segunda-feira, 7 de julho de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 A sentença da alma culpada no juízo particular 



Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolô et angelis eius – “Apartai-vos de mim, malditos para o fogo eterno, que está aparelhado para o diabo e os seus anjos” (Mt 25, 41)


Sumário. Desgraçada da alma cuja vida no juízo não for achada conforme à de Jesus Cristo! Sem demora, o divino Juiz pronunciará contra ela a sentença de condenação eterna – Aparta-te de mim, maldita, para ires arder eternamente no fogo. Meu irmão, agora vivemos em segurança e com indiferença ouvimos falar do juízo; mas quantos há que assim viveram e agora estão no inferno! E quem nos assegura que o mesmo não sucederá conosco? Se a morte nos surpreendesse na primeira noite, qual seria a nossa sentença?


I. Desgraçada da alma cuja vida no juízo não for achada conforme à de Jesus Cristo! Tendo um dos cortesãos de Filipe II dito uma mentira a seu amo, este o repreendeu dizendo: “É assim que me enganas?” O desgraçado, ao voltar à casa, morreu de pesar. Que fará pois, que responderá o pecador a Jesus Cristo, seu Juiz?… Fará como aquele homem do Evangelho que, apresentando-se no banquete nupcial sem o vestido conveniente, se calou, não sabendo que responder: At ille obmutuit (1). O próprio pecado lhe fechará a boa e o cobrirá de tal forma de vergonha, que, no dizer de São Basílio, a confusão será então para o pecador um tormento mais horrível que o fogo do inferno.


O divino Juiz pronunciará sem demora a sentença inapelável: Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum – “Aparta-te de mim, maldito, e vai arder para sempre no fogo eterno.” Oh, que voz aterradora será esta! Santo Anselmo diz que, “quem não treme a uma voz tão terrível, não dorme, mas está morto”. E Eusébio acrescenta que “tamanho será o espanto dos pecadores ao ouvirem a sua condenação, que morreriam de novo, se pudessem morrer outra vez”.


Então já não há suplicar, já não há recorrer a intercessores. Com efeito, a quem recorrerão? Pergunta São Basílio. Porventura a Deus, a quem desprezaram? Aos Santos? Ou a Maria? Não, pois que então as estrelas, que são os Santos, nossos advogados, cairão do céu; e a lua, quer dizer Maria, perderá a sua luz (2). Diz Santo Agostinho: Maria fugirá da porta do paraíso. – Ó Deus, exclama Santo Tomás de Vilanova, com que indiferença ouvimos falar do juízo, como se não pudesse ser nossa a sentença de condenação, ou como se não tivéssemos de ser julgados! Oh! Que demência é viver seguro em tamanho perigo! Se a morte nos colhesse neste instante, que sorte havia de ser a nossa?


II. Meu irmão, assim te avisa Santo Agostinho, não digas: É possível que Deus me queira mandar ao inferno? Não fales assim, diz o Santo, porque tantos réprobos não pensavam que seriam lançados ao inferno; mas afinal veio a hora do castigo: Finis venit, venit finis; … nunc complebo furorem meum in te, et iudicabo (3) – “O fim vem, vem o fim; … agora satisfarei em ti o meu furor e te julgarei”. – Como observa São Boaventura, devemos imitar os negociantes prudentes que, para não abrirem falência, revistam e ajustam muitas vezes as contas. Devemos, acrescenta Santo Agostinho, ajustar as contas antes do juízo, porque agora podemos aplacar o juiz, mas não na hora do juízo. Devemos, numa palavra, dizer com São Bernardo: Meu divino Juiz, quero que me julgueis e me castigueis agora durante a vida, porque ainda é tempo de misericórdia e me podeis perdoar, mas, depois da morte, é só tempo de justiça: Volo indicatus praesentari, non iudicandus.

 


O meu Deus, reconheço, que se agora Vos não aplaco, não terei então tempo para Vos aplacar. Como, porém, Vos aplacarei eu, que tantas vezes desprezei a vossa amizade, por miseráveis prazeres? Paguei com ingratidão o vosso amor infinito. Como pode uma criatura satisfazer dignamente pelas ofensas feitas a seu Criador? Meu Senhor, graças Vos dou que a vossa misericórdia me forneceu o meio de Vos aplacar e satisfazer. Ofereço-Vos o sangue e a morte de Jesus, vosso Filho, e desde já vejo tranquilizada e superabundantemente satisfeita a vossa justiça. É preciso, porém, ajuntar a isso o meu arrependimento. Ah! Sim, meu Deus, de todo o coração me arrependo de todas as injúrias que Vos fiz.Melhores presentes para os seus entes queridos


Julgai-me agora, ó meu Redentor. Detesto, mais que todos os males, os desgostos que Vos dei. Amo-Vos sobre todas as coisas, de todo o meu coração, e proponho amar-Vos sempre e antes morrer que ofender-Vos. Prometestes perdoar a quem se arrepende; pois bem julgai-me agora e perdoai-me os meus pecados. Aceito a pena que mereço; mas restabelecei-me na vossa graça, e conservai-me nela até à morte. Assim espero. – Ó Maria, minha Mãe, agradeço-Vos tantas misericórdias que me impetrastes; dignai-vos continuar a proteger-me até o fim.


Referências:


(1) Mt 22, 12

 (2) Mt 24, 29

 (3) Ez 7, 6 e 8


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 201-203)


Santo do dia

8 de julho: Santa Isabel de Portugal, Rainha de Portugal (1271-1336)

Deus nunca decepciona aqueles que O temem e O servem. Suportemos pacientemente as nossas provações: a Sua providência as transformará em nosso benefício.

Santa Isabel recebeu este nome em seu batismo, em memória de Santa Isabel da Hungria, sua tia. Aos oito anos, recitava o Ofício Divino todos os dias e manteve essa prática até a morte; desprezava o luxo, evitava diversões, socorria as necessidades dos pobres, multiplicava seus jejuns e levava uma vida verdadeiramente celestial. Todas as obras de piedade de Isabel eram acompanhadas por lágrimas que o amor trazia do coração aos olhos. Sempre que seus exercícios religiosos a deixavam livre, ela gostava de dedicá-los à decoração de altares ou ao vestuário dos pobres.


Elevada ao trono de Portugal por seu casamento com Dionísio, rei daquele país, demonstrou notável paciência nas provações que frequentemente teve de suportar nas mãos do marido e, em troca de suas ações injustas, demonstrou-lhe nada além de crescente bondade, afetuosa gentileza e devoção sem limites, que finalmente triunfaram sobre seu coração rebelde. Isabel é famosa pelo dom que o Céu lhe concedeu de restaurar a paz entre príncipes e povos.


Poucos santos demonstraram tamanha caridade pelos membros sofredores de Jesus Cristo; nenhum pobre jamais saiu do palácio sem ter recebido nada; os mosteiros que ela sabia que estavam necessitados recebiam abundante ajuda de suas esmolas; ela acolheu órfãos sob sua proteção, doou donativos a meninas pobres e serviu pessoalmente aos doentes.


Todas as sextas-feiras durante a Quaresma, lavava os pés de treze pobres e, após beijá-los humildemente, vestia-os com roupas novas. Na Quinta-feira Santa, realizou o mesmo dever para quase treze mulheres pobres. Um dia, enquanto lavava os pés daquelas pobres pessoas, havia entre elas uma mulher com uma ferida no pé cujo odor fétido era insuportável. A rainha, apesar de todas as repugnâncias da natureza, pegou o pé infectado, tratou a úlcera, lavou-a, enxugou-a, beijou-a e curou-a. O mesmo milagre ocorreu em favor de um pobre leproso.


Um dia, enquanto carregava dinheiro para os pobres na barra do vestido, seu marido pediu para ver o que ela carregava e ficou surpreso ao ver rosas fora de época. Após a morte do rei, ela quis se retirar para as Clarissas, mas lhe disseram que faria um trabalho melhor se continuasse sua generosidade. Finalmente, após uma vida de feitos heroicos, ela morreu enquanto saudava a Santíssima Virgem, que lhe apareceu, acompanhada por Santa Clara e vários outros santos.


