O Verbo desde toda a eternidade gerado pelo Pai elevou a união pessoal com ele o fruto Bendito do seio Virginal de Maria; quer dizer que a natureza humana e divina se ligaram em Jesus na unidade duma só pessoa que é a segunda da Santíssima Trindade e visto que quando se fala de filiação é a pessoa a que se designa, deve dizer-se que Jesus é o filho de Deus, porque a sua pessoa é divina: É o Verbo incarnado. Daqui se segue que Maria é com razão chamada Mãe de Deus, não porque gerou a humanidade que o Verbo uniu a si no mistério da incarnação. Compreendemos então que a Igreja cante na Missa o Solene Intróito: "Tu és meu filho, Eu hoje te gerei".
Filho Eterno de Pai, constantemente gerado por ele na Eternidade, Cristo continua a sê-lo no dia do se nascimento sobre a Terra, revestido da nossa humanidade. É no meio da noite que Maria dá a lua a seu filho divino e o coloca no presépio. Por isso celebra-se a Missa da meia-noite, e a estação faz-se na Basílica de Santa Maria maior, no altar onde se conservam as relíquias do Presépio.
Este nascimento de Cristo em plena noite é simbólico: "Deus nascido de Deus, Luz nascida da luz" (Credo), Cristo dissipa as trevas do pecado; "É a verdadeira luz" cujo esplendor ilumina os olhos de nossa alma, para que enquanto conhecemos a Deus de uma maneira visível, por ele sejamos arrebatados ao amor das coisas invisíveis. Veio arrancar-nos da impiedade e dos prazeres do mundo e ensinar-nos a merecer, pela dignidade da vida neste mundo a feliz esperança que nos foi prometida. Será em plena luz que se realizará a vinda da glória de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Natal é aparição na noite do mundo da Luz Divina, cujo o fulgor, em nós, e em volta de nós, se estende até o fim dos tempos.
Porquê, pergunta São Gregório, este recenseamento, no momento do nascimento do Senhor, senão para nos dar a entender que é a aparição na carne d'aquele que, um dia, deve recensear na eternidade os seus eleitos? O aparecimento do Homem Deus durante a noite é a figura de sua vinda no fim do mundo. Di-lo o próprio Jesus: Nomeio da noite far-se-á ouvir um clamor: Eis que vem o Esposo, ide ao seu encontro, e as almas que estiveram esperado por ele entrarão para as bodas eternas, enquanto que as outras dirá: Não vos conheço (Parábola das Virgens).
EXPOSIÇÃO DOGMÁTICA
Se o Tempo do Advento nos faz aspirar à dupla vinda do filho de Deus, o Natal celebra o aniversário do seu nascimento em Belém e prepara-nos para a vinda final em que virá julgar-nos.
A partir do natal, o Ciclo Litúrgico segue passo a passo Jesus na sua obra de redenção, para que a Igreja enriquecidas com as graças que dimanam de cada um dos mistérios da vida de Cristo, seja, como diz São Paulo, a Esposa sem mancha, sem rugas, santa e imaculada, que Ele poderá apresentar ao Pai, quando vier, no fim do mundo, para nos introduzir no seu reino. Esta nova vinda de Cristo, celebrada pelo último domingo depois de Pentecostes, é o término de todas as festas do calendário Cristão.
Percorrendo as páginas que o missal e o breviário consagraram no tempo do Natal, verificamos serem especialmente consagradas aos mistérios da infância de Jesus. A Liturgia celebra a manifestação ao povo judeu e pagão (Natal e Epifania) do grande mistério da Encarnação do Verbo. Este mistério que consiste na união de Jesus, do verbo "gerado da substância do Pai antes de todos os séculos" com a humanidade "gerada da substância de sua mãe nos tempos", completa-se pela união de nossa almas com Cristo que nos gera para a vida divina. A todos os que o receberam deu-lhes o poder se tornarem filhos de Deus. O verbo que recebe desde toda eternidade a natureza divina de Deus Pai eleva até si toda a humanidade de Jesus e de todo o corpo místico, faz-se de modo particular o objeto das preocupações da Igreja nesta época.
MISSAL QUOTIDIANO COMPLETO / EM PORTUGUÊS com o próprio do Brasil edição B - editado e impresso nas oficinas do Mosteiro de São Bento / Bahia, 23 de dezembro de 1957.