidade que pode me acontecer é ser pisada pelos pés de todos”. Quando ele morreu, em 680, suas irmãs viram sua alma subir ao Céu e ouviram os anjos celebrarem seu triunfo com doces harmonias.

Relicário de Santa Batilde, igreja de Santo André em Chelles (França)


Santo do dia


Santa Martinha, uma das padroeiras de Roma, era de família distinta. O pai, três vezes eleito cônsul, era possuidor das mais belas virtudes e afortunado. Martinha recebeu uma educação esmerada, baseada nos princípios do Cristianismo, mas teve a infelicidade de perder bem cedo os pais. Inflamada de amor a Jesus Cristo, deu todos os bens aos pobres, e fez voto de castidade.
Tinha o imperador Alexandre Severo (222-235) concebido o plano de exterminar os Galileus (assim alcunhava aos cristãos). Conhecendo a formosura, nobreza e bondade de Martinha, tudo fez para afastá-la da religião cristã e chegou até a oferecer a dignidade de Imperatriz, caso se decidisse sacrificar a Apolo.
Martinha respondeu:
“O meu sacrifício pertence a Deus imaculado; a Ele sacrificarei, para que confunda e aniquile a Apolo e, este deixe de perder almas”.
Alexandre Severo, interpretando esta resposta em seu favor, organizou uma grande festa no templo de Apolo, para onde levou Martinha, na presença dos sacerdotes e de muito povo. Os olhos de todos estavam dirigidos para a jovem que, no meio do grande silêncio que reinava, fez o sinal da cruz, elevou olhos e braços ao céu e disse em alta voz:
“Ó Deus e meu Senhor! Ouvi esta minha súplica e fazei com que se despedace este ídolo cego e mudo, para que todos, imperador e povo, conheçam, que só Vós sois o único Deus verdadeiro e que não é licito adorar senão a Vós!”
No mesmo instante a cidade inteira foi sacudida por um forte terremoto, a imagem de Apolo caiu do seu lugar; parte do templo ruiu por terra, sepultando nos escombros os sacerdotes e muita gente.
O imperador ordenou que Martinha fosse esbofeteada, flagelada e tivesse as carnes dilaceradas com torqueses. Os algozes porém não puderam cumprir a ordem, porque um Anjo de Deus defendia a donzela e esta, no meio dos maus tratos, entoava cânticos de louvor a Jesus Cristo e convidava os algozes a converterem-se à religião de Jesus. Deus abençoou-lhe as palavras: oito algozes caíram de joelhos, pediram perdão à Mártir e confessaram alto a fé em Jesus Cristo. O imperador, ainda mais enraivecido com este incidente, mandou levá-los todos ao cárcere, torturar barbaramente os oito algozes, os quais, por uma graça especial divina, ficando fiéis à fé, receberam a palma do martírio, pela decapitação.
No dia seguinte a “feiticeira” foi citada ao palácio do Imperador, que a recebeu com estas palavras: “Basta de embustes. Dize-me, para que eu saiba com quem estou tratando: Sacrificas aos deuses ou preferes aderir ao feiticeiro, ao Cristo?” Com santa indignação respondeu Martinha:
“Não admito que insultes a meu Deus! Se queres aplicar-me novas torturas, aqui estou; não as temo; pois sei que Deus me dá força”.
A resposta do imperador foi a condenação da Mártir a suplícios crudelíssimos e desumanos. Martinha, no meio das dores, glorificou a Deus e as feridas exalavam-lhe um suave perfume. Grande foi o espanto de Alexandre Severo ao ouvir, no dia seguinte, a notícia de que Martinha que se achava no cárcere, estava perfeitamente curada das feridas e não só isto: Os guardas viram, durante a noite, o cárcere iluminado por uma luz maravilhosa e ouviram, extasiados, cânticos celestiais. O furor do imperador chegou ao extremo. Não mais senhor de sua paixão, condenou Martinha às feras no anfiteatro, e fez timbre de achar-se entre os espectadores.