Túmulo de Santa Isabel de Portugal, Mosteiro de Santa Clara-a-Nova em Coimbra (Portugal)





domingo, 6 de julho de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 O desprezo do tempo e a hora da morte

Devemos saber como aproveitar o tempo

Vocavit adversum me tempus – “Chamou contra mim o tempo” (Lm 1, 15)

Sumário. Grande é a tristeza do viajante ao ver que errou o caminho quando já caiu a noite e não há tempo para reparar o engano. Incomparavelmente maior será, na hora da morte, a tua mágoa, meu irmão, se em via não tiveres aproveitado o tempo, ou, pior ainda, tivesses dele abusado para ofenderes ao Senhor. Como fui insensato! – dirias então chorando. – Ó vida perdida! Em tantos anos, com tão grandes graças podia santificar-me e não o fiz… De que servirão então estas lamentações, quando a cena já estiver no fim e se aproximar o grande momento de que depende a eternidade?

I. Nada há mais precioso que o tempo; e nada há que seja menos estimado e mais desprezado pelos mundanos. É o que fazia São Bernardo chorar: Nihil pretiosius tempore, sed nihil vilius aestimatur. Depois ele acrescenta: Transeunt dies salutis – Passam os dias oportunos para adquirir a salvação eterna e ninguém reflete que os dias que passam lhe são descontados para nunca mais voltarem. – Vê o jogador que gasta dias e noites no jogo. Se lhe perguntares: “Que estás fazendo?” responderá: “Estou passando o tempo.” – Vê o ocioso que se entretem horas inteiras nas ruas, a ver quem passa, ou as desperdiça em conversas indecentes ou inúteis. Se lhe perguntares: “Que estás fazendo?” responder-te-á igualmente: “Procuro passar o tempo.” Pobres cegos, que desperdiçam tantos dias que não voltam mais! Desdenhado tempo! Tu serás o que os mundanos desejarão mais na hora da morte. Desejarão então mais um ano, mais um mês, mais um dia, mas não o terão, e ouvirão dizer: Tempus non erit amplius (1) – “Não haverá mais tempo”. Quanto não daria então cada um deles para ter mais uma semana, um dia, afim de melhor ajustar as contas da consciência? Ainda que não fosse senão para obter uma só hora, diz São Lourenço Justiniano, ele daria todos os seus bens: Erogaret opes, honores, delicias pro uma horula. Mas essa hora não lhe será dada. – Apressa-te, lhe dirá o sacerdote que o estiver assistindo, – apressa-te em partir deste mundo; não há mais tempo para ti: Proficiscere, anima christiana, de hoc mundo. Ó meu Deus, dou-Vos graças por me concederdes o tempo para chorar os meus pecados e compensar pelo meu amor as ofensas que Vos fiz. Ai de mim! Que seria de minha alma, se me viessem agora anunciar a chegada de minha morte!Melhores presentes para os seus entes queridos II. Exorta-nos o Sábio a que nos lembremos de Deus e entremos em sua graça, antes que se nos apague a luz: Memento Creatoris tui, antequam tenebrescat sol et lumen (2). Que tristeza para um viajante o ver que errou o caminho quando já está cabida a noite e não há tempo para reparar o engano! Tal será, na morte, a mágoa de quem tiver vivido muitos anos no mundo sem os empregar no serviço de Deus. A consciência recordará então àquele homem descuidado o tempo que teve e que empregou em prejuízo da sua alma: todos os convites, todas as graças que recebeu de Deus para se santificar e de que se não quis aproveitar. Depois verá que lhe faltam os meios de fazer qualquer bem. Exclamará gemendo: – Como fui insensato! Ó tempo perdido! Ó vida perdida! Ó anos perdidos, durante os quais me podia santificar e não o fiz! Agora já não é tempo de o fazer… De que servirão, porém, estas lamentações e suspiros, quando a cena já está no fim, quando a lâmpada está próxima a apagar-se e quando o mundo está próximo do momento terrível de que depende a eternidade? Apressai-Vos, ó meu Jesus, apressai-Vos a me perdoar. Que hei de esperar? Esperarei porventura até chegar ao cárcere eterno, onde com os outros réprobos teria de lamentar eternamente, dizendo: Finita est aestas (3) – “Findou-se o estio?” Passou o tempo, e nós não nos salvámos! Não, meu Senhor, não quero mais resistir a vosso amoroso convite. Quem sabe se a presente meditação não é o último aviso que me dirigis? Ó soberano Bem, pesa-me de Vos haver ofendido e Vos consagro todo o tempo de vida que me resta. Não Vos quero mais causar desgostos; quero Vos amar sempre. Prometo-Vos que, cada vez que disto me lembrar, farei um ato de amor, afim de remir o tempo perdido. Dai-me a santa perseverança. † Doce Coração de Maria, sede minha salvação.Melhores presentes para os seus entes queridos Referências: (1) Ap 10, 6 (2) Ecle 12, 1-2 (3) Jr 8, 20

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 198-201)

Santo do dia

7 de julho: Santos Cirilo e Metódio, Apóstolos dos Eslavos (século IX)

O dom mais precioso do céu para um povo são os grandes santos: peçamos por eles para a nossa pobre pátria.

Até recentemente, os Santos Cirilo e Metódio eram homenageados apenas em certos lugares, especialmente nos vários países eslavos que evangelizaram e em Roma. O Papa Leão XIII estendeu seu culto a toda a Igreja, e sua festa é fixada em 7 de julho.


Esses dois nobres irmãos, nascidos em Tessalônica, foram para Constantinopla estudar. Após extensos estudos, Metódio tornou-se monge; Cirilo recebeu da Imperatriz Teodora a missão de cristianizar certos povos vizinhos à Grécia; de lá, foi chamado com seu irmão para a evangelização da Morávia, onde seu zelo produziu conversões maravilhosas. Eles traduziram a Bíblia para o eslavo, língua que deve sua formação regular a eles.


Sua fama os levou a serem convocados a Roma pelo Papa Nicolau I; Chegaram lá carregando as relíquias do Papa São Clemente I, que Cirilo havia descoberto em Quersoneso. Retornando ao seu apostolado, foram acusados ​​de usar o eslavo em cerimônias litúrgicas; mas se defenderam com sucesso perante o Papa Adriano II.


Cirilo, tendo morrido em Roma na flor da idade, teve seu túmulo ao lado do de São Clemente; seu irmão retornou aos seus amados eslavos e evangelizou a Panônia, a Bulgária, a Dalmácia e a Caríntia. Acusado novamente em Roma, justificou-se tão bem que retornou ao seu apostolado, revestido da dignidade episcopal. Depois de pregar o Evangelho na Boêmia e na Polônia, morreu na Morávia, carregado de mérito e glória.


Basílica de Velehrad, onde repousa o corpo de São Metódio (República Tcheca)


Sepultamento de São Cirilo, Basílica de São Clemente em Roma (Itália)



sábado, 5 de julho de 2025

Santo do dia

6 de julho: Santa Maria Goretti, Virgem e Mártir (1890-1902)

 Esquecer-se de si mesmo, mesmo nos braços da morte, esse rei dos terrores, para advogar a causa dos deserdados da Terra: que espetáculo e que caridade! Admiremos os nossos santos e orgulhemo-nos da nossa fé, que produz tais maravilhas.


Maria nasceu na pequena aldeia de Corinaldo em 16 de outubro de 1890, a terceira de sete filhos. Em 1899, seu pai, um pobre agricultor, mudou-se para uma fazenda na costa mediterrânea, perto de Nettuno. Ele faleceu pouco depois, deixando seis filhos para sustentar.

