segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

Do amor à solidão

São Bruno de Colônia, Abade e Fundador da Ordem Cartuxa
São Bruno de Colônia, Abade e Fundador da Ordem Cartuxa

Ducam eam in solitudinem, et loquar ad cor eius“Eu a levarei à solidão e lhe falarei ao coração” (Os 2, 14)

Sumário. Deus não costuma geralmente falar-nos no meio dos tumultos e negócios mundanos, pelo receio de não ser entendido. Quando quer elevar uma alma a um grau eminente de perfeição, excita-a a que se retire para algum lugar solitário, longe da conversação com as criaturas. Ali é que lhes fala ao coração, as ilumina e abrasa em seu amor divino. Se quisermos, pois, ouvir a voz de Deus, amemos a solidão e procuremos, o mais possível, ter vida retirada afim de tratarmos a sós com Deus.

I. Deus não se deixa achar nos tumultos do mundo, pelo que os santos procuravam os desertos mais horrendos, as espeluncas mais ocultas, afim de se subtraírem à sociedade dos homens e conversarem a sós com Deus. São Hilarion mudou repetidas vezes de um deserto para outro, sempre em busca do mais solitário, onde não encontrasse pessoa alguma com quem conversar e finalmente morreu num deserto de Chipre, depois de ter vivido ali cinco anos. Quando São Bruno foi chamado pelo Senhor a deixar o mundo, foi, com seus companheiros, ter com São Hugo, bispo de Grenoble, afim de que lhes assinasse em sua diocese um lugar deserto; e São Hugo indicou-lhes a Cartucha, que pela sua atrocidade antes era própria para antro de feras do que para morada de homens.

Certo dia, disse o Senhor à Santa Teresa:

“Eu quisera falar a muitas almas; mas o mundo faz tanto tumulto em seu coração, que minha voz não pode ser ouvida.”

Deus não fala no meio dos rumores e negócios do mundo, cuidando que, se falasse, não seria ouvido. A voz de Deus são as inspirações santas, as luzes e os convites, com que ilumina os santos e os inflama no amor divino; mas quem não ama a solidão, fica privado desta voz divina.

Deus diz:

“Eu a levarei à solidão e lhe falarei ao coração.”

Quando Deus quer elevar uma alma a um grau eminente de perfeição, inspira-lhe a ideia de se retirar para algum lugar solitário, e ali, longe das conversações com as criaturas, fala-lhe aos ouvidos, não do corpo, mas do coração, e assim a ilumina e a abrasa em seu divino amor. Pelo que São Bernardo dizia que tinha aprendido a amar a Deus muito mais nos bosques, entre os carvalhos e as faias, do que nos livros e no trato com os servos de Deus. — E São Jerônimo, que deixou as delícias de Roma para se encerrar na Gruta de Belém, exclamava:

“Ó solidão bem aventurada, na qual o Senhor trata familiarmente com as almas suas diletas e lhes faz ouvir essas palavras que liquefazem os corações no santo amor!”

II. Ensina a experiência que o trato com o mundo e o empenho para aquisição dos bens temporais nos fazem esquecidos de Deus. Mas o que nos restará na hora de morte de todos os trabalhos e de todo o tempo gasto nas coisas da terra, senão remorsos de consciência? Na morte acharemos somente o pouco que tivermos feito ou padecido por Deus. E porque então não nos afastamos do mundo, antes que o mundo se afaste de nós?

Sedebit solitarius, et tacebit (1) — “Sentar-se-á o solitário, e ficará em silêncio”. O solitário não está em movimento contínuo, como outrora entre os negócios do mundo, mas sentar-se-á — ficará em repouso. Ele ficará em silêncio; para ser feliz não irá buscando os bens materiais; porquanto, elevado acima de si mesmo e acima de todas as coisas criadas, achará em Deus todo o bem e toda a sua felicidade. — É com razão que Davi desejava ter as asas da pomba, afim de deixar a terra e não lhe tocar nem sequer com os pés e assim achar repouso para sua alma (2). Mas já que, enquanto estivermos com vida, não nos é dado deixar a terra, procuremos ao menos amar o recolhimento o mais possível, tratando a sós com Deus, afim de termos força para evitar as faltas, quando tenhamos de tratar com o mundo. É o que fazia o mesmo Profeta Real até no meio das ocupações do governo de seu reino: Ecce elongavi fugiens, et mansi in solitudine (3) — “Eis aqui, me afastei fugindo e permaneci na solidão”.

