sábado, 30 de novembro de 2024

DEVOÇÕES PELOS MORTOS

Terços das almas do Purgatório

1º MODO DE REZAR O TERÇO

Reza-se, dizendo em cada conta do terço comum as duas orações seguintes, que são, ao mesmo tempo, as mais curtas e as mais indulgênciadas. 

I. — Nas contas grandes recitam-se os atos de fé, esperança e caridade, com as seguintes fórmulas: 

Creio em vós, Senhor, porque sois a verdade eterna. 

Espero em vós, Senhor, porque sois a fidelidade suprema. 

Amo-vos, Senhor, porque sois a bondade infinita. 

O Papa Bento XIV ligou a estes atos: 

1. » 7 anos e 7 quarentenas de Indulgência. 

2. " Indulg. plenária, cada mês, tendo-os recitado ao menos uma vez por dia. 

Indulg. plenária, em artigo de morte, tendo-os recitado muitas vezes durante a vida. 


II. — Nas contas pequenas, diz-se a invocação: 

Doce Coração de Maria, sede minha salvação. 

1º O Santo Padre Pio IX concedeu 300 dias de indulg.

2.° Indulg. plenária, cada mês, pela recitação diária. (As indulgências plenárias nas condições do costume: confissão, comunhão, visita de um oratório público e orações segundo a intenção do Papa.) 

III. — Antes do terço faz-se devotamente o sinal da cruz. 

Depois, o seguinte oferecimento ou algum semelhante: 

Meu Deus, pelo dulcíssimo Coração de Maria eu vos ofereço as indulgências que puder ganhar, e rogo-vos que as apliqueis às almas (ou a tal...) do Purgatório. 

Três ou quatro minutos bastam para recitar-se este terço. Pode-se ganhar de cada vez pelas almas do Purgatório muitas indulgências. 

Não é preciso dizer estas orações com um terço nas mãos. As indulgências são ligadas às fórmulas e não ao modo. Basta que sejam recitadas em estado de graça, isto é, livre a alma de pecado mortal e contrita dos veniais.

2º MODO DE REZAR O TERÇO

Primeiro Terço

V. Deus vinde em meu socorro,

R. Senhor apressai-vos em socorrer-me. 

V. O Repouso eterno dai-lhes Senhor,

R.: E a luz do perpétuo esplendor. 

1ª Dezena

Eu ofereço, meu amorosíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, cada um de todos os tormentos, penas e dores de vossa santa Paixão e Morte penosíssima de Cruz, e o Sangue preciosíssimo que derramastes, para nosso remédio e salvação. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

Eu vos ofereço, meu benigníssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquela piedosa súplica que fizestes ao Eterno Padre, orando no Horto, quando entristecido e amedrontado, pela vista de quanto devíeis sofrer, lhe suplicastes que retirasse de vós o amargoso cálice da Paixão: e também aquela inteira e santa resignação com que, sujeitando-vos depois à sua divina vontade, lhe dissestes: Faça-se, eterno Pai, não a minha, mas a vossa vontade. 

Padre N, 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

 

Eu vos ofereço, meu clementíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório aquele sacro e vivo Sangue que, à força de dor interna, também suastes angustiado, ó meu Jesus, orando no Horto, em tanta abundância, que, correndo em copiosas torrentes, de todo o vosso santíssimo' Corpo, até chegou a banhar a terra. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

 

Eu vos ofereço, meu piedosíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquele vergonhoso ultraje de serdes conduzido amarrado, como um malfeitor, à casa do' pontífice Caifás onde, com aspecto feroz, vos recebeu no meio dos vossos inimigos, os quais, todos aí congregados, como lobos raivosos, estavam esperando-vos, manso Cordeiro. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

5ª 

 Eu vos ofereço, meu misericordiosíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquele admirável silêncio, quando, levantando-se contra vós, inocentíssimo Senhor, tantos falsos testemunhos, não abristes a boca em vossa defesa; 

mas tudo sofrestes com paciência, dando-nos exemplo para seguirmos a vossa mansidão. 

Padre N. 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

OFERECIMENTO 

(Esta oração se diz no fim de cada terço

Eu vos rogo, meu clementíssimo Jesus, pela grande doçura do vosso Coração, que tenhais piedade das almas aflitas, que estão penando no Purgatório. Lembrai- vos, Jesus amorosíssimo, de tantas misericórdias conosco tão prodigamente repartidas. Lembrai-vos das penas, das chagas, dos sofrimentos, das feridas e das dores que suportastes. Lembrai-vos de todas as gotas de vosso precioso sangue, que pelos homens derramastes. Lembrai-vos, enfim, da morte penosíssima, que, por nós pecadores, com tanto amor padecestes. 

Eu por tudo isto vos rogo humildemente que derrameis sobre aquelas almas aflitas a virtude, a eficácia, o fruto e a graça dos mencionados vossos trabalhos e da vossa Paixão, para que, aliviadas daquelas penas, fiquem inteiramente livres e salvas. Lembrai-vos, Jesus misericordiosíssimo, que são vossas filhas diletas, vossas queridas amigas, por vós remidas e por vós eleitas para a glória do Paraíso. Basta de vossa justiça; que já por bastante tempo elas têm penado no fogo. E, se ainda têm que purgar por vosso respeito, sejam benignamente absolvidas: pela infinita misericórdia. Nas vossas mãos eu as entrego, piedosíssimo Senhor meu Jesus Cristo, e a vós de todo o meu coração as recomendo.

 

Segundo Terço

1ª Dezena 
 
Eu vos ofereço, meu amantíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, todas aquelas penas e desprezos que sofrestes, quando estivestes nas mãos daquela iníqua e cruelíssima gente, cheia de raiva e de furor; pois, não cessaram os pérfidos de afligir-vos excessivamente, com pontapés, bofetadas, e escarros no rosto; e mais com blasfêmias e injurias. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

Eu vos ofereço, meu caríssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquele santo pudor virginal que, sobremodo, vos acometeu, quando os ímpios judeus vos despiram para amarrar-vos à coluna; e aquela tão grande dor que também sentistes, quando tão fortemente vos apertaram as cordas. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

Eu vos ofereço, meu piedosíssimo Jesus. pelas almas aflitas do Purgatório, aquele excessivo tormento que sofrestes, quando fostes tão desapiedada e cruelmente flagelado; e a grande dor que sofreu a vossa Mãe Santíssima que, quantos golpes eram dados nas vossas inocentíssimas e santas carnes, tantos ela sentia darem-se-lhe no seu puríssimo Coração. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

4ª 

Eu vos ofereço, meu piedosíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquela extrema dor que, também, experimentastes, quando fostes injustamente coroado de agudíssimos espinhos; e aquele sacratíssimo sangue que da cabeça e de todas as chagas do corpo saiu, pela nova e ás-pera flagelação. 

Padre N. 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

5ª 

Eu vos ofereço, meu misericordiosíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquele duro sentimento que vos magoou, quando os pérfidos judeus, todos a uma voz, gritaram: — crucificai-o, crucificai-o, — pedindo que a Vós, ó meu inocente Senhor, fosse dada, sobre o infame patíbulo da Cruz, a morte e ao facinoroso Barrabaz a vida; cujas vozes foram tão agudas setas, que traspassaram cruelmente o vosso coração, e o da vossa dolorosa Mãe Maria. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

 

Terceiro Terço

1ª Dezena 

Eu vos ofereço, meu benigníssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, a grande fadiga que suportastes, carregando, desfalecido e magoado, até ao monte Calvário, a Cruz, que, por ser mui pesada, tornou maiores e muito mais agudas vossas dores. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

 

Eu vos ofereço, meu benigníssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquele feroz e acerbíssimo martírio que, com requintadas penas e dores, amargamente sofrestes na penosíssima crucificação; e aquele grave tormento que também sentistes, estando vivo três horas na Cruz pois que, estando todo o sagrado corpo cheio de chagas, furadas as mãos e os pés e coroada a cabeça de agudíssimos espinhos, o estar assim pendurado vos causou acerbíssima aflição e dor. 

Padre N. 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

3ª 

Eu vos ofereço, meu clementíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquela lastimosa e compassiva lamentação que fizestes na Cruz, de vos verdes abandonado do Eterno Pai; e quando, vendo também que o Céu retirava de vós os seus amorosos confortos, todo doloroso e desconsolado, dissestes: — Meu Deus! meu Deus! por que me desamparastes? 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

4ª 

Eu vos ofereço, meu clementíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, aquela última dor que sentistes, ao separar-se a vossa alma do corpo, quando, encomendado vosso espírito ao Pai, com lágrimas nos olhos, em alta voz, dissestes: — Pai, nas vossas mãos encomendo o meu espírito. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria. 

5ª 

Eu vos ofereço, finalmente, misericordiosíssimo Jesus, pelas almas aflitas do Purgatório, todas as dores que sofreu a vossa bendita Mãe, em cima do monte Calvário, não só quando ela vos viu penar entre tantos espasmos e dores, e morrer, na Cruz, com tanta ignomínia; mas também, ao ver-vos traspassado pela lança cruel, no vosso sacratíssimo lado; ao ver-vos descido da Cruz, e depositado nos seus braços; ao ver-vos, enfim, encerrado no santo sepulcro, banhado de lágrimas desta vossa saudosa Mãe e minha magoada Senhora. 

Padre N., 10 Repouso eterno, Ave-Maria.



Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

Festa do Apóstolo Santo André


Qui non accipit crucem suam et sequitur me, non est me dignus“Aquele que não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt 10, 38)

Sumário. Embora o apóstolo Santo André fosse insigne em todas as virtudes, todavia distinguiu-se particularmente em três: na pronta obediência ao convite de Jesus; no zelo incansável pela glória divina; e no seu grande amor à cruz. Regozijemo-nos com o santo e no seu nome agradeçamos a Deus. Depois, lançando um olhar sobre nós mesmos, vejamos como é que temos imitado os exemplos do santo. Há quanto tempo o Senhor nos chama a uma vida mais perfeita e lhe resistimos obstinadamente!

I. Embora o apóstolo Santo André fosse insigne em todas as virtudes, todavia distinguiu-se particularmente em três: na pronta obediência ao convite de Jesus Cristo; no zelo incansável pela glória divina, e no seu grande amor à cruz. O santo já se havia habilitado para a sublime dignidade do apostolado por uma vida pobre e inocente, e fazendo-se discípulo do Precursor São João. Quando, pois, nas margens do mar de Galileia, o Salvador o chamou para o seu seguimento, no mesmo instante deixou as redes, a fim de o seguir. Reflete que não pediu tempo para arranjar os negócios da sua casa; não se desculpou com a necessidade de ganhar a vida; nem reservou para si parte alguma dos seus bens; nem perguntou aonde teria de ir, nem o que havia de fazer, ou o que seria dele. Com fidelidade e presteza admiráveis se prontificou a seguir Jesus:

Continuo, relictis retibus, secuti sunt eum (1)— “Eles, sem mais detença, deixadas as redes, o seguiram”.

Igual foi o seu zelo pelo aumento da glória de Deus. Começou a exercitá-lo mesmo antes de ser chamado ao ministério apostólico, quando ganhou para Jesus Cristo Simão, seu irmão, que mais tarde foi feito a pedra fundamental da Igreja (2). Depois de Pentecostes, o santo pregou o Evangelho na Cítia, no Epiro e na Acaia. Quando na extrema velhice foi condenado por Egeas ao suplício da cruz, e já estava pregado no doloroso patíbulo, esquecido de si próprio e unicamente solícito pela glória divina, pregou dois dias inteiros para as multidões que assistiam ao seu martírio. Eis os belos exemplos que Santo André nos deixou. E tu, como o tens imitado? Qual é o teu zelo pela glória divina? Como respondes aos convites divinos? Há quanto tempo Deus te chama a uma vida mais perfeita, e tu lhe resistes obstinadamente!

II. Santo André distinguiu-se ainda pelo seu amor à cruz, que é o apanágio de todos os discípulos de Jesus Cristo. Instruído, pelo próprio Filho de Deus, de que, quem quiser gozar um dia com ele no céu, deve resolver- se a beber nesta terra o cálice da paixão, a cruz não tinha para o santo nada de desagradável; ao contrário, sentiu-se para com ela todo abrasado de amor. E isso bem o provou ele, quando, depois de Pentecostes, sendo com os outros apóstolos encarcerado e açoitado, como refere São Lucas:

“Saíram todos da presença do Conselho, contentes de terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus” (3).

O amor de Santo André à cruz resplandeceu particularmente no fim da sua vida, quando, à semelhança do seu divino Mestre, foi condenado a ser crucificado. Instou com o povo para que não se opusesse à execução da sentença, e, avistando de longe o instrumento do seu suplício, exclamou num transporte de alegria:

“Ó santa cruz, objeto dos meus mais vivos desejos, dos meus mais ardentes suspiros, eu vos saúdo! Ó boa cruz, procurada por mim tanto tempo, não vos dedigneis receber-me nos vossos braços, a fim de me trasladar para os de Jesus Cristo, que de vós se quis servir para me resgatar: Ut per te me recipiat qui per te me re demit” (4).

Examina aqui se, como o santo apóstolo, amas sinceramente a cruz de Jesus Cristo. Como cristão dê glórias do estandarte triunfante da cruz; mas dê glórias também de estar pregado na cruz com o teu divino Mestre, quer dizer, nas enfermidades e tribulações? Todavia é só assim que se pode entrar no céu. Escolhe, portanto, Santo André por teu protetor especial, e pede a Deus, pela sua intercessão, que te dê forças para o imitar.

“Ó Senhor, humildemente rogo a vossa Majestade que assim como Santo André, vosso apóstolo, foi pregador e diretor da vossa Igreja, seja também para convosco o nosso perpétuo intercessor” (5). Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria.

Referências:
(1) Mt 4, 20.
(2) Jo 1, 41.
(3) At 5, 41.
(4) Lect. II Noct.
(5) Or. festi.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 395-398)

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

 Maria Santíssima conduz os seus servos ao paraíso

"Quem é verdadeiramente servo de Maria está certo de que está escrito no livro da vida e se salvará"

Qui me invenerit, inveniet vitam, et hauriet salutem a Domino “Aquele que me achar, achará a vida, e haverá do Senhor a salvação” (Pv 8, 35)

Sumário. De que serve inquietarmo-nos com as sentenças das escolas sobre a predestinação para a glória? Quem é verdadeiramente servo de Maria está certo de que está escrito no livro da vida e se salvará; porque de todos aqueles que perseveram na sua devoção a esta bem-aventurada Mãe, ninguém se perdeu. Só se condena aquele que não recorre a ela ou deixa de ser seu servo. Procuremos, portanto, entrar sempre mais e permanecer nesta arca da salvação; e cada vez que nos for possível, procuremos, por palavras e exemplos, fazer que outros também ali entrem.

I. Oh! Que belo sinal de predestinação têm os servos de Maria! A santa Igreja aplica a esta bem-aventurada Mãe as palavras da Sabedoria divina e lhe faz dizer: In omnibus requiem quaesivi et in haereditate Domini morabor (1) — “Em toda parte busquei repouso e morarei na herança do Senhor”. A Santíssima Virgem, pelo amor que tem para com os homens, procura fazer que em todos reine a sua devoção. Muitos ou não a recebem, ou não a conservam; porém, bem-aventurado aquele que a recebe e a conserva, porque nesta devoção habita em todos aqueles que são a herança do Senhor, isto é, que irão ao céu louvá-Lo eternamente.

Qui audit me, non confundetur (2) — “Aquele que me ouve, não será confundido”. De todos aqueles que recorreram a esta Rainha de misericórdia, nenhum ficou confundido. A experiência de todos os dias demonstra que aqueles que operam por ela, que a honram, e especialmente aqueles que com palavras e exemplos procuram que outros também a amem, nunca cairão em pecado e viverão eternamente. Numa palavra, diz Maria Santíssima: Aquele que me achar, achará a vida, e haverá do Senhor a salvação. Ao contrário, aquele que de mim se afastar, achará infalivelmente a morte; porque ficará privado daqueles socorros que não se dispensam aos homens senão pelo meu intermédio. — É assim que a santa Igreja, de acordo com todos os Doutores, faz a divina Mãe falar, para conforto dos seus servos. — De que serve, pois, inquietarmo-nos com as sentenças das Escolas, sobre se a predestinação para a glória é anterior ou posterior à previsão dos merecimentos? Se estamos ou não escritos no livro da vida? Se formos verdadeiros servos de Maria, e alcançarmos a sua proteção, seguramente nele havemos de ser inscritos e nos salvaremos.

II. Santa Maria Madalena de Pazzi viu no meio do mar uma pequena nau, em que estavam embarcados todos os devotos de Maria, e ela, fazendo ofício de piloto, seguramente os conduzia ao porto do céu. Procuremos, pois, entrar nesta nau bem aventurada da proteção de Maria, sejamos devotos verdadeiros da Virgem, pois assim estaremos seguros de alcançar o reino do céu.

Não nos contentemos com amar, só por nós, esta Senhora amabilíssima; mas sempre que nos for possível, em público ou em particular, esforcemo-nos para que ela seja também amada dos outros. Fazendo isso, exerceremos um apostolado muito frutuoso, pois que todos aqueles que por nosso intermédio abraçarem a devoção para com Maria Santíssima, serão depois os nossos eternos companheiros no céu.

Ó Rainha do paraíso, que assenta acima de todos os coros angélicos, ocupais o primeiro lugar junto do trono de Deus! Do fundo deste vale de lágrimas, eu, miserável pecador, vos saúdo, e peço vos digneis volver para mim vossos olhos cheios de misericórdia. Vêde, ó Maria, em que perigos me acho e acharei enquanto viver nesta terra, de perder minha alma, o paraíso e meu Deus. Em vós, ó minha Rainha, hei posto todas as minhas esperanças. Amo-vos, e suspiro pelo momento de vos ir ver e louvar no paraíso. Ah, Maria! Quando chegará o dia em que me verei já salvo aos vossos pés? Quando beijarei essas mãos que me dispensaram tantas graças?

É verdade, ó minha Mãe, que muito ingrato vos tenho sido durante a minha vida; mas se chego ao paraíso, lá vos amarei a cada instante durante toda a eternidade, e repararei a minha ingratidão passada por bênçãos e ações de graças sem fim. A Deus agradeço por me dar esta confiança no sangue de Jesus Cristo e na vossa poderosa intercessão. Assim esperam os vossos verdadeiros servos e nenhum foi frustrado na sua esperança. Também eu não o serei.

— Ó Maria, suplicai a Jesus, vosso divino Filho, — assim como eu também o faço pelos merecimentos da sua Paixão, — que confirme e aumente sempre mais em mim estas esperanças. Amém.