Assunta, sua esposa, decidiu continuar a árdua tarefa que ele mal havia começado e confiou o cuidado das crianças a Maria, então com nove anos. A precoce menina rapidamente se tornou uma perfeita dona de casa. No dia de Corpus Christi, ela comungou pela primeira vez com fervor angelical. Dedicou-se com prazer à recitação diária do Rosário. Maria Goretti não conseguia aprender a ler, pois a pobreza e o isolamento da aldeia a impediam de frequentar a escola.

A piedosa criança, porém, não se importava com as dificuldades e as distâncias a percorrer para receber Jesus no Santíssimo Sacramento. "Mal posso esperar pelo momento em que amanhã comungarei", disse ela na mesma tarde em que selaria com seu sangue sua fidelidade ao Esposo das virgens.

Os Serenelli, vizinhos próximos da família Goretti, eram pessoas prestativas e honestas, mas seu filho Alessandro se deixou levar por amigos corruptos e leituras perniciosas. Ele veio ajudar a família Goretti nos árduos trabalhos agrícolas. Maria o acolheu, grata, pura demais para desconfiar. O jovem logo começou a lhe fazer comentários abjetos, proibindo-a de repeti-los. Sem compreender plenamente o perigo que a ameaçava e temendo ser culpada, Maria confessou tudo à mãe. Avisada de um perigo que desconhecia, prometeu nunca ceder.

Alessandro Serenelli tornou-se cada vez mais insistente, mas cauteloso, o adolescente evitava sua presença o máximo possível. Furioso com a resistência silenciosa, o jovem esperou que a mãe dela fosse embora para poder executar seus planos perversos.

A tão esperada oportunidade se apresentou na manhã de 6 de julho. Alessandro atacou Maria brutalmente, então sozinha e indefesa. Brandindo diante dos olhos dela um furador de 24 centímetros de comprimento, ameaçou-a: "Se você não ceder, eu te mato!" A jovem cristã gritou: "Não! É pecado, Deus me livre! Você vai para o inferno!" Movido pela paixão, obedecendo apenas aos seus instintos, o assassino lançou-se sobre sua presa e a desferiu quatorze golpes.

Quando Assunta soube da tragédia, Maria estava morrendo no hospital em Nettuno. O padre ao lado da mártir lembrou-lhe a morte de Jesus na cruz, o golpe de lança e a conversão do bom ladrão: "E você, Maria, perdoa?", perguntou-lhe. "Oh, sim!" A doce vítima murmurou sem hesitar: "Pelo amor de Jesus, que ele venha comigo para o Céu." As últimas palavras que a Santa proferiu, em meio à dor excruciante, foram estas: "O que você está fazendo, Alessandro? Você vai para o inferno!" E quando ela se virou num último esforço, seu coração parou de bater.

Em 24 de junho de 1950, o Papa Pio XII canonizou Maria Goretti, mártir aos doze anos por ter defendido sua pureza até a morte. Em seu discurso, o Santo Padre afirmou: "Ela é o fruto maduro de uma família onde havia oração diária, onde os filhos eram criados no temor do Senhor, na obediência aos pais, na sinceridade e na modéstia, onde estavam acostumados a se contentar com pouco, sempre dispostos a ajudar nos trabalhos do campo e em casa, onde as condições naturais de vida e a atmosfera religiosa que os cercava os ajudavam poderosamente a se unirem a Deus e a crescerem na virtude. Ela não era ignorante, nem insensível, nem fria, mas tinha a fortaleza das virgens e dos mártires, aquela fortaleza que é ao mesmo tempo a proteção e o fruto da virgindade."


Santuário de Santa Maria Goretti, Santuário de Nossa Senhora das Graças em Nettuno (Itália)





Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: 4º Domingo depois de Pentecostes

A pesca milagrosa e o ministério apostólico

Sumário. Sob a figura da pesca milagrosa, é representada a pregação do Evangelho, pela qual o Senhor converte e santifica as almas por ele remidas. Os pescadores, porém, não são somente os pregadores, senão também todos os bons cristãos, que de qualquer modo se aplicam à salvação das almas. Seja, portanto, qual for o nosso estado, podemos exercer o ministério apostólico, ao menos pela oração e pelo bom exemplo. Roguemos sobretudo ao Senhor que envie à sua igreja operários zelosos: Mitte operarios in messem tuam.

I. Refere São Lucas que, estando Jesus nas margens do lago de Genesaré e vendo que as turbas vinham em tropel sobre Ele, entrou na barca de Simão, rogou-lhe que a afastasse um pouco da terra e começou a pregar de dentro da barca. Tanto que cessou de falar, ordenou a Simão que se fizesse ao largo e deitasse as redes para a pesca.

Mestre“, respondeu-lhe Simão, “trabalhando toda noite nenhuma coisa apanhamos; porém sobre a tua palavra deitarei a rede“. E tendo feito isto, apanhara tão grande quantidade de peixes que encheram duas barcas. E São Pedro, vendo isto, lançou-se aos pés do Redentor dizendo: “Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador“. E Jesus disse: “Não temas; Já desde agora serás pescador de homens“: Ex hoc iam homines eris capiens.

Explica Santo Ambrósio, e está mesmo claro no Evangelho, que sob a figura das redes e da pesca milagrosa são representadas “as palavras da verdade, que são, por assim dizer, a textura das pregações evangélicas“. Os pescadores são todos os pregadores e especialmente os missionários de que o Senhor se serve para a conversão de populações inteiras e santificação de milhares de almas.

Meu irmão, se tu também és um desses instrumentos escolhidos para promover a glória divina, dá graças ao Senhor; e em deitando as tuas redes, imita a São Pedro, reconhece a própria incapacidade e confia no auxílio de Deus…. “Vê”, diz o mesmo Santo Ambrósio, “quanto é vã e infrutuosa a confiança temerária nas próprias forças e quão eficaz é, ao contrário, a humildade. Os que primeiro tinham trabalhado em vão, depois, sobre a palavra de Jesus Cristo, encheram suas redes de peixes“.

Se o Senhor não te chamou ao ministério apostólico, aproveita-te ao menos da palavra de Deus pregada pelos sacerdotes: estima e reverencia a sua alta dignidade e pede a Jesus Cristo queira aumentar em sua Igreja o número dos ministros zelosos: Mittati operarios in messem suam. (1)

II. Posto que os pescadores de almas sejam principalmente os pregadores e os missionários, não o são, porém, estes só. São-no igualmente todos os bons cristãos, que de qualquer modo promovem o bem espiritual do próximo. Seja qual for o teu estado, podes fazer-te pescador de almas. Podes sê-lo, ajudando teus irmãos com exortações, com conselhos, com o bom exemplo e mais ainda com a oração feita por eles. Quem trata com os próprios pecadores sobre a sua conversão, trabalha às vezes em vão; mas quem trata da conversão dos pecadores com Deus, alcança-a sempre, contanto que o faça assim como se deve. Oh! quantas almas se convertem, não tanto pela pregação dos sacerdotes, como pelas orações dos justos – Figura-te, pois, que Jesus Cristo te diz o que disse a São Pedro: “Faze-te ao largo e deita as tuas redes para a pesca“.

Ó Salvador do mundo, ó Cordeiro divino, Vós que à força de dores perdestes a vida sobre a cruz para salvação de todos os homens, por piedade, tende compaixão de nós, e socorrei-nos no meio de tantos perigos de perdição eterna. Ó céus! De todos os que professam a verdadeira fé, quantos estão vivendo como se não cressem, como se não tivessem de morrer um dia e de dar contas de toda a vida perante o tribunal divino. Mas Vós, ó Jesus, que sabeis tirar o bem do mal, mostrai o vosso poder, não nos castigando conforme merecemos, mas subjugando as nossas vontades rebeldes. Aumentai o zelo dos vossos ministros, mandai-lhes, como outrora a São Pedro, que deitem em toda a parte a rede da palavra divina, e, abençoando-lhes o trabalho, fazei com que tenham uma pesca milagrosa de almas, resgatadas pelo vosso preciosíssimo sangue.