Ó Deus de minha alma, tomara que sempre tivesse pensado em Vós e não nos bens desta terra! Amaldiçoo os dias em que, buscando as satisfações terrestres, Vos ofendi, ó meu soberano Bem. Oh! Tivesse Vos amado sempre! Tivesse antes morrido e nunca Vos tivesse ofendido! Ai de mim! Já a morte se aproxima e ainda me vejo apegado ao mundo. Meu Jesus, tomo hoje a resolução de abandonar tudo e de ser todo vosso. Vós sois Todo-Poderoso, Vós me deveis dar força para Vos ser fiel. — Ó Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim.

Referências:

(1) Lm 3, 28
(2) Sl 54, 7
(3) Sl 54, 8


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 154-157)

domingo, 29 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

 

Festa do Arcanjo São Miguel

 Michael, unus de principibus primis, venit in adiutorium meum “Miguel, um dos primeiros príncipes, veio em meu socorro” (Dn 10, 13)

Sumário. Entre os anjos do paraíso não há um só que seja superior, nem quiçá igual a São Miguel, que foi escolhido por Deus para rebater o orgulho de Lúcifer e para o expulsar do céu. É, pois, com razão que ele foi colocado como protetor da Igreja católica e de todos os fiéis. Alegremo-nos com o gloriosíssimo Arcanjo, recomendemo-nos a ele e dediquemos-lhe particular devoção, porque tem o honroso ofício de, na hora da morte, defender as almas contra os assaltos dos demônios e apresentá-las ao tribunal divino.

I. Entre os anjos do céu não há nenhum que seja superior nem talvez, no dizer de São Boaventura, igual a São Miguel. E com razão, pois São Miguel foi escolhido por Deus para rebater o orgulho de Lúcifer e de todos os anjos rebeldes e para os expulsar do céu. Minha alma, se amas este santo arcanjo, que tanto amor tem aos homens, congratula-te com ele pela grandeza de que goza no paraíso, e roga-lhe que, assim como é o protetor da Igreja universal e de todos os fiéis, seja também o teu protetor especial junto de Deus, que muito o ama e se compraz em ver glorificado por todos este anjo tão fiel e tão zeloso da glória divina.

Na missa pelos defuntos a Igreja roga assim: São Miguel, o porta-bandeira, leve as almas à santa luz: Signifer sanctus Michael repraesentet eas in lucem sanctam. Os escritores explicam esta oração dizendo que São Miguel tem o ofício honroso de apresentar ao Juiz Jesus Cristo todas as almas que deixam este mundo em estado de graça. Glorioso Arcanjo São Miguel, pela vossa proteção fazei que, no dia da minha morte, a minha alma esteja ornada da graça de Deus e seja digna de ser apresentada pelas vossas mãos a Jesus Cristo meu Juiz.

II. Em nome de todos os fiéis, a santa Igreja roga a São Miguel que na hora da morte nos defenda contra os assaltos dos demônios, a fim de que não sejamos por eles vencidos e não nos percamos:

“São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, para que não pereçamos no tremendo juízo” — Sancte Michael Archangele, defende nos in proelio, ut non pereamus in tremendo iudicio

Mas, a fim de que sejamos mais seguramente defendidos nesse momento terrível que decidirá da nossa eterna salvação, mister é que em vida dediquemos devoção especial a este príncipe celeste, agradecendo muitas vezes à Santíssima Trindade as graças e prerrogativas a ele concedidas, recomendando-nos sempre à sua proteção e imitando sobretudo as suas virtudes, em particular a sua humildade e o seu zelo pela glória divina.

Ah! Santo Arcanjo, o inferno tem muitas armas com que pode investir contra mim na hora da minha morte: estas armas são os meus pecados, com cuja representação procurará precipitar-me no desespero. Já agora está preparando tentações horríveis para me fazer então cair no pecado. Ó vós, que vencestes e expulsastes do céu este terrível adversário, vencei-o de novo por mim, e na hora da minha morte expeli-o para bem longe; isto vos suplico pelo grande amor que Deus vos tem e vós a ele. Ó Maria, Rainha do céu, ordenai a São Miguel que me assista à hora da minha morte.

“É Vós, ó meu Deus, que regulais com ordem admirável os ministérios dos anjos e dos homens, dignai-Vos permitir que aqueles que Vos oferecem continuamente os seus serviços no céu, protejam a nossa vida sobre a terra. Por Jesus Cristo Nosso Senhor, que convosco vive e reina por todos os séculos dos séculos” (1).