Referências:

(1) Eclo 24, 11
(2) Eclo 24, 30


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 331-334)

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

A Paixão de Jesus Cristo, nossa Consolação

Lancemos um olhar a Jesus Crucificado

Recogitate eum qui talem sustinuit a peccatoribus adversum semetipsum contradictionem, ut ne fatigemini, animis vestris deficientes“Não deixeis de pensar naquele que dos pecadores suportou contra si uma tal contradição; para que não vos fatigueis, desfalecendo em vossos ânimos” (Hb 12, 3)

Sumário. O Senhor chama com razão a si todos aqueles que sofrem e gemem sob o peso das tribulações; porque neste vale de lágrimas ninguém nos pode consolar tanto como Jesus crucificado. Em todas as perseguições, calúnias, desprezos, enfermidades, misérias, especialmente em vendo-nos opressos pelos sofrimentos e abandonados por todos, lancemos um olhar sobre a cruz de Jesus, lembremo-nos do muito que Ele sofreu por nós, unamos os nossos sofrimentos aos de Jesus e teremos achado o remédio mais eficaz para todos os nossos males.

I. Neste vale de lágrimas, quem nos pode consolar melhor do que Jesus crucificado? Nos remorsos de consciência, suscitados pela lembrança de nossos pecados que poderá melhor suavizar as nossas angústias, do que a certeza de que Jesus Cristo se quis entregar à morte a fim de satisfazer pelas nossas culpas? Dedit semetipsum pro peccatis nostris — “(Jesus) se deu a si mesmo pelos nossos pecados” (1). Em todas as perseguições, calúnias, desprezos, privações de bens e dignidades que nos sobrevêm na nossa vida, quem nos poderá melhor fortalecer, para sofrermos com paciência e resignação, do que Jesus Cristo desprezado, caluniado e pobre, que morre numa cruz nu e abandonado por todos?

Quando estamos doentes, deitamo-nos numa cama bem arranjada; quando, porém, Jesus estava enfermo na cruz na qual morreu, não teve outro leito senão um rude lenho, em que foi pregado com três cravos; nem teve outro travesseiro senão a coroa de espinhos, que continuou a atormentá-lo até ao último suspiro. Quando estamos doentes, vemos o leito rodeado de parentes e amigos, que se compadecem de nós, e nos procuram distrair; Jesus morreu cercado de inimigos, que ainda na hora da sua agonia e da morte já próxima o injuriavam e escarneciam como a um malfeitor e sedutor.

Nada consola tanto um enfermo nas dores que sofre, especialmente quando na sua enfermidade se vê abandonado por todos os mais, como a vista de Jesus crucificado. Ah! O alívio maior que então pode experimentar um pobre enfermo, é unir os próprios sofrimentos aos de Jesus Cristo. — Ainda nas angústias mais acerbas da morte, tais como os assaltos do inferno, a vista dos pecados cometidos e as contas que em breve se terá que dar ao Juiz divino, a única consolação que pode haver um moribundo, já nas vascas da morte, é abraçar o Crucifixo e dizer: Meu Jesus e meu Redentor, Vós sois o meu amor e a minha esperança.

II. Toda a verdadeira consolação que podemos desejar, todas as graças que Deus nos concede, todas as luzes, inspirações, santos desejos, bons afetos, dor dos pecados, bons propósitos, amor de Deus, esperança do céu: todos estes bens são frutos e dons que nos veem da Paixão de Jesus Cristo. Pelo que São Boaventura nos anima dizendo que “aquele que se aplica a meditar com devoção na vida e paixão santíssima do Senhor, acha ali tudo de que precisa; e nada terá que buscar fora de Jesus”. E Santo Agostinho acrescenta que para obtermos graças celestes especiais vale mais uma só lágrima derramada em memória da Paixão do Senhor, do que uma peregrinação a Jerusalém e um ano de jejum a pão e água.

Mas quem mais ânimo nos inspira, é nosso divino Redentor: Venite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis; et ego reficiam vos (2) — “Vinde a mim todos os que vos achais em sofrimentos e sobrecarregados; e eu vos aliviarei”. Meus queridos filhos, diz Jesus, vós que gemeis sob o peso das culpas próprias e sois combatidos pela concupiscência e corrupção do homem velho, ah! Não percais o ânimo. Chegai-vos à minha cruz, recorrei a mim e eu vos livrarei de todo o mal; persuadi-vos de que em nenhuma parte achareis remédio tão eficaz, como na meditação de minhas chagas.

Ó meu Jesus, que esperança me poderia restar, a mim, que tantas vezes Vos voltei as costas e mereci o inferno? Que esperança poderia ainda nutrir, de um dia, entre tantas virgens inocentes, entre tantos santos mártires, entre os apóstolos e serafins, ir gozar no céu de vossa bela face, se Vós, meu Salvador, não tivésseis morrido por mim? É a vossa Paixão que, apesar dos meus pecados, me faz esperar de um dia ir na companhia dos Santos e de vossa santíssima Mãe, cantar as vossas misericórdias, agradecer-Vos e amar-Vos para sempre no paraíso. Meu Jesus, assim espero. Misericordias Domini in aeternum cantabo (3) — “Eu cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”.

— Ó Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim.

Referências:

(1) Gl 1, 4
(2) Mt 11, 28
(3) Sl 88, 2


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 329-331)

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Santo do dia

28 de novembro dia de Santa Catarina Labouré,Virgem.


  Santa Catarina Labouré, nasceu (2 de maio de 1806 )em Fain-lès-Moutiers, filha de Pierre Labouré. Quando tinha nove anos sua mãe morreu, e Catarina, a pedido de seu pai, passou a cuidar de dois de seus irmãos.Com o chamado da vida religiosa entrou para as Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo tornando-se uma noviça das Irmãs da Caridade em Paris, França, no século XIX.Foi co-fundadora da Pontifícia Associação da Juventude Mariana Vicentina (J.M.V.),fundada por seu diretor espiritual, o sacerdote francês, Joao Maria Aladel da Congregação da Missão, uma Associação de Filhos e Filhas de Maria, atualmente conhecida como Juventude Mariana Vicentina, responsável pela difusão da Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças e quem recebeu algumas aparições de Nossa Senhora reconhecidas pela Santa Igreja Católica essa revelação que nós deu um Sacramental: a Medalha Milagrosa.
   A primeira aparição aconteceu na noite da festa de São Vicente de Paulo, 19 de Julho, quando a Madre Superiora de Catarina pregou às noviças sobre as virtudes de seu santo fundador, dando a cada uma um fragmento de sua sobrepeliz. Catarina então orou devotamente ao santo patrono para que ela pudesse ver com seus próprios olhos a Mãe de Deus, e convenceu-se de que seria atendida naquela mesma noite.
   Indo ao leito, adormeceu, e antes que tivesse passado muito tempo foi despertada por uma luz brilhante e uma voz infantil que dizia: "Irmã Labouré, vem à capela; Santa Maria te aguarda". Mas ela replicou: "Seremos descobertas!". A voz angélica respondeu: "Não te preocupes, já é tarde, todos dormem... vem, estou à tua espera". Catarina então levantou-se depressa e dirigiu-se à capela, que estava aberta e toda iluminada. Ajoelhou-se junto ao altar e logo viu a Virgem sentada na cadeira da superiora, rodeada por um esplendor de luz. A voz continuou: "A santíssima Maria deseja falar-te". Catarina adiantou-se e ajoelhou-se aos pés da Virgem, colocando suas mãos sobre seu regaço, e Maria lhe disse: "Deus deseja te encarregar de uma missão. Tu encontrarás oposição, mas não temas, terás a graça de poder fazer todo o necessário. Conta tudo a teu confessor. Os tempos estão difíceis para a França e para o mundo. Vai ao pé do altar, graças serão derramadas sobre todos, grandes e pequenos, e especialmente sobre os que as buscarem. Terás a proteção de Deus e de São Vicente, e meus olhos estarão sempre sobre ti. Haverá muitas perseguições, a Cruz será tratada com desprezo, será derrubada e o sangue correrá". Depois de falar por mais algum tempo, a Virgem desapareceu. Guiada pelo anjinho, Catarina deixou a capela e voltou para sua cela.
  Catarina continuou sua rotina junto das Irmãs da Caridade até o Advento. Em 27 de novembro de 1830, no final da tarde, Catarina dirigiu-se à capela com as outras irmãs para as orações vespertinas. Erguendo seus olhos para o altar, ela viu novamente a Virgem sobre um grande globo, segurando um globo menor onde estava inscrita a palavra "França". Ela explicou que o globo simbolizava todo o mundo, mas especialmente a França, e os tempos seriam duros para os pobres e para os refugiados das muitas guerras da época.
  Então a visão modificou-se e Maria apareceu com os braços estendidos e dedos ornados por anéis que irradiavam luz e rodeada por uma frase que dizia: "Oh Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós". Desta vez a Virgem deu instruções diretas: "Faz cunhar uma medalha onde apareça minha imagem como a vês agora. Todos os que a usarem receberão grandes graças". Catarina perguntou por que alguns anéis não irradiavam luz, e soube que era pelas graças que não eram pedidas. Então Maria voltou-lhe as costas e mostrou como deveria ser o desenho a ser impresso no verso da medalha. Catarina também perguntou como deveria proceder para que a ordem fosse cumprida. A Virgem disse que ela procurasse a ajuda de seu confessor, o padre Jean Marie Aladel.
  De início o padre Jean não acreditou no que Catarina lhe contou, mas depois de dois anos de cuidadosa observação do proceder de Catarina ele finalmente dirigiu-se ao Arcebispo, que ordenou a cunhagem de duas mil medalhas, ocorrida em 20 de junho de 1832. Desde então a devoção a esta medalha, sob a invocação de Santa Maria da Medalha Milagrosa, não cessou de crescer. Catarina nunca divulgou as aparições, salvo pouco antes da morte, autorizada pela própria Virgem Maria Imaculada.
Entregou sua alma dia 31 de dezembro de 1876.
Seu corpo foi exumado em 1933, sendo encontrado incorrupto, e hoje é exposto à veneração na capela de sua Ordem, a mesma onde aconteceram as visões, na Rue du Bac, 140, em Paris. Foi beatificada em 1933 pelo Papa Pio XI e canonizada em 27 de julho de 1947 pelo Papa Pio XII, 100 anos após a aprovação pontifical da Juventude Mariana Vicentina (J.M.V.), solicitada pela própria Catarina e pelo Padre Aladel.



Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

 Da assistência à Santa Missa

Da Assistência à Santa Missa

Immolabit (agnum) universa multitudo filiorum Israel “Toda a multidão dos filhos de Israel imolará (um cordeiro)” (Ex 12, 6)

Sumário. Para ouvir a missa com devoção, devemos ter bem presente que o sacrifício do altar é o mesmo que foi um dia oferecido no Calvário, posto que se ofereça sem derramamento de sangue. Avivemos, pois, a nossa fé, e, quando assistirmos aos augustos mistérios, afiguremo-nos que em companhia de Maria Santíssima e de São João estamos ao pé da árvore da Cruz, para oferecer ao Pai Eterno a vida de seu Filho adorável. E, quando tivermos a ventura de comungar, façamos que bebemos o Sangue preciosíssimo do Coração amável de Jesus Cristo.

I. Para ouvir a missa com devoção, devemos ter bem presente que o sacrifício do altar é o mesmo que foi oferecido um dia no Calvário; com esta diferença: que ali o sangue de Jesus se derramou realmente, e aqui só se derrama misticamente. Se então tivesses estado no Calvário, com que devoção e ternura terias assistido a tão sublime sacrifício! Aviva, pois, a tua fé e pensa que a mesma oferenda de então se renova sobre o altar pela mão do sacerdote. Por isso, cada vez que assistires à missa, afigura-te que em companhia de Maria Santíssima e de São João te achas ao pé da árvore da Cruz, para ofereceres a Deus Pai a vida de seu adorável Filho. Se tiveres ainda a ventura de comungar, faze que da chaga do sagrado Coração de Jesus estás bebendo o seu preciosíssimo Sangue.

Além disso deves lembrar-te que o assistir à missa é de algum modo oferecê-la; porque o sacerdote, sendo ministro público, obra, fala e ora em nome de todos os fiéis e em particular daqueles que assistem. De modo que, ouvindo devotamente a missa, também tu, posto que não sejas sacerdote, ofereces de algum modo a Deus um sacrifício de valor infinito, e pagas-Lhe, segundo a justiça, as quatro grandes dividas que Lhe deves: a de honrá-Lo tanto como merece a sua grandeza; a de satisfazer-Lhe, conforme exige a sua justiça; a de agradecer-Lhe à proporção da sua liberalidade; e finalmente a de pedir-Lhe tudo o que exige a nossa miséria.

É, pois, com razão que um autor célebre dizia:

“Antes quisera eu perder o mundo inteiro, do que uma só missa, porque sei que o que na terra podemos fazer de mais sublime para a glória de Deus é exatamente a missa, na qual o próprio Jesus Cristo se oferece para dar a seu Pai uma glória infinita. — Que consolo sinto depois de assistir à missa! Então, posto que não seja sacerdote, eu também ofereci à Deus um sacrifício de valor infinito. Ó meu amado Jesus, que tesouro inestimável possuímos em Vós, se soubéssemos apreciá-lo.” (1)

II. Ainda que a missa tenha um valor infinito, Deus o aceita de um modo finito, segundo a disposição daquele que a ouve. Por isso, procura ouvir quantas missas puderes. — Visto que a Igreja católica tem seus ministros em todas as regiões que o sol ilumina sucessivamente, e assim, por consequência, não há hora do dia ou da noite em que não se celebre em alguma parte do mundo o divino sacrifício, forma de manhã a intenção de assistir a todos estos milhares de missas, e com este pensamento consolador santifica todas as ocupações do dia e todos os momentos de insônia durante a noite.

Convence-te de que o dia começado devotamente ao pé do altar será um dia acompanhado da bênção de Jesus Cristo; será, portanto, um dia cristão e cheio de merecimentos para a vida e para a eternidade. Oh! Quão abundante provisão de paciência, de força, de resignação para durante o dia tiram as almas desta fonte inesgotável do divino sacrifício!

Meu Deus, adoro a vossa Majestade infinita e quisera honrar-Vos tanto como mereceis. Mas que honra Vos pode dar um pecador miserável? Ofereço-Vos a honra que continuamente Vos tributa Jesus Cristo sobre o altar em todas as missas que agora estão sendo celebradas e serão celebradas no futuro, até à consumação dos séculos.

— Detesto, ó Senhor, e abomino mais que todos os males, os desgostos que Vos hei causado, e em satisfação ofereço-Vos o vosso Filho, que por nosso amor se sacrifica novamente sobre o altar. Eu Vô-lo ofereço também em ação de graças por todos os favores que me tendes dispensado desde o princípio da minha vida até ao presente. Rogo-Vos, pelos merecimentos desse preciosíssimo Sangue, que me perdoeis as ingratidões para convosco, e me concedais um amor ardente a Jesus sacramentado, e a santa perseverança até à morte.

— Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe, Maria, peço-vos a mesma graça.

Referências:

(1) M. de Bernières


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 326-329)

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

MARIA SANTÍSSIMA CONDUZ OS SEUS SERVOS AO PARAÍSO

Qui me invenerit, inveniet vitam, et hauriet salutem a Domino“Aquele que me achar, achará a vida, e haverá do Senhor a salvação” (Prov. 8, 35).

Sumário. De que seve inquietarmo-nos com as sentenças das escolas sobre a predestinação para a glória? Quem é verdadeiramente servo de Maria está certo de que está escrito no livro da vida e se salvará; porque de todos aqueles que perseveram na sua devoção a esta bem-aventurada Mãe, ninguém se perdeu. Só se condena aquele que não recorre a ela ou deixa de ser seu servo. Procuremos, portanto, entrar sempre mais e permanecer nesta arca da salvação; e cada vez que nos for possível, procuremos, por palavras e exemplos, fazer que outros também ali entrem.

Oh! Que belo sinal de predestinação têm os servos de Maria! A santa Igreja aplica a esta bem-aventurada Mãe as palavras da Sabedoria divina e lhe faz dizer:In omnibus requiem quaesivi et in haereditate Domini morabor(1) — “Em toda parte busquei repouso e morarei na herança do Senhor”. A Santíssima Virgem, pelo amor que tem para com os homens, procura fazer que em todos reine a sua devoção. Muitos ou não a recebem, ou não a conservam; porém, bem-aventurado aquele que a recebe e a conserva, porque nesta devoção habita em todos aqueles que são a herança do Senhor, isto é, que irão ao céu louvá-Lo eternamente.

Qui audit me, non confundetur (2) — “Aquele que me ouve, não será confundido”. De todos aqueles que recorreram a esta Rainha de misericórdia, nenhum ficou confundido. A experiência de todos os dias demonstra que aqueles que operam por ela, que a honram, e especialmente aqueles que com palavras e exemplos procuram que outros também a amem, nunca cairão em pecado e viverão eternamente. Numa palavra, diz Maria Santíssima: Aquele que me achar, achará a vida, e haverá do Senhor a salvação. Ao contrário, aquele que de mim se afastar, achará infalivelmente a morte; porque ficará privado daqueles socorros que não se dispensam aos homens senão pelo meu intermédio. — É assim que a santa Igreja, de acordo com todos os Doutores, faz a divina Mãe falar, para conforto dos seus servos. — De que serve, pois, inquietarmo-nos com as sentenças das Escolas, sobre se a predestinação para a glória é anterior ou posterior à previsão dos merecimentos? Se estamos ou não escritos no livro da vida? Se formos verdadeiros servos de Maria, e alcançarmos a sua proteção, seguramente nele havemos de ser inscritos e nos salvaremos.

Santa Maria Madalena de Pazzi viu no meio do mar uma pequena nau, em que estavam embarcados todos os devotos de Maria, e ela, fazendo ofício de piloto, seguramente os conduzia ao porto do céu. Procuremos, pois, entrar nesta nau bem aventurada da proteção de Maria, sejamos devotos verdadeiros da Virgem, pois assim estaremos seguros de alcançar o reino do céu.

Não nos contentemos com amar, só por nós, esta Senhora amabilíssima; mas sempre que nos for possível, em público ou em particular, esforcemo-nos para que ela seja também amada dos outros. Fazendo isso, exerceremos um apostolado muito frutuoso, pois que todos aqueles que por nosso intermédio abraçarem a devoção para com Maria Santíssima, serão depois os nossos eternos companheiros no céu.

Ó Rainha do paraíso, que assenta acima de todos os coros angélicos, ocupais o primeiro lugar junto do trono de Deus! Do fundo deste vale de lágrimas, eu, miserável pecador, vos saúdo, e peço vos digneis volver para mim vossos olhos cheios de misericórdia. Vêde, ó Maria, em que perigos me acho e acharei enquanto viver nesta terra, de perder minha alma, o paraíso e meu Deus. Em vós, ó minha Rainha, hei posto todas as minhas esperanças. Amo-vos, e suspiro pelo momento de vos ir ver e louvar no paraíso. Ah, Maria! Quando chegará o dia em que me verei já salvo aos vossos pés? Quando beijarei essas mãos que me dispensaram tantas graças?