“Concedei-nos, ó Senhor, que os sucessos do mundo por vossa ordem corram para nós em paz e que a vossa Igreja se alegre com a tranquila devoção de seus filhos” (2). – Fazei-o pelos méritos da vossa Paixão, e pelo amor da vossa querida Mãe, Maria.

Referências:

(1) Mt 9, 38
(2) Or. Dom. Curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 196-198)

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Santo do Dia

5 de julho – Santo Antônio Maria Zacarias CRSP (1502-1539)



Confessor, Fundador dos Barnabitas, Clérigos Regulares de São Paulo – Primeira Ordem. Nomeado em homenagem ao apóstolo São Paulo. Foi um dos primeiros líderes da Contrarreforma e um promotor da devoção à Paixão de Cristo, à Sagrada Eucaristia, à Adoração Eucarística e à renovação da vida religiosa entre os leigos. Padroeiro dos Clérigos Regulares de São Paulo (os Barnabitas) e das  Irmãs Angélicas de São Paulo, e dos Médicos.    Seu corpo está incorrupto.

Ele também fundou uma congregação de freiras que hoje não existe mais. Era um grande admirador de São Paulo e estava imbuído dos ensinamentos do grande apóstolo, a quem ofereceu como modelo e patrono. Pregador zeloso e incansável, dedicou-se completamente a esse trabalho – faleceu aos 36 anos, em 5 de julho de 1539.

Antônio Maria Zacarias nasceu em Cremona, na Lombardia, em uma família nobre, e já na infância dava sinais de sua futura santidade. Desde muito cedo se distinguiu por suas virtudes, piedade para com Deus, devoção à Santíssima Virgem e, especialmente, misericórdia para com os pobres, aos quais, mais de uma vez, doou suas ricas roupas para o seu auxílio. Estudou humanidades em casa e depois foi para Pavia estudar filosofia e para Pádua estudar medicina, superando facilmente seus contemporâneos tanto em pureza de vida quanto em capacidade mental. Santo Antônio Maria ZacariasApós se formar em medicina, retornou à sua terra natal, onde compreendeu que Deus o havia chamado mais para a cura das almas do que dos corpos. Dedicou-se imediatamente aos estudos sagrados. Enquanto isso, não deixou de visitar os doentes, instruir as crianças na doutrina cristã e exortar os jovens à piedade e os idosos à reforma de suas vidas.


Ao celebrar sua primeira missa após sua ordenação, ele teria sido visto pela congregação maravilhada em um clarão de luz celestial e cercado por anjos. Dedicou-se então principalmente à salvação das almas e à reforma dos costumes. Acolhia os estrangeiros, os pobres e os aflitos, com caridade paterna, e os consolava com palavras santas e assistência material, de modo que sua casa era conhecida como o refúgio dos aflitos, e ele próprio era chamado por seus concidadãos de anjo e pai de sua pátria.

Pensando que poderia fazer mais pela religião cristã se tivesse companheiros de trabalho na vinha do Senhor, comunicou seus pensamentos a dois homens nobres e santos, Bartolomeu Ferrari e Tiago Morigia, e junto com eles fundou em Milão uma sociedade de Clérigos Regulares, que, por seu grande amor pelo apóstolo dos gentios, batizou com o nome de São Paulo. Foi aprovada por Clemente VII, confirmada por Paulo III e logo se espalhou por muitas terras. Foi também o fundador e pai das Irmãs Angélicas. Mas tinha uma opinião tão humilde de si mesmo que jamais seria Superior de sua própria Ordem. Tão grande era sua paciência que suportou com firmeza a mais terrível oposição às suas religiosas.

Tal era sua caridade que nunca deixou de exortar os religiosos a amarem a Deus e os sacerdotes a viverem segundo o estilo dos apóstolos, e organizou muitas confrarias de homens casados. Frequentemente carregava a cruz pelas ruas e praças públicas, junto com seus religiosos, e com suas fervorosas orações e exortações reconduzia os homens ímpios ao caminho da salvação.

É digno de nota que, por amor a Jesus crucificado, ele fazia com que o mistério da cruz fosse trazido à mente de todos pelo toque de um sino nas tardes de sexta-feira, por volta das vésperas. O santo nome de Cristo estava sempre em seus lábios e em seus escritos, e como verdadeiro discípulo de São Paulo, ele sempre carregou a mortificação de Cristo em seu corpo. Tinha uma devoção singular à Sagrada Eucaristia, restaurou o costume das comunhões frequentes e introduziu a adoração pública das Quarenta Horas.

Tal era seu amor pela pureza que parecia restaurar a vida até mesmo ao seu corpo sem vida. Ele também foi enriquecido com os dons celestiais do êxtase, das lágrimas, do conhecimento das coisas futuras e dos segredos dos corações, além do poder sobre o inimigo da humanidade.

Por fim, após muitos trabalhos, adoeceu gravemente em Guastalla, para onde fora convocado como árbitro na causa da paz. Foi levado a Cremona e ali morreu em meio às lágrimas de seus religiosos e nos braços de sua piedosa mãe, cuja morte iminente predisse. Na hora de sua morte, foi consolado por uma visão dos apóstolos e profetizou o futuro crescimento de sua Sociedade. O povo começou imediatamente a demonstrar sua devoção a este santo por sua grande santidade e por seus numerosos milagres. O culto foi aprovado por Leão XIII, que o canonizou solenemente no dia da Ascensão de 1897.



Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 Do grande amor que nos tem Maria Santíssima

Virgem Maria e o Menino Jesus

 Ego diligentes me diligo; et qui mane vigilant ad me, invenient me – “Eu amo os que me amam, e os que vigiam desde a manhã por me buscarem, me acharão” (Pv 8, 17)

Sumário. Se uma mãe não pode deixar de amar seus filhos, quanto mais não nos amará a Santíssima Virgem, que no Calvário, juntamente com Jesus Cristo, nos gerou para a vida da graça, entre as mais acerbas dores? Ah! Se fosse reunido em um só o amor que todas as mães têm a seus filhos, não igualaria o amor que Maria tem a uma só alma. É justo portanto que ao amor da divina Mãe corresponda o nosso. Sim, minha santa Mãe, depois de Deus, amo-vos de todo o coração mais que a mim mesmo, e pronto estou a fazer tudo por vosso amor.


I. Afim de compreendermos de algum modo o muito que nos ama nossa boa Mãe, Maria, consideremos as principais razões deste amor. — A primeira razão é o grande amor que ela tem a Deus. O amor para com Deus e para com o próximo, como diz São João, se contém no mesmo preceito, de sorte que, quanto cresce um, tanto o outro se aumenta. Hoc mandatum habemus a Deo: ut qui diligit Deum, diligat et fratrem suum (1) — “Nós temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus, ame também a seu irmão”. Pelo que, assim como entre todos os espíritos bem-aventurados não há quem ame a Deus mais do que Maria, assim tampouco temos, nem podemos ter, quem, depois de Deus, nos ame mais do que esta nossa Mãe amorosíssima.


Além disso, Maria nos ama, porque, afim de nos gerar à vida da graça, sofreu a pena de ela mesma oferecer à morte o seu querido Jesus, consentindo em o ver morrer diante dos seus olhos, à força de tormentos. Como frutos, portanto, da oferta dolorosa da Virgem, somos-lhe excessivamente caros, porque lhe custamos tantas angústias e dores. — E mais ainda, porque o próprio Jesus Cristo, antes de expirar, nos entregou a ela por filhos, na pessoa de São João, dizendo-lhe como último adeus: Mulher, eis aí teu filho (2).


Disto nasce uma terceira e mais poderosa razão pela qual somos tão amados de Maria: vem a ser que todos nós somos o preço da morte de Jesus Cristo. Se uma mãe visse um servo remido por um seu filho à custa de trinta anos de prisão e de trabalhos, quanto estimaria o servo por esta só consideração! Quanto mais deverá então a divina Mãe estimar nossas almas, vendo que o Verbo Eterno não desceu do céu à terra e se fez seu Filho, senão para as salvar à custa de todo o seu sangue! Eu vim salvar o que estava perdido (3) — “Salvum facere quod perierat”.