Referência:
(1) Or. festi.

 

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 368-370)

ORAÇÃO COMPLETA DO PAPA LEÃO XIII A SÃO MIGUEL ARCANJO



A Oração a São Miguel Arcanjo do Papa Leão XIII é profética. Composta há mais de 100 anos, é uma oração muito interessante e controversa relacionada com a situação atual em que se encontra a Igreja Católica. Esta oração rezava-se após a Missa, mas foi suprimida posteriormente. No dia 25 de Setembro de 1888, depois da sua missa matinal, o Papa Leão XIII sofreu um desmaio. Os assistentes pensaram que ele estava morto. Depois de recuperar a consciência, o Papa descreveu uma espantosa conversa que havia escutado proveniente do tabernáculo. A conversa compunha-se de duas vozes; vozes que o Papa Leão XIII entendeu claramente serem as de Jesus Cristo e do diabo. O diabo ostentava conseguir destruir a Igreja, se lhe fosse concedido 75 anos para levar a cabo o seu plano (ou 100 anos, segundo outros relatos). O diabo também pediu permissão para ter "uma maior influência sobre aqueles que se entregarão ao meu serviço." Às petições do diabo, o Senhor respondeu: "Ser-te-á dado o tempo e o poder."

Abalado profundamente pelo que havia ouvido, o Papa Leão XIII compôs a seguinte Oração a São Miguel (que também é uma profecia) e ordenou que se rezasse depois das Missas ordinárias como medida de protecção para a Igreja contra os ataques do inferno. Esta oração foi tirada da Raccolta, 1930, edição inglesa, Benziger Bros., pp. 314-315. A Raccolta é uma coleção da Igreja Católica com imprimatur de orações oficiais indulgenciadas.

ORAÇÃO A SÃO MIGUEL ARCANJO:

"Ó glorioso príncipe da milícia celeste, São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate e na terrível luta contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares (Ef. 6)!  Vinde em auxílio dos homens os quais Deus criou imortais, feitos a sua imagem e semelhança, e resgatou por grande preço da tirania do demônio (Sab. 2; I Cor. 6).

Combatei neste dia, com o exército dos santos anjos, a batalha do Senhor como noutro tempo combateste contra Lúcifer, chefe dos orgulhosos, e contra os anjos apóstatas que foram impotentes em resistir-te e para quem nunca mais haverá lugar no céu.

Sim, esse grande dragão, essa antiga serpente que se chama demônio e Satanás, que seduz o mundo inteiro, foi precipitado com os seus anjos ao fundo do abismo (Apoc. 12). Mas é aqui que esse antigo inimigo, este antigo homicida levantou ferozmente a cabeça. Disfarçado de anjo de luz e seguido por toda a multidão de espíritos malignos, invade o mundo inteiro para apoderar-se dele e desterrar o nome de Deus e do seu Cristo, para afundar, matar e entregar à perdição eterna às almas destinadas à coroa de glória eterna. Sobre os homens de espírito perverso e de coração corrupto, este dragão malvado derrama também, como uma torrente de lama impura, o veneno de sua malícia infernal, o espírito de mentira, de impiedade, de blasfêmia e o sopro envenenado da imundice, dos vícios e de todas as abominações.

Os inimigos cheios de astúcia têm acumulado de opróbrios e amarguras a Igreja, esposa do Cordeiro imaculado, e lhe dado a beber absinto; sobre seus bens mais sagrados impõem suas mãos criminosas para a realização de todos os seus ímpios desígnios. Lá, no lugar sagrado onde está instituída a sede de São Pedro e a Cátedra da Verdade para iluminar os povos, foi instalado o trono da abominação de sua impiedade, com o desígnio iníquo de ferir o Pastor e dispersar as ovelhas.

Nós te suplicamos, ó príncipe invencível, ajude o povo de Deus e concede-lhe a vitória contra os ataques destes espíritos dos réprobos. Este povo te venera como seu protetor e padroeiro, e a Igreja se gloria de tê-lo como defensor contra os poderes malignos do inferno. A ti, Deus confiou a missão de conduzir as almas para a felicidade celeste. Roga, portanto, ao Deus da paz que submeta Satanás aos nossos pés, tão derrotado e subjugado, que nunca mais possa impor a escravidão aos homens, nem prejudicar a Igreja! Apresenta as nossas orações à vista do Todo-Poderoso para que as misericórdias do Senhor nos alcancem o quanto antes. Submeta o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e o precipite acorrentado no abismo para que não mais possa seduzir as nações (Apoc. 20). Amém."