É verdade, ó minha Mãe, que muito ingrato vos tenho sido durante a minha vida; mas se chego ao paraíso, lá vos amarei a cada instante durante toda a eternidade, e repararei a minha ingratidão passada por bênçãos e ações de graças sem fim. A Deus agradeço por me dar esta confiança no sangue de Jesus Cristo e na vossa poderosa intercessão. Assim esperam os vossos verdadeiros servos e nenhum foi frustrado na sua esperança. Também eu não o serei. — Ó Maria, suplicai a Jesus, vosso divino Filho, — assim como eu também o faço pelos merecimentos da sua Paixão, — que confirme e aumente sempre mais em mim estas esperanças. Amém. (*I 123.)

  1. Ecclus. 24, 11.
    2. Ecclus. 24, 30.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso


Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

 A pena da perda de Deus é o que faz o inferno

Lamentação

Iniquitates vestrae diviserunt inter vos et Deum vestrum “As vossas iniquidades fizeram uma separação entre Vós e vosso Deus” (Is 59, 2)

Sumário. A malícia do pecado mortal consiste no desprezo da graça divina e na perda voluntária de Deus, o Bem supremo. Com toda a justiça, pois, a maior pena do pecador no inferno é tê-lo perdido, sem esperança de O tornar a achar. Se quisermos ter uma garantia de não incorrermos em tamanha desgraça, demo-nos inteiramente e sem reservas ao Senhor. O que não se dá inteiramente a Deus ou o serve com tibieza, corre grande risco de O perder para sempre.

I. A gravidade da pena deve corresponder à gravidade do delito. Os teólogos definem o pecado mortal por estas duas palavras: aversio a Deo — “aversão de Deus”. Eis, pois, em que consiste a malícia do pecado mortal: consiste no desprezo da graça divina e na perda voluntária de Deus, o Bem supremo. Pelo que com toda a justiça a maior pena do pecador no inferno é o ter perdido a Deus.

São grandes as demais penas do inferno: o fogo que devora, as trevas que obcecam, os uivos dos condenados que ensurdecem, o mau cheiro que faria morrer aqueles desgraçados se pudessem morrer, a estreiteza que os oprime e lhes tolhe a respiração; mas todas estas penas nada são comparadas com a perda de Deus. No inferno os réprobos choram eternamente, mas o objeto mais amargoso do seu choro é o pensar que perderam a Deus pela sua culpa.

Ó Deus, que grande bem perderam eles! Durante esta vida os objetos que nos rodeiam, as paixões, as ocupações temporais, os prazeres dos sentidos, as contrariedades não nos deixam contemplar a beleza e bondade infinita de Deus. Mas uma vez que a alma sai do corpo, reconhece logo que Deus é um bem infinito, infinitamente formoso, e digno de amor infinito. E sendo que foi criada para ver e amar esse Deus, quisera logo elevar-se a Ele e com Ele unir-se. Como, porém, está em pecado, acha levantado um muro impenetrável, quer dizer, o pecado mesmo que lhe fecha para sempre o caminho para Deus: As vossas iniquidades fizeram uma separação entre vós e o vosso Deus.

— Meu Senhor, graças Vos dou, porque não me foi ainda fechado este caminho, como tinha merecido, e porque posso ainda ir para Vós. Peço-Vos, não me repilais! Meu Jesus, com Santo Inácio de Loyola Vos direi: Aceito toda a pena, mas não a de ser privado de Vós.

II. Se quisermos ter uma garantia de que não perderemos o nosso Deus, consagremo-nos inteiramente a Ele. O que não se dá todo a Deus corre sempre o risco de Lhe virar as costas e de O perder. Uma alma, porém, que resolutamente se desapega de todas as coisas e se dá toda a Deus, não O perde mais; porquanto, Deus mesmo não consentirá que uma alma que se Lhe deu de todo o coração Lhe volte as costas e O perca. Pelo que um grande Servo de Deus dizia que, em lendo-se a queda de alguns que primeiro levaram vida santa, se deve concluir que eles nunca se deram a Deus com todas as véras.

— Demo-nos, pois, ao Senhor sem reserva e roguemos-Lhe sempre pelos merecimentos de Jesus Cristo que nos livre do inferno. Especialmente deve pedir isso aquele que na sua vida já perdeu a Deus por algum pecado grave.

Ai de mim, ó Senhor, que pelo desprezo da vossa graça mereci estar para sempre separado de Vós, meu Bem supremo, e odiar-Vos para sempre. Agradeço-Vos o me haverdes suportado quando estava na vossa inimizade: se então tivesse morrido, que seria de mim? Mas já que me prolongastes a vida, fazei que dela nunca me sirva para Vos ofender de novo, mas unicamente para Vos amar e para chorar os desgostos que Vos dei.

Meu Jesus, d’oravante sereis Vós o meu único amor; e o meu único temor será o de Vos ofender e de me separar de Vós. Nada, porém, posso, se não me ajudardes. Prendei-me sempre mais a Vós pelos laços de vosso santo amor; reforçai as santas e doces correntes de salvação, que me liguem mais e mais convosco. Pelos méritos de vosso Sangue espero que me ajudareis para ser sempre vosso, ó meu Redentor, meu amor, meu tudo: Deus meus et omnia.

— Ó grande Advogada dos pecadores, Maria, ajudai um pecador que se recomenda a vós e em vós confia.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 324-326)

FESTA DA APARIÇÃO DA MEDALHA MILAGROSA

27 DE NOVEMBRO

NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, MEDALHA MILAGROSA

Nossa Senhora da Medalha Milagrosa é uma invocação especial pela qual é conhecida a Santíssima Virgem Maria, também invocada com a mesma intenção sob o nome de Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças.

Medianeira (em latim: Mediatrix) na mariologia refere-se ao papel da Virgem Maria como sendo mediadora de todas as graças e bençãos através de Jesus. É um conceito distinto de Co-Redentora. Essa doutrina é baseada no fato de que Maria deu à luz Nosso Senhor Jesus, que é a responsável por todas as graças e bençãos concedidas à humanidade, assim ela participou da mediação dessas graças, devido ao seu Filho ter sido concebido em Seu Seio. Papas, como Leão XIII e Pio XII têm tradicionalmente apoiado esta interpretação.

No século XIX, o termo medianeira aparece na bula papal "Ineffabilis Deus" do Papa Pio IX, e em vários encíclicas sobre o Santo Rosário do Papa Leão XIII. O Papa Pio X utilizado o termo na encíclica "Ad Diem illum" e o Papa Bento XV introduziu uma nova festa Mariana em que ela é colocada como Medianeira de todas as graças (em 1921).

A hiperdulia, que está inserido na dulia, diferencia-se muito da latria, que é o culto de adoração prestado e dirigido unicamente a Deus. A Igreja ensina diferença de culto a Deus, a Virgem Maria aos santos.

Assim, diz adorar somente a Deus, prestando-lhe culto de "latria", a Virgem Maria somente venerar com o culto de "hiperdulia" e aos santos o culto de veneração simples denominado de "dulia", fundado no dogma da comunhão dos santos. Este dogma ensina que os habitantes do Céu, através da sua oração, são os nossos intercessores junto de Deus, sendo este facto favorável ao gênero humano. Logo, eles são dignos da nossa veneração. A veneração especial à Virgem Maria deve-se ao facto de ela ser a Mãe de Deus, e por extensão, a Mãe de todos; a Rainha de todos os Santos e concebida sem pecado original (Imaculada Conceição, isto significa que mesmo as graças concedidas aos santos passam primeiro nas mãos da Virgem Maria) e, como tal, e a única e perfeita mediadora diante de Nosso Senhor Jesus Jesus Cristo e Nosso Senhor diante do Pai (Timóteo II. 5,  Santo Tomás de Aquino, Nosso Senhor Jesus Cristo é o perfeito mediador entre Deus Pai).

MISSAL QUOTIDIANO COMPLETO / EM PORTUGUÊS com o próprio do Brasil edição B - editado e impresso nas oficinas do Mosteiro de São Bento / Bahia, 23 de dezembro de 1957.

 

A HISTÓRIA DA MEDALHA

27 de Novembro: Sobre a "Medalha Miraculosa", conhecida também como "Medalha de Nossa Senhora das Graças"

O bom uso de medalha

Usar uma medalha, portanto, não é superstição.

No Concílio de Trento de 1563, a Igreja estabeleceu o uso correto de imagens, estátuas, medalhas, escapulários, lembrando aos cristãos que, naturalmente, quando veneramos imagens de Cristo, da Virgem e dos Santos, não depositamos nossa confiança nas imagens: a honra que damos a eles está relacionada à pessoa que representam.

Isso é muito diferente da superstição, que atribui um efeito oculto a um objeto, automático, mas vão. 

A medalha, nascida da aparição da Santíssima Virgem a Catarina nesta capela é apenas um pequeno pedaço de metal: não deve ser considerado por nós como um talismã ou um amuleto com poder mágico, o que seria uma credulidade inútil de nossa parte.

A medalha milagrosa tem quatro especificidades. 

No início foi como se "desenhado" pela própria Virgem! Com efeito, esta mostrava a sua forma oval, a invocação a gravar, a sua efígie a ser colocada de um lado e os motivos simbólicos no reverso. Como resultado, a Virgem deu seu conteúdo; a mensagem, explícita e implícita, da sua própria identidade, da sua Imaculada Conceição, da sua cooperação na salvação dada pelo seu Filho divino e da sua maternidade divina.