Martinha, de uma beleza sobrenatural encantadora, ajoelhada na “arena”, calma se achava à espera do leão. Este, o indómito rei do Saara, possante e belo em sua força, se anuncia com rugido aterrador e em dois saltos se acha ao lado da vítima. Como que, domado por uma força invisível, arroja-se aos pés de Martinha, manso como um cordeiro. De repente se levanta, e num salto medonho ganha a barreira, entrando no recinto dos espectadores, matando alguns deles. O pânico foi indescritível. O imperador, longe de convencer da intervenção divina na defesa da mártir, atribui o facto extraordinário às forças mágicas de Martinha, as quais, segundo sua opinião, teriam sua sede na rica cabeleira da Santa. Deu ordem para a rica cabeleira ser-lhe cortada imediatamente e a donzela, assim profanada, ser fechada no templo de Júpiter. Nos dois dias seguintes Alexandre Severo, acompanhado de sacerdotes e muito povo, se dirigiu ao templo. Não entrou, porém, porque teve a impressão de ouvir vozes masculinas e julgou que fossem os deuses, que se tivessem reunido para converter Martinha. Aberto o templo no terceiro dia, ao imperador apresentou-se um espetáculo estranho: Achavam-se derrubados ao chão todas as imagens dos deuses. À sua pergunta onde estava a estátua de Júpiter, Martinha respondeu sorrindo:
“Tendo ele que dar satisfação a Cristo, porque não salvou estes doze ídolos? Meu Deus entregou-o aos demônios, que dele fizeram o que vedes”.
Cheio de raiva por este escárnio, Severo ordenou que se despejasse banha fervente sobre o corpo de Martinha e a entregassem às chamas. Veio, porém, uma grande chuva apagar a fogueira. Restava então só a morte pela espada. Martinha aceitou a sentença, com toda submissão e gratidão para com Deus. Espontaneamente ofereceu a cabeça ao algoz, que a fez entrar nas eternas núpcias do Senhor Jesus.
Os cristãos apoderaram-se clandestinamente do corpo da Santa e sepultaram-no com todas as honras. As relíquias de Santa Martinha foram encontradas em 1634 e acham-se hoje na Igreja do mesmo nome, a qual se ergue perto do arco do triunfo de Severo.

Fonte: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.




 30 DE JANEIRO  SANTA MARTINHA - VIRGEM E MÁRTIR


O pai de Martinha era um homem público, eleito três vezes cônsul de Roma. Ele pertencia a nobreza, era muito rico e cristão. Quando a menina nasceu, no começo do século III, o acontecimento foi amplamente divulgado na corte, entre o povo e pelos cristãos, pois a pequena logo foi batizada.


Martinha cresceu em meio à essa popularidade, muito caridosa, alegre e uma devota fiel ao amor de Jesus Cristo. Com a morte de seu pai a jovem recebeu de herança duas fortunas: uma material, composta de bens valiosos e a outra espiritual, pois foi educada dentro dos preceitos do cristianismo. A primeira, ela dividiu com os necessitados assim que tomou posse da herança. A segunda, foi empregada com humildade e disciplina, na sua rotina diária de diácona da Igreja, na sua cidade natal.


Desde o ano 222, o imperador romano era Alexandre Severo, que expediu um decreto mandando prender os cristãos para serem julgados e no caso de condenação seriam executados. Chamado para julgar o primeiro grupo de presos acusados de praticar o cristianismo, o imperador se surpreendeu ao ver que Martinha estava entre eles e tentou afastá-la dos seus irmãos em Cristo. Mas ela reafirmou sua posição de católica e exigiu ter o mesmo fim dos companheiros. A partir deste momento começaram os sucessivos fatos prodigiosos que culminaram com um grande tremor de terra.


Primeiro, Alexandre mandou que fosse açoitada. Mas a pureza e a força com que rezou, ao se entregar à execução, comoveram seus carrascos e muitos foram tocados pela fé. Tanto que, ninguém teve coragem de flagelar a jovem. O imperador mandou então que ela fosse jogada às feras, mas os leões não a atacaram. Condenada à fogueira, as chamas não a queimaram. Martinha foi então decapitada. No exato instante de sua a execução a tradição narra que um forte terremoto sacudiu toda cidade de Roma. O relato do seu testemunho correu rápido por todas as regiões do Império, que logo atribuiu à santidade de Martinha, todos os prodígios ocorridos durante a sua tortura assim como o terremoto, ocasionando um sem-número de conversões.


No século IV, o papa Honório mandou erguer a conhecida igreja do Foro, em Roma, para ser dedicada à ela, dando novo impulso ao seu culto por mais quatrocentos anos. Depois, as relíquias de Santa Martinha ficaram soterradas e sua celebração um pouco abandonada, durante certo período obscuro vivido pelo Cristianismo.


Passados mais quinhentos anos, ou melhor catorze séculos após seu martírio, quando era papa, o dinâmico Urbano VIII, muito empenhado na grande contrarreforma católica e disposto a conduzir o projeto de reconstrução das igrejas. Começou pela igreja do Foro, onde as relíquias de Santa Martinha foram reencontradas. Nesta ocasião, proclamou Santa Martinha padroeira dos romanos e ainda compôs hinos em louvor à ela, inspirado na vida imaculada, da caridade exemplar e do seu corajoso testemunho a Cristo.


MISSAL QUOTIDIANO COMPLETO / EM PORTUGUÊS com o próprio do Brasil edição B - editado e impresso nas oficinas tipográficas do Mosteiro de São Bento / Bahia, 23 de dezembro de 1957. Pág 421.


Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 A sentença da alma culpada no juízo particular  Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolô et angelis eius – “A...