II. Numquid oblivisci potest mulier infantem suum (4) — “Acaso pode uma mulher esquecer-se de seu filhinho”. Se uma mãe, assim nos diz a Virgem, não pode deixar de amar o fruto de suas entranhas, quanto menos poderei eu esquecer-me de vós, meus filhos diletíssimos, eu, que tantas razões especiais tenho de vos amar? Ah! se o amor que todas as mães têm aos seus filhos, todos os esposos a suas esposas, e todos os anjos e santos a seus devotos, se unisse em um só amor, não chegaria a igualar o amor que Maria tem a uma só alma. É pois de justiça que ao amor de Maria respondamos com o nosso.


Sim, minha Mãe amabilíssima, é mais que justo que eu vos ame! Não quero descansar, enquanto não estiver certo de ter alcançado o amor, mas um amor constante e terno para convosco, ó minha Mãe, que com tanta ternura me tendes amado, ainda quando eu vos era tão ingrato. Que seria agora de mim, se não me tivésseis amado e alcançado tantas misericórdias?


Eu vos amo, minha Mãe, e quisera ter um coração capaz de vos amar por todos aqueles infelizes que não vos amam. Quisera ter uma língua que pudesse louvar-vos por mil, afim de fazer conhecer a todos a vossa grandeza, a vossa santidade, a vossa misericórdia e o amor com que amais aqueles que vos amam. Se eu tivesse riquezas, todas as dispenderia em honra vossa. Se tivesse súditos, quereria fazê-los todos amantes vossos. Quereria finalmente, por vosso amor e para glória vossa, dispender até a vida, se necessário fosse.


Em suma, minha Mãe, desejo primeiro aqui na terra, e em seguida no céu, ser, depois de Deus, quem mais vos ame. Se este desejo é por demais audaz, é porque vossa amabilidade e o amor especial que me haveis demonstrado, m’o inspiram. Aceitai-o, pois, ó Senhora, e em prova de que o aceitastes, obtende-me de Deus o amor que vos peço, visto que tanto agrada a Deus que se vos tem.


Referências:


(1) 1 Jo 4, 21

 (2) Jo 19, 26

 (3) Lc 19, 10

 (4) Is 49, 15


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 193-195)

Santo do dia

4 de julho - Santa Isabel de Portugal TOSF (1271-1336) 

Santa Isabel de Portugal - VL

Rainha Consorte, Franciscana Terciária, Apóstola da Caridade e da Paz, negociadora e mediadora política - também conhecida como Isabel de Aragão, Elisabet em catalão, Isabel em aragonês, português e espanhol e A Pacificadora, nascida em 1271 em Aragão, Espanha e falecida em 4 de julho de 1336 em Estremoz, Portugal, de febre. Patrocínios – Coimbra, Diocese de San Cristóbal de La Laguna, Catedral de La Laguna.

Isabel significa "Promessa de Deus".
Santa Isabel era filha do Rei Pedro III deste reino e sobrinha do Rei Jaime, o Conquistador, sobrinha-neta do Imperador Frederico II da Germânia. Deram-lhe o nome Isabel em homenagem à sua tia, Santa Isabel da Hungria.

Sua formação foi formidável e, desde muito jovem, demonstrou uma piedade notável. Foi-lhe ensinado que, para ser verdadeiramente boa, deveria incluir a mortificação de seus gostos e caprichos, juntamente com a oração. Ela tinha o cuidado de orientar sua vida para o amor a Deus e ao próximo, disciplinando seus hábitos de vida. Não comia entre as refeições.

Ela se casou aos 12 anos com o rei Dionísio de Portugal. Isso foi uma grande cruz para Isabel, pois ele era um homem de pouca moral, violento e infiel. Mas ela suportou heroicamente essa provação. Rezou e ofereceu muitos sacrifícios por ele. Sempre o tratou com bondade. Tiveram dois filhos: Afonso, futuro rei de Portugal, e Constança, futura rei de Castela. Santa Isabel chegou a educar os filhos naturais de seu marido com outras mulheres. O rei, por sua vez, a admirava e permitia que ela vivesse uma vida cristã autêntica, até certo ponto. Ela se levantava muito cedo pela manhã e lia seis salmos, assistia à Santa Missa e se dedicava a administrar os deveres do palácio. Em seu tempo livre, reunia-se com outras mulheres para fazer roupas para os pobres. Dedicava as tardes a visitar idosos e doentes.

Ela possibilitou a construção de albergues, um hospital para os pobres, uma escola gratuita, um lar para mulheres arrependidas de uma vida pecaminosa e um asilo para crianças abandonadas. Ela também construiu conventos e realizou outras boas obras para o povo. Emprestava seus belos vestidos e até uma de suas coroas para os casamentos de jovens pobres.

Santa Isabel frequentemente distribuía moedas do Tesouro Real aos pobres para que pudessem comprar o pão de cada dia. Certa vez, o Rei Dionísio, desconfiado de suas ações, começou a espioná-la. Quando a rainha começou a distribuir dinheiro entre os pobres, o rei viu e, enfurecido, foi buscá-lo. Mas o Senhor interveio, de tal forma que, quando o rei ordenou que ela lhe mostrasse o que estava dando aos pobres, as moedas se transformaram em rosas.Pittoni,_Giambattista_-_St_Elizabeth_Distributing_Alms_-_1734


O Pacificador:
O filho de Elizabeth, Afonso, tinha um caráter violento como o pai. Ele se encheu de raiva pela preferência que seu pai demonstrava por seus filhos naturais. Em duas ocasiões, ele promoveu uma guerra civil contra seu pai. Elizabeth lutou pela reconciliação entre pai e filho. Em uma ocasião, ela foi em peregrinação a Santarém, um milagre eucarístico e, vestida como uma penitente, implorou ao Senhor pela paz.
Então, ela foi se apresentar no campo de batalha e, quando os exércitos de seu esposo e filho estavam prestes a se envolver em batalha, a rainha ajoelhou-se entre eles e, de joelhos, pediu que seu marido e filho se reconciliassem.

Algumas de suas cartas foram preservadas, refletindo os valores evangélicos e a audácia de nossa Santa.
Ao seu marido: “Como um lobo enfurecido que vai matar seu filhinho, lutarei para que as armas do Rei não sejam desencadeadas contra nosso próprio filho. Mas, ao mesmo tempo, primeiro me certificarei de que as armas do exército de meu filho sejam destruídas, antes que sejam disparadas contra os seguidores de seu pai.” 

Ao filho:  “Pela Santíssima Virgem Maria, peço que faça as pazes com seu pai. Veja, os soldados estão queimando casas, destruindo plantações e despedaçando tudo. Não com armas, meu filho, não podemos resolver o problema com armas, mas sim com diálogo, continuando as negociações para resolver esses conflitos. Farei com que as tropas do rei se retirem e que as exigências do filho sejam atendidas, mas, por favor, lembre-se de que você tem um dever gravíssimo para com seu pai, como filho dele e como súdito do seu rei.”

Ela obteve paz em mais de uma ocasião, e seu marido morreu arrependido, sem dúvida devido às orações de sua esposa.

Por ter um amor tão grande pela Eucaristia, Santa Isabel dedicou-se a estudar a vida dos santos que mais se destacaram por seu amor à Eucaristia, especialmente Santa Clara. Após ficar viúva, Santa Isabel despojou-se de todas as suas riquezas. Foi em peregrinação a Santiago de Compostela, onde entregou sua coroa ao Arcebispo para receber o hábito de terciária claretiana. O Arcebispo ficou tão comovido com este ato da santa que lhe deu sua cruz pastoral para ajudá-la em seu retorno a Portugal. Ela viveu seus últimos anos no convento, dedicado à adoração eucarística.