Então a Santíssima Virgem deu as instruções de uso: "Àqueles que a usem com confiança", encontramos ali um eco das palavras de Jesus à mulher curada após ter tocado em seu manto: "Vai, a tua fé te salvou".

Por fim, a Virgem estabelece o seu objetivo: receber grandes graças, recordando-nos assim a misericórdia de Deus e o primado da vida espiritual.

A Santíssima Virgem atribui uma eficácia particular à sua medalha.

A Igreja sempre admitiu que atribuímos às relíquias, estátuas, medalhas, escapulários, milagres. 

Não foi Santa Joana de Chantal milagrosamente curada em 1618 pela imposição das relíquias de São Carlos Borromeu pelas mãos de São Francisco de Sales? São Maximiliano Kolbe, em 1912, não salvou o polegar direito da amputação com a aplicação da água de Lourdes?

Claro, é Deus quem faz milagres, mas Ele quer fazê-los, às vezes, por meio de objetos de piedade muito materiais, pela intercessão de seus servos fiéis, os santos, e primeiro, de sua Mãe! 


A mensagem da medalha é um apelo à confiança na intercessão da Santíssima Virgem. 

Aceitemos humildemente pedir graças por meio de suas mãos!

Uma difusão deslumbrante

Depois das aparições, Catherine conhece sua missão: ganhar uma medalha. 

Ela a confiou ao Padre Aladel, um Lazarista. 

Nomeada para Reuilly, um bairro pobre de Paris, a Irmã Catherine trabalhava para idosos no hospício Enghien.

Enquanto a voz interior continua a insistir, Catherine um dia fica encorajada: "A Santíssima Virgem está infeliz porque você não a está ouvindo", disse ela ao Monsenhor Aladel: repreendido por esta advertência, esse decide agir e, com a concordância de seu superior, se rende ao nobre encargo.

Surpresa: o arcebispo de Paris, Mons. De Quélen, não vê objeções à cunhagem da medalha solicitada pela Virgem Maria! Também expressa o desejo de receber uma das primeiras a serem cunhadas.

Em fevereiro de 1832, uma terrível epidemia de cólera estourou em Paris, deixando mais de 20.000 mortos. Em junho, as primeiras medalhas confeccionadas pelo prateiro Vachette são distribuídas pelas Filhas da Caridade. Imediatamente, curas, conversões e proteções se multiplicam. É um maremoto. O povo de Paris chama a medalha da Imaculada de "medalha milagrosa".

Os milagres levantam questões sobre a origem da moeda. Uma primeira brochura foi publicada no início de 1834 pelo Abade Le Guillou, conselheiro do Arcebispo de Paris.

Finalmente, M. Aladel decide escrever: O Aviso foi publicado em agosto de 1834. Com 10.000 exemplares impressos, acabou em menos de dois meses, a segunda edição de outubro desapareceu ainda mais rápido.

Paralelamente, são divulgados relatos dos milagres obtidos, pinturas, gravuras e imagens que ilustram o acontecimento: mas Santa Catarina permanece nas sombras e continua seu serviço incógnita. Quando ela morreu em 1876, havia mais de um bilhão de medalhas difundidas pelo mundo.

As bulas papais

Em 1835, diante do "sucesso" da medalha, Dom de Quélen decidiu abrir um processo canônico que foi confiado a Quentin, Vigário Geral.

Na verdade, o reconhecimento oficial de uma aparição é geralmente feito pelo bispo local, que deve encontrar-se pessoalmente com o vidente.

Depois disso, se julgar conveniente, continua sua investigação e a transmite à Santa Sé por meio da Nunciatura.

No entanto, no caso de Santa Catarina, todo esse procedimento acaba sendo impossível porque o bispo Quentin esbarra em seu desejo, o dela, de permanecer anônima e silenciosa.

O julgamento, portanto, permanece inacabado

Em 1842, em Roma, Alphonse Ratisbonne, um jovem banqueiro judeu da Alsácia foi persuadido por um amigo a colocar a medalha em seu bolso. No dia seguinte, na Igreja de S. Andrea delle Fratte, apareceu-lhe a Virgem da Medalha Milagrosa: sua conversão repentina teve um grande impacto, sendo ela objeto de um julgamento canônico que será o ato mais oficial na matéria. 

O reconhecimento oficial das Aparições da Virgem Maria a Catarina foi feito graças à própria medalha!

Em 1854, Pio IX na bula "Ineffabilis Deus" definiu o dogma da Imaculada Conceição, ao que parece estar o grandioso Papa a fazer uma alusão deliberada à Medalha Milagrosa ao dizer de Maria que ela "apareceu no mundo, com sua Imaculada Conceição, como um amanhecer esplêndido que espalha seus raios por toda parte". 

Em 1894, Leão XIII aprovou a missa para a festa de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, composta pelos Lazaristas. 

Em 1897, o mesmo Leão XIII concedeu a coroação da "estátua da Imaculada Conceição conhecida como Medalha Milagrosa". 

Em 1947, após um julgamento que incluiu uma investigação sobre as aparições, Pio XII declarou Catarina santa.

Testemunhas

Entre aqueles que foram os primeiros a experimentar a eficácia da fé através da medalha concedida pela Virgem Maria, podemos citar o Bispo de Quélen que, após uma investigação cuidadosa dos fatos confirmados, torna-se um propagador convicto. Ele pessoalmente obtém curas inesperadas.

Em 1833, Frédéric Ozanam levou a medalha ao fundar as Conferências de Saint-Vincent-de-Paul em Paris.

Talvez o mais entusiasmado ainda seja o Cura d'Ars: em 1834 adquire uma estátua de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa e coloca-a sobre um tabernáculo, cuja porta reproduz o reverso da medalha e, em 1º de maio de 1836, consagrou sua paróquia a “Maria concebida sem pecado”. Ele se torna um apóstolo zeloso da Medalha, e com ela distribui centenas de imagens nas quais marca com a mão a data e o nome daqueles que se consagram à Imaculada.

Em 1843, o Sr. Etienne, Superior dos Vicentinos e das Filhas da Caridade, evoca as aparições como fonte de renovação vocacional e do novo fervor que anima as duas famílias.

Em 1845, o pastor anglicano John Newman, que usava a medalha desde 22 de agosto, converteu-se em 9 de outubro. Ele se tornará padre e, depois, cardeal.

Os apóstolos da medalha

Santa Bernadete, em Lourdes, usava a medalha antes das aparições da Virgem, que descreve em carta à Irmã Catarina: "É a mesma", disse ela.

Santa Teresinha do Menino Jesus levou consigo a Medalha Milagrosa ao Carmelo.

Em 1915, por iniciativa do Padre Joseph Skelly, nasce nos Estados Unidos, na Filadélfia, o Apostolado Mariano, com a Novena Perpétua da Medalha Milagrosa.

Um novo impulso é dado à divulgação da Medalha Milagrosa, graças ao Padre Kolbe. Este franciscano, nascido na Polônia, foi ordenado sacerdote em Roma, em 1919: ele queria celebrar sua primeira missa em San Andrea delle Fratte, onde a Imaculada converteu Ratisbona. Em 1917 fundou a Milícia da Imaculada, colocada sob o patrocínio da Virgem da Medalha Milagrosa; desenvolveu, também, um jornal mariano, "O Cavaleiro da Imaculada", que teve um sucesso esmagador. Partindo para o Japão em 1930, cruzou a França e foi para a rue du Bac, em Lourdes e Lisieux. Ele generosamente distribuía medalhas, dizendo: "Esta é a minha munição". Feito prisioneiro no campo de Auschwitz, ele morreu mártir em 14 de agosto e de 1941, dando sua vida em troca da de um pai.

Hoje, milhares de peregrinos passam pela rue du Bac todos os anos: a multidão anônima dos apóstolos da Medalha Milagrosa está espalhada pelo mundo.




terça-feira, 26 de novembro de 2024

Santo do dia

26 DE NOVEMBRO

SÃO SILVESTRE, ABADE E CONFESSOR

São Silvestre, nascido em 1177, em Ósimo, perto de Ancona e de Loreto, era filho dum jurista, Ghislério di Jacopo, e de Branca Ghislieri. Data dos tempos de estudante, da adolescência, de Bolonha e de Pavia, o conhecimento que teve de Benvenuto Scatiroli, futuro bispo de Ancona, ao qual se ligou por estreita amizade.

Resolvido a dedicar-se a Deus, deixou a tudo, e foi viver numa gruta, onde, conta-se, tinha por único companheiro um lobo. Logo, discípulos de toda a região começaram a procurá-lo, pela fama de santidade. Em 1231, tendo erguido um pequeno mosteiro, o número dos seus habitantes cresceu tão rapidamente que, de 1231 a 1267, acabou por fundar outros doze, onde viviam quatrocentos e trinta e três monges.

O Papa Inocêncio IV aprovou a nova congregação que surgira, beneditina, em 1247. Eremitismo, cenobitismo rústico e pobre, trabalhos manuais, ideal capaz de rivalizar com o objetivo dos religiosos mendicantes, isto era, de início, o que praticaram os futuros silvestrinos.

São Silvestre faleceu em Monte Fano na noite de 26 de novembro de 1267. Desde 1301, fala-se da Ordem de São Silvestre. Data de 1233, o primeiro mosteiro das monjas silvestrinas. Os silvestrinos tem, atualmente, missões no Ceilão, na Austrália, e na América do Norte.