"Desde já confiados à vossa assistência e proteção, com a sagrada autoridade da Santa mãe Igreja, e em nome de Jesus Cristo, Deus e Senhor nosso, empreendemos com fé e segurança repelir aos ataques da astúcia diabólica.

V/ Eis a Cruz do Senhor, fujam potências inimigas.

R/ Venceu o Leão da tribo de Judá, a estirpe de David.
V/ Que as tuas misericórdias, ó Senhor, se realizem sobre nós.

R/ Assim como esperamos em vós.
V/ Senhor, escutai a minha oração.

R/ e que o meu clamor chegue até ti."

OREMOS

"Ó Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, nós invocamos vosso Santo Nome e imploramos insistentemente a Vossa clemência para que, pela intercessão da Imaculada sempre Virgem Maria, nossa Mãe, e do glorioso São Miguel Arcanjo, de São José, esposo da mesma Santíssima Virgem, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de todos os santos, dignai-vos proteger contra Satanás e contra todos os espíritos malignos que vagueiam pela terra para destruir a humanidade e para a perdição das almas. Amém."

Em 1934, a surpreendente oração do Papa Leão (transcrita acima) foi mudada sem explicação. A frase crucial que se refere à apostasia em Roma (no lugar sagrado, onde foi estabelecida a Sé de São Pedro e a cátedra da Verdade para iluminar os povos) foi eliminada. Ao mesmo tempo, a Oração a São Miguel do Papa Leão XIII que se rezava depois de cada Missa foi substituída por uma oração mais curta, a famosa e agora abreviada Oração a São Miguel. Esta é a oração:

"São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, sede nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demónio! Subjugue-o Deus, instantemente vos pedimos; e vós, Príncipe da Milícia Celeste, pelo poder Divino, precipitai ao inferno a Satanás e a todos os espíritos malignos que vagueiam pelo mundo pela perdição das almas. Amém."

Não há nada maligno nesta oração a São Miguel — de facto, é muito boa e eficaz. No entanto, o ponto é que já não é a Oração a São Miguel composta pelo Papa Leão XIII. Na opinião de muitos, a oração curta foi introduzida como substituta, de modo a que os fiéis não estivessem conscientes do conteúdo incrível da oração larga, como se descreveu anteriormente. Se a larga Oração a São Miguel tivesse sido recitada ao final de cada Missa rezada e não suprimida em 1934, quantos milhões mais haveriam resistido, enfrentando a invectiva da nova religião do Vaticano II que será explicada neste livro? Quantos mais teriam percebido depois do Vaticano II o desmantelamento sistemático da fé católica tradicional?



Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: 19º Domingo depois de Pentecostes

A parábola do banquete nupcial e a Igreja Católica

Parábola do Banquete Nupcial

Simile factum est regnum caelorum homini regi, qui fecit nuptias filio suo – “O reino dos céus é semelhante a um rei que fez núpcias para seu filho” (Mt 22, 2)

Sumário. Pelo banquete do qual fala o Evangelho de hoje, entende-se a doutrina católica, os sacramentos e a abundância das graças celestiais. Como filhos da Igreja católica, somos do número dos convidados, e portanto, agradeçamos sempre a Jesus Cristo tão grande favor que nos foi concedido com preferência a tantos outros. Cuidemos, porém, que estejamos vestidos da veste nupcial, isto é, da graça santificante, afim de não sermos, cedo ou tarde, lançados às trevas exteriores, no inferno. Quantos cristãos não se perdem, porque as obras não respondem à fé que professam!

I. “O reino dos céus”, diz Jesus Cristo, “é semelhante a um rei que fez núpcias para o seu filho, e mandou seus servos chamarem os convidados para as bodas. Mas eles desprezaram o convite, e lá se foram, um para sua casa de campo, outro para o seu negócio. Os outros prenderam os servos que enviara, e, depois de os cobrirem de ultrajes, mataram-nos. Mas o rei, tendo ouvido isto, ficou indignado, e enviando os seus exércitos, exterminou aqueles homicidas, e pôs fogo à sua cidade. Disse então aos seus servos: As bodas estão preparadas; mas os que haviam sido convidados não foram dignos. Ide, pois, às embocaduras das estradas, e a quantos encontrardes, convidai-os para as bodas. E, tendo sabido os seus servos pelas ruas, reuniram todos os que encontraram, bons e maus, e a mesa do banquete ficou cheia de convidados: “Et impletae sunt nuptiae discumbentium.