Quando eclodiu uma guerra entre seu filho e seu genro, o rei de Castela, Santa Isabel, apesar da idade avançada, empreendeu uma longa viagem por estradas perigosas e obteve a paz. No entanto, a viagem lhe custou a vida. Sentindo-se à beira da morte, pediu para ser levada a um convento claretiano que ela mesma havia fundado. Lá, morreu invocando Nossa Senhora em 4 de julho de 1336.

Deus abençoou seu túmulo com milagres. Seu corpo pode ser venerado no convento claretiano de Coimbra. Ela foi canonizada em 25 de maio de 1625 pelo Papa Urbano VIII.

Santa Isabel de Portugal, rogai pela paz no nosso mundo!

Nota de 50 escudos de Portugal 1964 Rainha Santa Isabel
 Santa Isabel na nota de 50 escudos antes do euro.

Santo do dia

4 de julho – Santo Ulrico de Augsburgo (c. 890–973) 


Bispo de Augsburgo, Alemanha – nasceu em 893 em Kyburg, Zurique, Suíça, e faleceu em 4 de julho de 973 em Augsburgo, Alemanha, de causas naturais. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja de Santa Afra e Ulrico, em Augsburgo. Diz-se que a terra de seu túmulo repele roedores e, ao longo dos séculos, muito foi levado para esse fim. Patrocínios – contra complicações de parto, contra desmaios, contra febre, contra ratos e toupeiras, diocese de Augsburgo, Alemanha; boa morte, tecelões, San Dorligo della Valle, Creazzo.

São Ulrico, renomado por suas virtudes e pelos milagres que realizou, nasceu no final do século IX. Seus pais eram Kupald, Conde de Kueburg, e Thielburga, filha de Burkard, Duque da Suábia. Quando tinha apenas sete anos, sua educação foi confiada aos religiosos da Abadia de Saint-Gall, onde progrediu em virtude e aprendizado muito mais do que se poderia esperar em sua tenra idade. Quando ficou mais velho, alimentou o desejo fervoroso de entrar para o estado religioso e, para aprender a vontade do Todo-Poderoso, passou algum tempo em oração e penitência. Ele também pediu o conselho de Wigerade, uma virgem renomada por sua santidade, que, após ter, com uma oração de três dias, invocado a luz de Deus, disse a Ulrico que ele não estava destinado pelo céu a ser um monge, mas a se tornar um padre secular. Por isso, ele deixou o mosteiro e retornou aos seus pais, que o enviaram a Augsburg para o virtuoso bispo Adalberon, que logo reconhecendo as virtudes e talentos que havia em Ulric, o empregou em todos os múltiplos assuntos de suas funções sagradas e o ordenou sacerdote.

Depois de alguns anos, com a permissão do bispo, ele fez uma peregrinação a Roma, durante a qual Adalberon morreu. O Papa desejava nomear Ulric para a Sé vaga, mas quando este soube disso, ficou assustado e secretamente o deixou. O Santo Padre, sendo informado disso, disse: "Se Ulric não estiver satisfeito em tomar a Sé de Augsburg, enquanto ela estiver em paz, ele será forçado a aceitá-la quando ela estiver em um estado de grande perturbação e anarquia".   Isso realmente aconteceu, pois, após a morte de Hiltin, que havia sucedido Adalberon, Ulric foi obrigado a ceder à voz unânime do clero e dos leigos. Foi um período muito triste, pois o inimigo havia devastado a terra com fogo e espada, as igrejas foram reduzidas a cinzas ou roubadas de todos os seus bens valiosos e os habitantes sofriam muito com a pobreza. O santo bispo era incansável em seus esforços para restaurar as igrejas, ajudar os pobres e aflitos e, quando não tinha mais nada para dar, levava-lhes consolo e esperança. Por cinquenta anos, governou a Sé de Augsburgo e não há palavras para descrever o trabalho que realizou, o sofrimento que suportou durante esse tempo pela glória do Todo-Poderoso e pelo bem-estar temporal e espiritual de seu rebanho.Saint-Ulric-de-Augsburg


O Martirológio Romano o louva especialmente por estas virtudes: temperança, liberalidade e vigilância. Sua temperança no comer, beber e dormir era tão grande que mais não se poderia exigir de alguém pertencente a uma ordem religiosa austera. Ele nunca comia carne, embora a servisse a estranhos e aos pobres. Em suma, era tão frugal que toda a sua vida pode ser chamada de jejum contínuo. Sua cama era de palha e seu sono, apenas um breve descanso, pois passava a maior parte da noite em exercícios devotos. Não usava linho, mas uma vestimenta de lã e, por baixo, um pano de crina áspero. Sua liberalidade para com os pobres era insuperável; alguns deles comiam diariamente à sua mesa. Às vezes, servia-os, às vezes compartilhava a refeição com eles, durante a qual um livro devoto era lido em voz alta. Tudo o que restava de seus rendimentos depois de restaurar a Igreja era dedicado aos necessitados, para os quais ele adquiria cereais, roupas e casas. Ele não gastava nada para ornamentar ou mobiliar sua própria casa, a fim de poder ajudar melhor os pobres. A melhor evidência disso é que ele comia em pratos de madeira, um dos quais ainda está exposto. Antes de morrer, ele mandou trazer tudo o que havia na casa e o dividiu entre os pobres.


Sua vigilância sobre seu rebanho era infatigável e verdadeiramente apostólica. Pregava, administrava os sacramentos, visitava os doentes, confortava os moribundos e, anualmente, visitava a pé todas as paróquias de sua diocese, acompanhado por apenas um capelão. Diversas vezes reunia o clero e consultava-o sobre a abolição de abusos ou sobre algum plano que havia elaborado para o benefício do povo. Em suma, demonstrava a solicitude de um pai, não apenas pela prosperidade espiritual, mas também temporal, daqueles confiados aos seus cuidados, e não se preocupava nem se colocava em perigo quando se tratava do bem-estar deles.st ulrich.jpg


Em 955, os húngaros saquearam a Baviera e, chegando a Augsburgo, sitiaram a cidade. Ulrico exortou os homens a serem corajosos e as mulheres, crianças e doentes a rezarem. Durante toda a noite, esteve com eles na igreja, fortalecendo os soldados com o Santíssimo Sacramento. Ao amanhecer, montou a cavalo, protegido não por uma armadura, mas por uma estola, e acompanhou os soldados para fora da cidade, para lutar contra os bárbaros. Durante esse tempo, recebeu de um anjo, que lhe apareceu visivelmente, uma pequena cruz, que manteve na mão, sem temer os dardos ou os golpes de espada do inimigo, e cuja visão inflamou a coragem de seu povo, que, em pouco tempo, conquistou uma vitória brilhante sobre o inimigo. Tudo isso aconteceu na festa de São Lourenço, e o feliz resultado foi, sob a proteção de Deus, justamente atribuído ao bispo, como o próprio imperador Otão declarou quando veio socorrer o povo aflito.


Ele ergueu, tanto na cidade quanto fora dela, muitas igrejas e reconstruiu aquelas que haviam sido queimadas ou danificadas pelo inimigo. Entre estas estava a igreja de Santa Afra, que era muito honrada pelo santo bispo. Ela lhe apareceu várias vezes, informou-o onde seu santo corpo estava escondido e predisse-lhe vários eventos, entre os quais o feliz resultado da batalha acima mencionada. Por causa dessas e de muitas outras qualidades admiráveis, o povo o chamava apenas de santo bispo, enquanto Deus proclamava a santidade de Seu servo por muitos milagres conhecidos em todo o mundo cristão. O óleo, que ele consagrou na Quinta-feira Santa, curou muitos doentes e restaurou os membros dos coxos. Ele foi visto atravessando o rio sem sequer molhar os pés.


Certa vez, na Páscoa, quando, na presença de uma grande multidão de pessoas, ele celebrou a Missa Solene, uma mão vinda do céu foi vista, a qual, juntamente com a mão de Ulric, abençoou o cálice antes da consagração.