Quase imediatamente depois do falecimento do filho de Ghislério e de Branca, o Papa Clemente IV autorizou o primeiro processo diocesano. O culto desenvolveu-se nas Marcas a principiar do século XIII. Leão XIII, em 1890, estendia a toda a Igreja o ofício e a missa de São Silvestre.

MISSAL QUOTIDIANO COMPLETO / EM PORTUGUÊS com o próprio do Brasil edição B - editado e impresso nas oficinas do Mosteiro de São Bento / Bahia, 23 de dezembro de 1957.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

Na morte tudo acaba

José Moreno Carbonero, Conversão do Duque de Gandia (S. Francisco de Borja), 1884, Museo del Prado, Madrid
José Moreno Carbonero, Conversão do Duque de Gandia (S. Francisco de Borja), 1884, Museo del Prado, Madrid

Dies mei breviabuntur; et solum mihi superest sepulchrum“Os meus dias se abreviam, e só me resta o sepulcro” (Jó 17, 1)

Sumário. A felicidade da vida presente é comparada por Davi ao sono de um homem que desperta; porque os bens deste mundo parecem grandes, mas em realidade nada são e duram pouco, como pouco dura o sono e logo se evapora. Já que nos temos que separar um dia desses bens, desprendamo-nos de tudo aquilo que nos afasta ou nos pode afastar de Deus, e não deixemos para amanhã o bem que podemos fazer hoje. Por terem procrastinado o bem, quantos se acham agora no purgatório e quiçá no inferno!

I. Davi chama à felicidade da vida presente sonho de um homem que desperta: Velut somnium surgentium (1); porque os bens deste mundo parecem grandes, mas em realidade nada são e duram pouco, assim como pouco dura o sonho e logo se evapora. Este pensamento determinou São Francisco de Borja a dar-se inteiramente a Deus.

O Santo foi encarregado de acompanhar à Granada o corpo da imperatriz Isabel. Quando abriram o caixão, o aspecto horrível e o mau cheiro do cadáver afugentaram toda a gente. Mas Francisco, guiado pela luz divina, deteve-se a contemplar naquele cadáver a vaidade do mundo e exclamou fitando-o:

“Sois vós então a minha imperatriz? Sois vós aquela diante de quem se prostravam respeitosos tão notáveis personagens? Ó Isabel, minha senhora, que é feito da vossa majestade, da vossa beleza?”… “É, pois, assim”, concluiu consigo, “que terminam as grandezas e coroas da terra! Quero para o futuro servir um senhor que me não possa ser roubado pela morte.”

Desde então consagrou-se inteiramente ao amor de Jesus crucificado, fazendo voto de abraçar o estado religioso, o que depois executou entrando na Companhia de Jesus.

Tinha, portanto, razão certo homem desiludido quando escreveu estas palavras sobre um crânio: Cogitanti vilescunt omnia — “Tudo se afigura desprezível àquele que reflete”. Quem pensa na morte, não pode amar a terra. Mas porque é que há tantos desgraçados que amam este mundo? Porque não pensam na morte. — Filii hominum, usquequo gravi corde (2) — Pobres filhos de Adão, diz o Espírito Santo, porque não arrancais do coração tantas afeições terrenas que vos fazem amar a vaidade e a mentira? O que aconteceu a vossos pais, acontecer-vos-á também. Habitaram eles essa mesma morada, dormiram nesse mesmo leito, e agora não estão mais aí. O mesmo vos acontecerá igualmente.

II. Meu irmão, cuida em dar-te sem demora todo inteiro a Deus, antes que a morte chegue, não deixes para amanhã o que podes fazer hoje, porque o dia presente passa e não volta mais, e amanhã pode vir a morte que nada mais te deixará fazer. Por causa dessas procrastinações, quantos estão agora no purgatório, e quiçá no inferno? Liberta-te quanto antes do que te afasta ou te pode afastar de Deus. Abandonemos pelo afeto os bens terrestres, antes que a morte no-los venha arrancar à força. — Beati mortui qui in Domino moriuntur (3). Felizes aqueles que, ao morrer, se acham já mortos para as afeições do mundo! Longe de recearem a morte, desejam-na e abraçam-na com alegria, pois, em lugar de os separar dos bens que amam, une-os ao soberano Bem, que é o único objeto do seu amor e que os tornará eternamente felizes.

Meu amado Redentor, agradeço-Vos o terdes esperado por mim. Que seria de mim, se me tivésseis deixado morrer quando estava longe de Vós? Seja sempre bendita a vossa misericórdia e a paciência que durante tantos anos me dispensastes. Agradeço-Vos a luz e a graça com que hoje me favoreceis. Então não Vos amava e pouco se me dava ser amado de Vós. Agora Vos amo de todo o coração, e não sinto maior pena do que a de haver desagradado tanto a um Deus tão bom.

Meu doce Salvador, porque não morri mil vezes antes de Vos ter ofendido! Tremo só ao pensar que no futuro Vos posso ofender ainda. Fazei-me morrer da morte mais cruel, antes que eu perca de novo a vossa graça. Fizestes-me tantas graças que não pedia, que já não receio me negueis a que Vos peço agora. Não permitais que Vos perca; dai-me o vosso amor e nada mais desejo. — Maria, minha esperança, intercedei por mim.

Referências:

(1) Sl 72, 20
(2) Sl 4, 3
(3) Ap 14, 13


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 322-324)


segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Santo do dia

 


25 DE NOVEMBRO

SANTA CATARINA DE ALEXANDRIA, VIRGEM E MÁRTIR

Nascida em uma linhagem real, ela era dotada pela natureza de um talento e uma beleza tão raros que foi considerada a jovem mais sortuda da cidade.

Formada em todas as ciências, mas sobretudo em filosofia pelos mais famosos retóricos, soube elevar o seu intelecto acima das coisas materiais e das criaturas para ascender ao Criador. Portanto, assim que ouviu falar da religião de Cristo, seu agudo engenho, auxiliado pela graça de Deus, entendeu que era a verdadeira e a teria abraçado imediatamente, se alguns laços terrestres não a tivessem impedido de dar o passo decisivo . Mas o Senhor, que queria que ela fosse sua noiva, apressou sua entrada no meio da multidão de pombas brancas a ele consagradas. Percebendo o amor que o Senhor tinha por ela, foi batizada, dedicando-se totalmente à caridade e à educação dos pagãos. E a fama de sua caridade e conhecimento cresceu tanto que chegou aos ouvidos do próprio imperador Maximino. homem tristemente famoso por sua ferocidade.

Mandou chamar Catherine em sua presença, para ter mais notícias do que ouvira sobre ela e para conhecer mais de perto aquela que tanto era festejada.

Mas assim que soube pela boca do próprio santo que ela era cristã, ordenou imediatamente, com ameaças e imprecações, que ela renunciasse ao culto que ele odiava e se sacrificasse a Júpiter. A alma viril de Catarina não se espantou com essas palavras, mas prontamente respondeu que ela estava decidida a permanecer na religião que professava, e começou a falar da vaidade dos deuses e da verdade do único Deus verdadeiro em palavras tão ardentes que o imperador ele mesmo estava perplexo.

Foi então confiado a alguns filósofos pagãos porque a convenceram do erro, mas ela conseguiu conduzi-los à verdadeira religião.

Com esse revés, o feroz imperador condenou aqueles novos convertidos a morrerem na fogueira e, levando Catarina, depois de grosseria e desprezo, ordenou que seu corpo fosse amarrado a uma roda e, em seguida, sua carne fosse arrancada com ganchos.

A Santa não se assustou com esta tortura, mas feliz por dar a vida por seu Esposo, ela se preparou para morrer nesses tormentos. Assim que aquele corpo virginal entrou em contato com o instrumento de seu martírio, quebrou-se ruidosamente, causando grande pânico entre os algozes. A mente de Maximin não desistiu e ele ordenou que a Santa fosse imediatamente retirada da cidade e sua cabeça cortada.

Quando ela chegou ao lugar do martírio, seus olhos estavam vendados e o carrasco com um golpe arrancou a cabeça de Catarina, mas leite abundante jorrou daquela ferida, o último testemunho de sua inocência.

Seu corpo foi transportado pelos próprios Anjos para o Monte Sinai e enterrado lá. Um suntuoso templo e um grandioso mosteiro foram então construídos sobre seu túmulo, o que tornou imperecível a memória desta virgem de Cristo.

OREMOS: Ó Deus, que deu a lei a Moisés no Monte Sinai e no mesmo lugar por meio de seus Anjos, você milagrosamente colocou o corpo de sua santa virgem e mártir Catarina, concede que por sua intercessão possamos alcançar a montanha eterna que é Cristo.


Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

Em que coisas nos devemos conformar com a vontade divina

Compaixão (William Bouguereau, 1825-1905)
Compaixão (William Bouguereau, 1825-1905)

Si bona suscepimus de manu Dei, mala quare non suscipiamus? “Se temos recebido os bens da mão de Deus, porque não receberemos também os males?” (Jó 2, 10)

Sumário. É certo que tudo o que acontece no mundo, acontece pela vontade ou permissão divina. Mesmo quando alguém nos prejudica nos nossos bens ou na reputação, ainda que Deus não queria o pecado do ofensor, quer todavia os efeitos, isto é, a nossa pobreza e humilhação. Quando, pois, nos acontecem desgraças, seja qual for a sua causa imediata, consideremo-las como vindas das mãos de Deus, e aceitemo-las não só com paciência, senão com alegria, porquanto serão no céu as joias mais preciosas da nossa coroa.

