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Depois de uma horrível tempestade de três séculos, a Igreja finalmente triunfa: assim será com cada alma que suporta pacientemente a provação e mantém sempre a sua confiança em Deus. |
31 de dezembro: SÃO SILVESTRE - PAPA E CONFESSOR (280-335)
Este Papa dos inícios da nossa Igreja era um homem piedoso e santo, mas de personalidade pouco marcada. São Silvestre I apagou-se ao lado de um Imperador culto e ousado como Constantino, o qual, mais que servi-lo se terá antes servido dele, da sua simplicidade e humanidade, agindo por vezes como verdadeiro Bispo da Igreja, sobretudo no Oriente, onde recebe o nome de Isapóstolo, isto é, igual aos apóstolos.
E na realidade, nos assuntos externos da Igreja, o Imperador considerava-se acima dos próprios Bispos, o Bispo dos Bispos,com inevitáveis intromissões nos próprios assuntos internos, uma vez que, com a sua mentalidade ainda pagã, não estava capacitado para entender e aceitar um poder espiritual diferente e acima do civil ou político.
E talvez São Silvestre, na sua simplicidade, tivesse sido o Papa ideal para a circunstância. Outro Papa mais exigente, mais cioso da sua autoridade, teria irritado a megalomania de Constantino, perdendo a sua proteção. Ainda estava muito viva a lembrança dos horrores por que passara a Igreja no reinado de Diocleciano, e São Silvestre, testemunha dessa perseguição que ameaçou subverter por completo a Igreja, terá preferido agradecer este dom inesperado da proteção imperial e agir com moderação e prudência.
Constantino terá certamente exorbitado. Mas isso ter-se-á devido ao desejo de manter a paz no Império, ameaçada por dissenções ideológicas da Igreja, como na questão do donatismo que, apesar de já condenado no pontificado anterior, se vê de novo discutido, em 316, por iniciativa sua.
Dois anos depois, gerou-se nova agitação doutrinária mais perigosa, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade. Constantino, inteirado da agitação doutrinária, manda mais uma vez convocar os Bispos do Império para dirimirem a questão. Sabemos pelo Liber Pontificalis, por Eusébio e Santo Atanásio, que o Papa dá o seu acordo, e envia, como representantes seus, Ósio, Bispo de Córdova, acompanhado por dois presbíteros. Ele, como dignidade suprema, não se imiscuiria nas disputas, reservando-se a aprovação do veredito final. Além disso, não convinha parecer demasiado submisso ao Imperador.
Foi o primeiro Concílio Ecumênico (universal) que reuniu em Nicéia, no ano 325, mais de 300 Bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra. Os Padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo, proposta energicamente pelo Bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou exarada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por São Silvestre.
Constantino, satisfeito com a união estabelecida, parte no ano seguinte para as margens do Bósforo onde, em 330, inaugura Constantinopla, a que seria a nova capital do Império, eixo nevrálgico entre o Oriente e o Ocidente, até à sua queda em poder dos turcos otomanos, em 1453.
Data dessa altura a chamada doação constantiniana, mediante a qual o Imperador entrega à Igreja, na pessoa de São Silvestre, a Domus Faustæ, Casa de Fausta, sua esposa, ou palácio imperial de Latrão (residência papal até Leão XI), junto ao qual se ergueria uma grandiosa basílica de cinco naves, dedicada a Cristo Salvador e mais tarde a São João Batista e São João Evangelista (futura e atual catedral episcopal de Roma, São João de Latrão). Mais tarde, doaria igualmente a própria cidade.
Depois de um longo pontificado, cheio de acontecimentos e transformações profundas na vida da Igreja, morre São Silvestre I no último dia do ano 335, dia em que a Igreja venera a sua memória. Sepultado no cemitério de Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I (757-767) para a igreja erguida em sua memória.
MISSAL QUOTIDIANO COMPLETO / EM PORTUGUÊS com o próprio do Brasil edição B - editado e impresso nas oficinas tipográficas do Mosteiro de São Bento / Bahia, 23 de dezembro de 1957. Pág 76.
São Silvestre tinha Roma como pátria. Quando teve idade suficiente para dispor da sua fortuna, teve prazer em acolher os cristãos estrangeiros que passavam por Roma; levou-os para sua casa, lavou-lhes os pés, serviu-lhes a comida e, por fim, deu-lhes, em nome de Jesus Cristo, todos os cuidados da mais sincera caridade.
Um dia chegou a Roma um ilustre confessor da fé, chamado Timóteo de Antioquia. Ninguém se atreveu a recebê-lo; Sylvestre deu-se uma honra e, durante um ano, Timóteo, pregando Jesus Cristo com incrível zelo, recebeu a mais generosa hospitalidade em sua casa. Tendo este homem heróico conquistado a palma do martírio, Sylvestre roubou seus preciosos restos mortais e os enterrou na calada da noite. Mas ele próprio logo foi levado perante o tribunal do prefeito, por abrigar os tesouros do mártir: "Timóteo", respondeu ele, "deixou-me apenas a herança de sua fé e de sua coragem".
O prefeito o ameaçou de morte e mandou colocá-lo na prisão; mas Silvestre, ao deixá-lo, disse-lhe: “Seu tolo, é você mesmo quem, esta noite, dará contas a Deus”. O perseguidor engoliu uma espinha de peixe e morreu, de facto, durante a noite. O medo dos castigos celestiais suavizou os algozes e o heróico jovem foi libertado. Este belo comportamento de Silvestre fez com que fosse chamado ao diaconado pelo Papa São Melquíades, de quem seria eminente sucessor.
O seu longo pontificado de vinte e um anos, famoso por vários motivos, é especialmente famoso pelo Concílio de Nicéia, pelo Batismo de Constantino e pelo triunfo da Igreja. O Batismo de Constantino é adiado para um período posterior por muitos autores; mas testemunhos não menos numerosos e não menos graves situam o Batismo deste grande imperador sob o reinado de São Silvestre, e o Breviário Romano confirma esta opinião.
Constantino, ainda pagão e pouco favorável aos cristãos, cuja doutrina ignorava completamente, foi acometido de uma espécie de lepra que lhe cobria todo o corpo. Uma noite, São Pedro e São Paulo, cheios de luz, apareceram-lhe e ordenaram-lhe que chamasse o Papa Silvestre, que o curaria dando-lhe o Batismo. O Papa, de fato, instruiu o neófito real e o batizou. O reinado social de Jesus Cristo começou; a conversão de Constantino teria a feliz consequência do universo.
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Relíquia da caveira de São Silvestre, Basílica de São Silvestre em Roma (Itália) |