 

Tendo trabalhado fielmente por muitos anos a serviço do Altíssimo, o Santo sentiu que seu fim se aproximava e preparou-se para o chamado de seu Mestre. Na festa de São João, celebrou a Santa Missa pela última vez, após a qual foi levado para casa e dedicou o resto de sua vida a exercícios devocionais. Humildemente, pediu a todos ao seu redor que perdoassem qualquer ofensa de que pudesse ter sido culpado e deu-lhes muitas instruções salutares. Quando seu fim se aproximou, mandou espalhar cinzas no chão em forma de cruz e aspergiu-as com água benta. Então, pedindo para ser colocado sobre elas, permaneceu em oração até que, ao amanhecer, enquanto cantava a Ladainha, a morte lhe fechou os olhos, aos oitenta e três anos de sua vida, 973.


São Ulrico foi o primeiro santo a ser canonizado por um papa, o Papa João XV, em 3 de fevereiro de 993, o que levou ao processo canônico que a Igreja usa hoje para determinar a santidade.


quinta-feira, 3 de julho de 2025

Santo do dia

4 de julho: Santa Berta, viúva (644-723)

Temos que sofrer com a malícia dos homens? Confiemos a Deus a tarefa de nos defender e permaneçamos em paz; se não impedir sempre que as provações nos sobrevenham, tornará-nos superiores às adversidades; sua ajuda prevalecerá sobre o mal.


O pai de Santa Berthe era conde do palácio, sob Clóvis II, rei da França. O sangue de príncipes e heróis corria em suas veias; mas sua glória é ter tido duas filhas santas. A mãe de Berta não quis confiar a mãos estrangeiras o precioso tesouro confiado por Deus aos seus cuidados, e fez a criança mamar, com o leite do seu peito, o leite da piedade e da virtude do seu coração; também esta tenra planta, cultivada por mãos tão puras, deu, desde as primeiras primaveras, as flores e os frutos mais doces da santidade, a tal ponto que logo ganhou a fama de ser a mais bela, a mais amável e a mais virtuosa moça do seu século.

Aos vinte anos, ela se casou com o nobre Lorde Sigefroy e, tendo sido o modelo de moças, tornou-se o modelo de esposas e mães. Após vinte anos de uma união que nunca foi perturbada pelas nuvens da paixão, Berthe, agora viúva, livre de todas as restrições terrenas, resolveu dedicar-se inteiramente a Deus na vida monástica.

O demônio sem dúvida queria desencorajar a Santa: ela teve uma revelação, durante sua ausência, de que seu primeiro mosteiro, construído em suas terras, havia desmoronado completamente. Sua submissão à Vontade de Deus era perfeita, sua determinação permaneceu inabalável e, após três dias de jejum e oração, um anjo veio mostrar a Bertha o lugar onde seu mosteiro seria reconstruído e o plano que ela deveria adotar. Dois anos depois, um dos mais belos conventos da época foi construído e recebeu a bênção da Igreja; No mesmo dia, a santa e suas filhas, Gertrudes e Déotile, receberam o véu e se consagraram a Deus, e logo o mosteiro estava cheio de almas de elite apaixonadas pela vida religiosa.

Poucos anos depois, Berthe renunciou ao título de abadessa para transferi-lo à sua filha Déotile, enquanto ela própria, retirada para um lugar solitário perto da comunidade, levava uma vida completamente angelical e conversava apenas com Deus. Quando sentiu a aproximação da morte, chamou sua filha Gertrudes (pois Deotile havia deixado este mundo) e todas as freiras, dirigiu-lhes as mais tocantes exortações e marcou-lhes um encontro, depois das provações da vida, na Pátria eterna. Antes de morrer, ela viu um anjo da guarda que lhe presenteou com uma cruz luminosa e ouviu um concerto celestial, um prelúdio para harmonias celestiais.



Sepulcro de São Domingos, Basílica de São Domingos em Bolonha (Itália)

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 Quão útil é meditar na Paixão de Jesus Cristo

Paixão de Cristo (por PauloDuqueFrade)
Paixão de Cristo (por PauloDuqueFrade)

Recogitate eum qui talem sustinuit a peccatoribus adversus semetipsum contradictionem, ut ne fatigemini, animis vestris deficientes – “Não deixeis de pensar naquele que dos pecadores suportou contra si uma tal contradição; para que não vos fatigueis, desfalecendo em vossos ânimos” (Hb 12, 3)

Sumário. Não há meio mais eficaz para alcançar a salvação eterna do que a lembrança quotidiana dos sofrimentos de Jesus Cristo: tem mais valor uma lágrima derramada pela recordação da Paixão do Senhor, do que um ano de jejum a pão e água. Foi nesta meditação que os santos acharam coragem e força para suportar as tribulações, os tormentos e a morte. Se queremos progredir na virtude, lancemos cada dia ao menos um olhar sobre a Paixão do Redentor, contemplando especialmente a pobreza, os desprezos e as dores.

I. Diz Santo Agostinho: “Não há coisa mais apropriada para nos fazer adquirir a salvação eterna do que a lembrança quotidiana dos sofrimentos de Jesus Cristo.” Ao que São Boaventura acrescenta: “Quem quiser crescer sempre em virtude e em graça, deve meditar todos os dias na Paixão de Jesus, porque não há exercício mais útil para santificar uma alma do que a consideração frequente das penas do Salvador.

Com efeito, onde é que os santos acharam a coragem e a força para sofrer as tribulações, os tormentos, os martírios e a morte, senão nos sofrimentos de Jesus Cristo? São José de Leonissa, vendo que o queriam ligar com cordas para uma operação dolorosa que o cirurgião lhe queria fazer, tomou em suas mãos o crucifixo e disse: “Que cordas, cordas? Eis aqui as minhas cordas; meu Senhor pregado na cruz por meu amor. É Ele quem, pelas suas dores, me liga e me constrange a suportar todas as dores por seu amor. E assim sofreu a operação sem se queixar, contemplando a Jesus, que não abriu a boca qual cordeiro que cala debaixo da mão que o tosquia” (1).

Quem poderá ainda dizer que sofre injustamente quando olha para Jesus ferido pelas nossas iniquidades e dilacerado pelos nossos pecados? (2) Quem poderá ainda escusar-se de obedecer por causa de qualquer incômodo, havendo-se Jesus feito obediente até à morte e até à morte de crus? (3) Quem ousará subtrair-se às ignomínias, vendo Jesus tratado como louco, como um rei de teatro, como um malfeitor; esbofeteado, coberto de escarros e preso a um patíbulo infame? Finalmente, quem poderá amar senão a Jesus, vendo-O morrer no meio de tão grandes dores e desprezos, afim de cativar o nosso amor? Conclui Santo Agostinho que vale mais uma só lágrima vertida na consideração da Paixão de Jesus, que uma peregrinação a Jerusalém e um ano de jejum a pão e água.

II. Com razão o Ven. Padre Baltazar Alvares afirmava que a ignorância dos tesouros que temos em Jesus é a causa da ruína dos cristãos. Pelo que o assunto predileto e mais frequente de suas meditações era a Paixão de Jesus Cristo, considerando em Jesus especialmente três sofrimentos: a pobreza, o desprezo e a dor. Exortava seus penitentes a que fizessem o mesmo, dizendo que não pensassem haver feito progresso algum enquanto não chegassem a trazer Jesus crucificado sempre gravado no coração.

Eis aqui, meu irmão, o que tu também deves fazer se desejas ser santo, como aliás tens obrigação de ser. Lança todos os dias um olhar sobre a Paixão do Redentor, meditando de preferência no que dizem os santos Evangelhos. – São muito edificantes e bonitas as meditações sobre a paixão, escritas por devotos autores; mas um cristão levará impressão mais profunda de uma só palavra das sagradas Escrituras do que mil contemplações e revelações atribuídas a certas pessoas devotas; porquanto as Escrituras são a própria palavra de Deus e nos dão a garantia de que tudo que referem tem a certeza da fé divina.