I. Devemo-nos conformar com a vontade de Deus, não só nos males que nos vêem diretamente d’Ele, tais como doenças, desolações espirituais, perda de bens ou de parentes; mas ainda nos que vêem só indiretamente de Deus, isto é, por meio dos homens, como infâmias, desprezos, injustiças e todas as outras espécies de perseguições. É de observar que, quando alguém nos faz algum agravo nos bens ou na honra, Deus não quer o pecado do que nos ofende, mas sim a nossa pobreza e a nossa humilhação. Numa palavra, tudo vem de Deus, tanto os bens como os males.

Chamam-se males, porque nós os chamamos e os fazemos assim. Se os recebêssemos com resignação das mãos de Deus, não seriam para nós males, mas bens. As pedras preciosas que mais adornam a coroa dos Santos, são as tribulações que aceitaram por amor de Deus, pensando que tudo nos vem das suas mãos divinas. — Quando o santo homem Jó recebeu a notícia de que os Sabeus lhe haviam roubado os bens, que respondeu ele? Dominus dedit, Dominus abstulit (1) — “O Senhor os deu, o Senhor os tirou”. Não disse: o Senhor me deu esses bens e os Sabeus m´os roubaram; mas disse: o Senhor m´os deu, o Senhor m´os tirou. Por isso bendisse o nome do Senhor, pensando que tudo tinha acontecido pela sua vontade: Sicut Domino placuit, ita factum est; sit nomen Domini benedictum.

Quando os santos mártires Epicteto e Astion eram atormentados com ganchos de ferro e tochas acesas, não proferiam senão estas palavras:

“Senhor, cumpra-se em nós a vossa vontade!”

E quando expiravam, as suas últimas palavras foram estas:

“Bendito sejais, ó Deus eterno, por nos terdes dado a graça de cumprir em nós o vosso santo beneplácito.”

— A mesma coisa nós devemos fazer, quando nos sucedam algumas contrariedades; recebamo-las todas da mão de Deus, não só com paciência, mas até com alegria; seguindo o exemplo dos apóstolos, que se regozijavam de ser maltratados pelo amor de Jesus Cristo (2). Que maior satisfação poderemos ter, do que abraçar algumas cruzes e saber que abraçando-as podemos ser agradáveis a Deus?

II. Se quisermos viver em paz contínua, tenhamos d´ora em diante, o cuidado de nos unirmos estreitamente à vontade de Deus, dizendo em tudo o que nos suceda: Ita, Pater, quoniam sic fuit placitum ante te (3) — “Senhor, assim é que foi do vosso agrado! Seja feito assim!”. Para este fim devemos dirigir todas as nossas meditações, comunhões, visitas e orações. Ofereçamo-nos incessantemente ao Senhor dizendo: Meu Deus, eis-me aqui: disponde de mim segundo a vossa vontade. Santa Teresa oferecia-se a Deus pelo menos cinquenta vezes ao dia, e pedia-lhe que dispusesse dela à sua vontade.

— Quando as cruzes se nos afigurarem demais pesadas, lancemos um olhar sobre Jesus crucificado e pensemos na glória celeste. As plantas destinadas a serem transplantadas ao paraíso devem deitar suas raízes no Calvário. Elas crescem tão somente à sombra da Cruz, e não se multiplicam enquanto não forem regadas pelo sangue que os açoites, os espinhos e os cravos fizeram correr das chagas do Salvador. Numa palavra, a Cruz demonstra a virtude dos santos e aperfeiçoa as obras.

Ah, meu divino Redentor! Vinde e doravante reinai só na minha alma. Atraí a Vós toda a minha vontade, a fim de que só deseje e queira o que Vós quiserdes. Meu Jesus, no passado tantas vezes Vos desagradei, opondo-me às vossas santas vontades; arrependo-me disso e detesto-o de todo o coração. Mereço os castigos, não os recuso; mas não me castigueis privando-me do vosso amor.

Ó Sangue do meu Jesus, em vós espero estar sempre ligado à divina vontade; ela será a minha guia, o meu desejo, o meu amor e a minha paz. Nela é que sempre quero viver e repousar. Em tudo o que me acontecer, direi sempre: Meu Deus, assim o quisestes, assim o quero; meu Deus, só quero o que Vós quiserdes, seja feita sempre em mim a vossa vontade: Fiat voluntas tua. Meu Jesus, pelos vossos merecimentos, concedei-me a graça de Vos repetir sem cessar esta bela palavra de amor: Seja feita a vossa vontade! — Fiat voluntas tua!

— Ó Maria, minha Mãe, como sois feliz por terdes sempre e em tudo cumprido a vontade de Deus! Fazei que também doravante eu a possa cumprir! Minha Rainha, por todo esse amor que tendes a Jesus Cristo, peço-vos que me alcanceis esta graça: de vós a espero.

Referências:

(1) Jó 1, 21
(2) At 5, 4
(3) Mt 11, 26


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 319-321)

domingo, 24 de novembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: 5ª e Última Semana depois de Pentecostes

 O Fim do Mundo e o Procedimento dos Bons Católicos em Tempo de Perseguição

Destruição de Jerusalém

Erit tunc tribulatio magna, qualis non fuit ab initio mundi usque modo “Será então a aflição tão grande, que, desde que há mundo até agora, não houve outra semelhante” (Mt 24, 21)

Sumário. A perseguição que o espírito infernal suscitará no fim do mundo não é a única que devemos temer. Cada dia os ímpios tramam uma revolta igual à do Anticristo, como de sobejo demonstram os males que nos sobrevêm e as guerras que a Igreja Católica tem de sustentar. Aproveitemos os ensinos que Jesus Cristo nos dá no presente Evangelho: Sejamos constantes na fé; humilhemo-nos perante Deus, confessando que temos merecido os seus castigos, e rezemos com fervor, a fim de que sejam abreviados os dias de provação.

I. No Evangelho de hoje Jesus Cristo nos fala da destruição de Jerusalém e ao mesmo tempo do fim do mundo prefigurado pela ruína daquela cidade infeliz. “Será tão grande a aflição”, diz Jesus, “que desde que há mundo até agora, não houve nem haverá outra semelhante. E se não se abreviassem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; mas hão de abreviar-se em atenção aos escolhidos: Propter electos breviabuntur dies illi.” (1)

— Passando depois a dar-nos avisos apropriados àqueles tempos, recomenda-nos o Senhor especialmente a constância na fé, e prossegue:

“Então, se alguém vos disser: Aqui está o Cristo, ou ei-lo acolá; não lhe deis crédito. Pois se levantarão falsos Cristos e falsos profetas; farão grandes prodígios e maravilhas tais, que (se fôra possível) até os escolhidos se enganariam. Vede que eu vô-lo adverti antes: Ecce praedixi vobis”.

Meu irmão, esperas e estás confiado que não presenciarás esta última tribulação, mas nem por isso creias que não te dizem respeito os avisos do Redentor. São Gregório afirma:

“A perseguição que o espírito infernal suscitará nos últimos tempos não é a única que devamos temer; porque cada dia os ímpios tramam a revolta do Anticristo, e até agora este mistério de iniquidade se planeja às ocultas no seu coração: Iam nunc occultus operatur”.

Ou, para melhor dizer, já está planejado e está sendo executado pela guerra continua e múltipla movida contra a Esposa de Jesus Cristo, a Igreja Católica. — Aproveita-te, pois, dos avisos do Senhor:

“Sede sóbrios e vigiai, porque vosso adversário, o diabo, como leão a rugir, anda ao redor, buscando a quem devore: resisti-lhe fortes na fé”. (2)

II. Abreviar-se-ão aqueles dias em atenção aos escolhidos. Assim como no tempo da destruição de Jerusalém foram abreviados os dias de miséria para os infelizes judeus, em atenção aos escolhidos; assim como em atenção aos mesmos serão para todos os homens abreviados os dias de tribulação na destruição final do mundo; assim Deus, em atenção às almas justas que vivem na Igreja, abreviará em sua infinita misericórdia para esta sua Esposa imaculada os dias de aflição e acelerará o desejado triunfo.

Meu irmão, se não podes de outro modo cooperar para este fim, faze-o pelo menos humilhando-te na presença de Deus, e reconhecendo que os castigos que nos oprimem são consequência dos nossos pecados. E, entretanto, não deixes de dirigir a Deus orações fervorosas. — A fim de que essas orações sejam mais facilmente atendidas, procura fazê-las o mais possível diante de Jesus sacramentado, que, na interpretação comum dos santos, é aquele corpo do qual fala o Evangelho e ao redor do qual se ajuntam as águias, isto é, as almas desapegadas dos afetos terrestres: Ubicumque fuerit corpus, illic congregabuntur et aquilae.

“Ó clementíssimo Jesus, Vós sois a nossa única salvação, a nossa vida e a nossa ressurreição. Nós Vos pedimos que não nos abandoneis em nossas angústias e tribulações; mas pela agonia do vosso Coração sacratíssimo e pelas dores de vossa Mãe imaculada, socorrei os vossos servos que remistes com vosso precioso sangue.” (3)

— Excitai também, ó Senhor, a vontade dos vossos fiéis; a fim de que pratiquem com maior fervor as obras de piedade, e mereçam com elas maiores remédios da vossa piedade.” (4)

— A vós também, ó grande Mãe de Deus, pedimos esta graça.

Referências:

(1) Mt 24, 22
(2) 1 Pd 5, 8
(3) Indulg. de 100 dias.
(4) Or. Dom. curr.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 316-318)

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 A sentença da alma culpada no juízo particular  Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolô et angelis eius – “A...