(em latim: Papa São Cornélio (em latim: Cornelius; Roma, 180 – Roma, junho de 253) foi papa de 6 ou 13 de março de 251 até a data do seu martírio. São Cornélio foi papa em um dos momentos mais problemáticos da Igreja, entre duas grandes perseguições e um cisma, e mostrou grande capacidade tanto de ser um líder teológico e espiritual, bem como um grande líder político e diplomático. São Cornélio dedicou sua vida ao cristianismo, e é considerado como modelo e inspiração para os futuros papas. e espiritual, bem como um grande líder político e diplomático. São Cornélio dedicou sua vida ao cristianismo, e é considerado como modelo e inspiração para os futuros papas.

Nascido em Cartago, no seio de uma rica família pagã, depois de uma juventude dissipada, Cipriano se converte ao cristianismo aos 35 anos. Ele mesmo narra seu itinerário espiritual: “Quando ainda jazia como em uma noite escura, me parecia sumamente difícil e fatigoso realizar o que me propunha a misericórdia de Deus. Estava ligado aos muitíssimos erros de minha vida passada, e não cria que pudesse libertar-me, até o ponto de que seguia os vícios e favorecia meus maus desejo. Mas depois, com a ajuda da água regeneradora, ficou lavada a miséria de minha vida precedente; uma luz soberana se difundiu em meu coração, um segundo nascimento me regenerou em um ser totalmente novo. De maneira maravilhosa começou a dissipar-se toda dúvida. Compreendia claramente que era terreno o que antes vivia em mim, na escravidão dos vícios da carne, e pelo contrário, era divino e celestial o que o Espírito Santo já havia gerado em mim” («A Donato», 3-4). Logo depois de se converter, Cipriano foi ordenado sacerdote e em seguida se tornou bispo. Sofreu perseguições, mas se manteve sempre disciplinado em sua comunidade cristã. Nesse mesmo tempo de desafios evangelizadores e disciplinares, a África foi atingida por uma grave epidemia e que gerou questões teológicas angustiantes, tanto na comunidade em questão quanto em relação aos pagãos que ainda eram muitos.

Cipriano, ficou conhecido por sua fidelidade à Igreja e por seus textos teológicos onde defendeu com firmeza o bom comportamento dos fiéis. De fato, a Igreja é seu tema preferido. Distingue entre Igreja visível, hierárquica, e Igreja invisível, mística, mas afirma com força que a Igreja é uma só, fundada sobre Pedro. Por várias vezes repete que “quem abandona a cátedra de Pedro, sobre a qual está fundada a Igreja, fica na ilusão de permanecer na Igreja” (A unidade da Igreja Católica, 4). Ainda em tom de autoridade, afirma que “fora da Igreja não há salvação” (Epístola 4, 4 e 73,21), e que “não pode ter Deus como Pai que não tem a Igreja como mãe” (A unidade da Igreja Católica, 4). Característica irrenunciável da Igreja é a unidade, simbolizada pela túnica de Cristo sem costura (ibidem, 7): unidade que, segundo diz, encontra seu fundamento em Pedro (ibidem, 4) e sua perfeita realização na Eucaristia (Epístola 63, 13). “Só há um Deus, um só Cristo», exorta Cipriano, «uma só é sua Igreja, uma só fé, um só povo cristão, firmemente unido pelo fundamento da concórdia: e não pode separar-se o que por natureza é um” (A unidade da Igreja Católica, 23). Além dessa fidelidade incondicional, Cipriano tem uma forte opinião sobre a oração. “Nossa oração é pública e comunitária e, quando rezamos, não rezamos só por nós, mas por todo o povo, pois somos uma só coisa com todo o povo” (A oração do Senhor, 8). Deste modo, oração pessoal e litúrgica se apresentam firmemente unidas entre si. Sua unidade se baseia no fato de que respondem à mesma Palavra de Deus. O cristão não diz “Pai meu”, mas “Pai nosso”, inclusive, no segredo de seu quarto fechado, pois sabe que em todo lugar, em toda circunstância, é membro de um mesmo Corpo. Assim, Cipriano- “o bispo abençoado” como era chamado- deixou claro suas origens da fecunda tradição teológico-espiritual que está no coração. Coração este que é considerado o local mais privilegiado da oração.
Cipriano a Cornélio, seu irmão. Tive notícias, irmão caríssimo, dos gloriosos testemunhos de vossa fé e fortaleza. Recebemos com tanta exultação a honra de vossa confissão que também nos julgamos participantes e companheiros de vossos merecidos louvores. Pois se em nós e na Igreja só há um modo de pensar e indivisa concórdia, qual o sacerdote que não se rejubilaria como próprios com os louvores dados a seu irmão no sacerdócio? Ou que fraternidade não se alegraria com o júbilo de todos os irmãos?