E como quem é devoto do filho não pode deixar de ser devoto igualmente da mãe; não nos esqueçamos, em nossas meditações sobre a Paixão de Jesus Cristo, de contemplar também as dores de Maria Santíssima. Pede a esta boa Mãe que te dê uma parte da compaixão que tanto a afligiu na morte de Jesus e constituiu todo o martírio de seu amantíssimo Coração.

Referências:

(1) Is 53, 7
(2) Is 53, 5
(3) Fl 53, 5

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 191-193)

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 Para se santificar a alma deve dar-se toda e sem reserva a Deus



Humiliavit semetipsum, factus oboediens usque ad mortem
– “(Jesus) se humilhou, feito obediente até à morte” (Fl 2, 8)

Sumário. São Paulo louva a obediência de Jesus Cristo, dizendo que obedeceu ao Pai Eterno até à morte. Mas no Santíssimo Sacramento vai mais longe, visto que quis fazer-se obediente até o fim do mundo e não somente ao Pai Eterno, senão a todos os sacerdotes da terra. Qualquer que seja o nosso estado, esforcemo-nos por imitar a obediência de Jesus, depositando em suas mãos a nossa vontade e pedindo-Lhe que disponha de nós conforme for do seu agrado. Animemo-nos à prática de tão bela virtude pela lembrança de que nunca uma pessoa obediente se condenou.

I. Para uma alma que se aplica à perfeição, não há coisa tão prejudicial como o reger-se pela própria vontade. Diz São Bernardo que o que se arvora em mestre de si mesmo, fazendo o que lhe dita o amor próprio, se faz discípulo de um doido. – Ao contrário, o Espírito Santo diz que o sacrifício da própria vontade em seguir a obediência, é o sacrifício mais agradável a Deus; pelo que é este o meio mais apropriado para nos elevar em breve tempo à mais alta perfeição: Melior est oboedientia quam victimae (1) – “Melhor é a obediência do que vítimas”.Melhores presentes para os seus entes queridos

Eis porque Jesus Cristo, que pelo Pai divino nos foi dado por mestre e modelo de todas as virtudes, tomou tanto a peito o ensinar-nos a virtude de obediência, protestando que veio de propósito para sacrificar a Deus a vontade própria: Descendi de coelo, non ut faciam voluntatem meam, sed voluntatem eius, qui misit me (2) – “Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Com efeito, como diz São Paulo, Jesus “se fez obediente até à morte, e até à morte de cruz”. – Não contente, porém, em nos ter dado em toda a sua vida tão belos exemplos, quer ainda continuar depois da morte a no-los dar no Santíssimo Sacramento, no qual quer obedecer não somente a seu Eterno Pai, mas também ao homem, e isto não mais até à morte, mas até o fim do mundo.

Ó prodígio! O Rei do céu desce do céu por obediência ao homem; e parece em seguida ficar sobre os altares só para obedecer aos homens. Ali fica sem movimento próprio: deixa-se ficar onde o colocam, seja que o exponham no ostensório, seja que o encerrem no cibório: deixa-se levar para onde querem leva-Lo, pelas ruas, pelas casas: deixa-se dar na comunhão a todos os que o querem, justos ou pecadores. Quando ele vivia na terra, como diz São Lucas (3), obedecia a Maria Santíssima e a São José; mas neste Sacramento obedece a tantas criaturas, quantos sacerdotes há no mundo: Ego autem non contradico (4) – “Quanto a mim, não resisto”.

II. Se tu, que lês esta meditação, vives em comunidade, para melhor imitares os exemplos de Jesus Cristo, presta obediência exata às tuas Regras e aos teus superiores. Lembra-te de que a tua predestinação está ligada à observância da Regra. – Se és secular, observa exatamente a lei de Deus, os mandamentos da Igreja e os deveres do teu estado. Escolhe, além disso, um confessor certo e consulta-o sempre, mesmo nos negócios temporais de mais importância. Assim fazendo, estarás certo de fazer a vontade de Deus; e qualquer que seja o resultado das tuas empresas, não terás de dar conta a Deus. Diz São Francisco de Sales: Nunca um obediente verdadeiro se perdeu.

Meu amabilíssimo Jesus: adoro-Vos no sacramento do altar; graças Vos dou pelos exemplos de virtude, que nele me dais, e de hoje em diante deposito nas vossas mãos todos os meus interesses. Aceitai-me, e disponde de mim, por meio dos superiores, como quiserdes. Não quero mais queixar-me das vossas santas disposições; sei que todas elas serão para meu bem, visto que todas provêm do vosso Coração amantíssimo. Basta que Vós as queirais, para eu também as aceitar no tempo e na eternidade. Fazei em mim e de mim tudo o que quiserdes; uno-me à vossa vontade toda santa, toda boa, toda bela, toda perfeita, toda amável. Ó vontade de Deus, como me sois cara! Quero sempre viver e morrer unido e estreitado convosco. O vosso agrado será o meu agrado; quero que os vossos desejos sejam os meus desejos.

Meu Deus, ajudai-me! Fazei que doravante eu viva somente para Vós; somente para querer o que Vós quereis, somente para amar a vossa bondade amabilíssima. Morra eu por vosso amor, já que morrestes por mim e Vos fizestes meu sustento. Detesto os dias em que, com grande desgosto vosso, fiz a minha vontade. Amo-vos, ó vontade de Deus, amo-vos tanto quanto amo à Deus, pois sois o próprio Deus. Amo-vos de todo o meu coração e meu dou todo a vós. – Ó grande Mãe de Deus, Maria, alcançai-me a santa perseverança.Melhores presentes para os seus entes queridos

Referências:

(1) 1 Rs 15, 22
 (2) Jo 6, 38
 (3) Lc 2, 51
 (4) Is 50, 5


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 206-209)


Santo do dia

3 de julho: São Raimundo de Toulouse, cônego (1159)


 São Raimundo compreendeu a máxima de Jesus Cristo relatada por São Paulo: Há mais felicidade em dar do que em receber. Demos esmola generosa: saborearemos um encanto que os corações estreitos nem sequer suspeitam.



Toulouse, capital de Languedoc, foi o local de nascimento de Raymond. Seus pais, muito ricos e muito honrados, deram-lhe uma educação cristã. Em vez de buscar as diversões de sua idade, a criança sentia prazer apenas na piedade. Após concluir seus estudos, ele se tornou cantor a serviço da igreja de Saint-Sernin, com os cônegos regulares de Saint-Augustin. Depois ele se casou. Logo enviuvou, sem deixar o mundo, viveu como um homem religioso: orações, macerações, vigílias eram suas delícias, e a renda de seu patrimônio passava liberal e silenciosamente para as mãos dos pobres.

À esmola particular este nobre cristão quis acrescentar obras de caridade permanente. Ele construiu às suas próprias custas e alugou um colégio para a manutenção e instrução de treze clérigos pobres, em honra a Jesus Cristo e seus doze apóstolos.

Os habitantes de uma região próxima a Toulouse só podiam chegar a esta cidade atravessando de balsa um rio perigoso onde muitos barcos haviam afundado. O santo homem mandou construir ali duas pontes, que ele pagou do seu próprio bolso.

A Basílica de Saint-Sernin era um monumento muito modesto. Raymond ficou encarregado de reconstruí-lo. Durante os treze anos que a construção durou, ele forneceu os fundos necessários para um empreendimento tão grande e garantiu todos os dias que o trabalho fosse executado corretamente. A igreja mal estava pronta quando o generoso fundador pediu para ser admitido no número de religiosos encarregados de servi-la. Logo a fragrância de suas virtudes encheu a casa dos cônegos, seu zelo autorizado reformou os abusos, e pessoas do mundo correram para se juntar à sua escola sob o doce jugo de Jesus Cristo.

Deus logo chamou a alma de seu piedoso servo para o céu. Este humilde monge, que foi como o segundo fundador da abadia, considerava-se indigno de sequer encontrar um lugar para suas cinzas ali. Ele teve que ser enterrado, a seu pedido, em um túmulo que ele havia preparado para si mesmo no colégio de seus pobres clérigos.




Basílica de Saint-Sernin em Toulouse (França)



Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

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