São Cipriano foi bispo do Cartago, no Norte da África entre 249 e 258.

Nascido em Cartago, no seio de uma rica família pagã, depois de uma juventude dissipada, Cipriano se converte ao cristianismo aos 35 anos. Ele mesmo narra seu itinerário espiritual: “Quando ainda jazia como em uma noite escura, me parecia sumamente difícil e fatigoso realizar o que me propunha a misericórdia de Deus. Estava ligado aos muitíssimos erros de minha vida passada, e não cria que pudesse libertar-me, até o ponto de que seguia os vícios e favorecia meus maus desejo. Mas depois, com a ajuda da água regeneradora, ficou lavada a miséria de minha vida precedente; uma luz soberana se difundiu em meu coração, um segundo nascimento me regenerou em um ser totalmente novo. De maneira maravilhosa começou a dissipar-se toda dúvida. Compreendia claramente que era terreno o que antes vivia em mim, na escravidão dos vícios da carne, e pelo contrário, era divino e celestial o que o Espírito Santo já havia gerado em mim” («A Donato», 3-4).  Logo depois de se converter, Cipriano foi ordenado sacerdote e em seguida se tornou bispo. Sofreu perseguições, mas se manteve sempre disciplinado em sua comunidade cristã. Nesse mesmo tempo de desafios evangelizadores e disciplinares, a África foi atingida por uma grave epidemia e que gerou questões teológicas angustiantes, tanto na comunidade em questão quanto em relação aos pagãos que ainda eram muitos.

“quem abandona a cátedra de Pedro, sobre a qual está fundada a Igreja, fica na ilusão de permanecer na Igreja”

Cipriano, ficou conhecido por sua fidelidade à Igreja e por seus textos teológicos onde defendeu com firmeza o bom comportamento dos fiéis. De fato, a Igreja é seu tema preferido. Distingue entre Igreja visível, hierárquica, e Igreja invisível, mística, mas afirma com força que a Igreja é uma só, fundada sobre Pedro. Por várias vezes repete que “quem abandona a cátedra de Pedro, sobre a qual está fundada a Igreja, fica na ilusão de permanecer na Igreja” (A unidade da Igreja Católica, 4). Ainda em tom de autoridade, afirma que “fora da Igreja não há salvação” (Epístola 4, 4 e 73,21), e que “não pode ter Deus como Pai que não tem a Igreja como mãe” (A unidade da Igreja Católica, 4). Característica irrenunciável da Igreja é a unidade, simbolizada pela túnica de Cristo sem costura (ibidem, 7): unidade que, segundo diz, encontra seu fundamento em Pedro (ibidem, 4) e sua perfeita realização na Eucaristia (Epístola 63, 13). “Só há um Deus, um só Cristo», exorta Cipriano, «uma só é sua Igreja, uma só fé, um só povo cristão, firmemente unido pelo fundamento da concórdia: e não pode separar-se o que por natureza é um” (A unidade da Igreja Católica, 23).  Além dessa fidelidade incondicional, Cipriano tem uma forte opinião sobre a oração. “Nossa oração é pública e comunitária e, quando rezamos, não rezamos só por nós, mas por todo o povo, pois somos uma só coisa com todo o povo” (A oração do Senhor, 8). Deste modo, oração pessoal e litúrgica se apresentam firmemente unidas entre si. Sua unidade se baseia no fato de que respondem à mesma Palavra de Deus. O cristão não diz “Pai meu”, mas “Pai nosso”, inclusive, no segredo de seu quarto fechado, pois sabe que em todo lugar, em toda circunstância, é membro de um mesmo Corpo. Assim, Cipriano- “o bispo abençoado” como era chamado- deixou claro suas origens da fecunda tradição teológico-espiritual que está no coração. Coração este que é considerado o local mais privilegiado da oração.