Impossível expressar como foi grande esta exultação e alegria, quando fui informado de vossas vitórias e atos de coragem. Nisto foste o primeiro, durante o interrogatório dos irmãos. O testemunho do chefe ainda foi acrescido pela confissão dos irmãos. Enquanto vais à frente na glória, fazes muitos companheiros nesta glória e estimulas o povo a dar testemunho por estares preparado, primeiro que todos, a confessar em nome de todos. Não sabemos o que primeiro elogiar em vós: se vossa fé decidida e estável, se o indefectível amor fraterno. Aí se provou de público a virtude do bispo indo à frente, e se revelou a união da fraternidade que o seguia. Já que em vós só há um coração e uma só voz, foi toda a Igreja Romana que testemunhou.
Tornou-se evidente, irmão caríssimo, a fé que o Apóstolo já tinha louvado em vós. Já então ele previa a virtude louvável e a firmeza da coragem, atestando com isso vossos méritos futuros. O elogio aos pais era estímulo aos filhos. Por serdes assim unânimes, assim fortes, destes exemplos de unanimidade e de fortaleza aos outros irmãos. Sinais da providência do Senhor nos avisam, e palavras salutares da divina misericórdia nos advertem de que já se aproxima o dia de nossa grande luta.
Por isto, como podemos irmão caríssimo, pela mútua caridade que nos une, nós vos exortamos a não esmorecer. Nos jejuns, nas vigílias e orações com todo o povo. São estas armas celestes que fazem ficar de pé e perseverar com denodo; são estas as defesas espirituais, as lanças, que protegem.
Lembremo-nos um do outro, concordes e unânimes, mutuamente oremos sempre por nós, suavizando as tribulações e angústias pela caridade recíproca.
📗 - (SÃO CIPRIANO, bispo e mártir. Epist. 60, 1-2, 5: CSEL 3. 691-692, 694-695)
EM CAUSA TÃO JUSTA, NÃO HÁ QUE DISCUTIR
No dia décimo oitavo das calendas de outubro pela manhã, grande multidão se reuniu no campo de Sexto, conforme a determinação do procônsul Galério Máximo. Este, presidindo no átrio Saucíolo, no mesmo dia ordenou que lhe trouxessem Cipriano. Chegado este, o procônsul interrogou-o: "És tu Táscio Cipriano?" O bispo Cipriano respondeu: "Sou".
O procônsul Galério Máximo: "Tu te apresentaste aos homens como papa do sacrílego intento?" Respondeu o bispo Cipriano: "Sim".
O procônsul Galério Máximo disse: "Os augustíssimos imperadores te ordenaram que te sujeites às cerimônias". Cipriano respondeu: "Não faço".
Galério Máximo disse: "Pensa bem!" O bispo Cipriano respondeu: "Cumpre o que te foi mandado; em causa tão justa, não há que discutir".
Galério Máximo deliberou com o seu conselho e, com muita dificuldade, pronunciou a sentença, com estas palavras: "Viveste por muito tempo nesta sacrílega ideia e agregaste muitos homens nesta ímpia conspiração. Tu te fizeste inimigo dos deuses romanos e das sacras religiões, e nem os piedosos e sagrados augustos príncipes Valeriano e Galieno, nem Valeriano, o nobilíssimo César, puderam te reconduzir à prática de seus ritos religiosos. Por esta razão, por seres acusado de autor e guia de crimes execráveis, tu te tornarás uma advertência para aqueles que agregaste a ti em teu crime: com teu sangue ficará salva a disciplina". Dito isto, leu a sentença: "Apraz que Táscio Cipriano seja degolado à espada". O bispo Cipriano respondeu: "Graças a Deus" !
Após a sentença, o grupo dos irmãos dizia: "Sejamos também nós degolados com ele". Por isto houve tumulto entre os irmãos e grande multidão o acompanhou. E assim Cipriano foi conduzido ao campo de Sexto. Ali tirou o manto e o capuz, dobrou os joelhos e prostrou-se em oração ao Senhor. Retirou depois a dalmática, entregando-a aos diáconos e ficou de alva de linho e aguardou o carrasco, a quem, quando chegou, mandou que os seus lhe dessem vinte e cinco moedas de ouro. Os irmãos estenderam diante de Cipriano pano de linho e toalha. O bem-aventurado quis vedar os olhos com as próprias mãos. Não conseguindo amarrar as pontas, o presbítero Juliano e o subdiácono Juliano o fizeram.
Deste modo morreu o bem-aventurado Cipriano. Seu corpo, por causa da curiosidade dos pagãos, foi colocado ali perto, de onde, à noite, foi retirado e, com círios e tochas, hinos e em grande triunfo, levado ao cemitério de Macróbio Candidiano, administrador, existente na via Mapaliense, junto das piscinas. Poucos dias depois, morreu o procônsul Galério Máximo.
O mártir santíssimo Cipriano foi morto, no dia décimo oitavo das calendas de outubro, sob Valeriano e Galieno imperadores, reinando, porém, nosso Senhor Jesus Cristo, a quem a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
📗 - (SÃO CIPRIANO, bispo. Das Atas Proconsulares sobre o martírio. Acta, 3-6: CSEL 3, 112-114)