Segundo a interpretação dos doutores, o rei da presente parábola é o Pai Eterno; o esposo é seu Filho Jesus Cristo; a e a esposa, a Igreja Católica. Pelo banquete nupcial entendem-se a doutrina evangélica, os santos sacramentos e a abundância de todas as graças celestiais. Para este banquete místico fez o Senhor convidar primeiramente os Hebreus, por meio dos profetas e dos apóstolos. Mas, eles, desprezando o convite, maltrataram e mataram os ministros de Deus, e por isso foram expulsos e pereceram na destruição de Jerusalém. E em lugar dos Hebreus foram chamados os gentios, que andavam no caminho largo que leva ao inferno.

Meu irmão, também tu, descendente de antepassados pagãos e sem algum merecimento próprio, pertences ao número destes felizes convidados. Considera, portanto, atentamente o amor especial que Deus te mostrou, agradece-lhe e repara como até agora lhe tens correspondido. Oh! Quantos se tornariam santos, e grandes santos, se lhes tivesse sido dada a mesma abundância de recursos espirituais como a ti! Ao passo que tu há muitos anos talvez estais dormindo na tibieza, e sabe lá Deus se talvez no pecado!

II. Diz ainda a parábola do Evangelho que “entrando o rei para ver os que estavam à mesa, viu aí um homem que não estava vestindo a veste nupcial. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo a veste nupcial? Mas ele emudeceu. Então disse o rei aos seus ministros:

“Atai-o de mãos e pés, e lançai-o nas trevas exteriores: aí haverá choro e ranger de dentes.”

Explicando este trecho, São Gregório diz que “a veste nupcial significa a santa caridade. De modo que os cristãos que pela fé são membros da Igreja, mas não possuem a caridade (isto é, não estão na graça de Deus) são semelhantes àquele homem que quis assistir às bodas, mas sem vestir a veste nupcial”. Por isso, no dia do juízo universal será pronunciada contra eles a mesma sentença daquele infeliz, e serão lançados ao inferno para sofrerem no corpo e na alma o tormento do fogo. — E prouvesse a Deus que fosse pequeno o número desses cristãos insensatos que não põem as obras em harmonia com a fé! Mas o mal está grassando em toda a parte. E por isso o Senhor conclui o Evangelho com estas palavras: Multi sunt vocati, pauci vero electi — “São muitos os chamados e poucos os escolhidos”.

Meu amabilíssimo Jesus, agradeço-Vos o me haverdes chamado com tamanho amor ao banquete místico de vossa Igreja e me haverdes tolerado tanto tempo, apesar de não estar vestido com a veste nupcial. Vejo, ó meu Senhor, que enquanto eu me esquecia de Vós, Vós não Vos esquecíeis de mim. Pesa-me de Vos ter voltado as costas, e resolvido estou a dar-me todo a Vós e a levar uma vida conforme à santa fé que professo. Porque esperar mais? Esperarei porventura até que venha a morte e Vós me condeneis às trevas exteriores, a chorar juntamente com os réprobos?

Não, meu Jesus, não Vos quero mais desagradar; quero amar-Vos com todas as minhas forças para ter um dia parte em vossas núpcias celestiais na pátria bem-aventurada. Ó Deus onipotente e misericordioso, ajudai-me com a vossa divina graça e “apartai de mim, propício, todas as adversidades; para que, expedito na alma e no corpo, com liberdade de espírito eu cumpra o que é de vosso serviço” (1). † Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) Or. Dom.

 

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 152-154)

sábado, 28 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

Maria Santíssima, modelo da vida solitária e recolhida

Maria, modelo na vida solitária

Quae est ista, quae ascendit de deserto… innixa super dilectum suum? “Quem é esta que sobe do deserto… firmada sobre o seu amado?” (Ct 8, 5)

Sumário. A Santíssima Virgem amava tanto a solidão, que, sendo ainda criança de três anos apenas, deixou seus pais e foi encerrar-se no templo. Imagina, pois, a que grau de recolhimento e de união com Deus deve ela ter chegado quando, feita Mãe de Deus, teve a sorte feliz de viver tantos anos com Jesus Cristo. Se aspiras a honra de ser filho de Maria, aplica-te com todo o cuidado a sua imitação, levando uma vida solitária e retirada. Por isso, ama o silêncio, conserva-te sempre na presença de Deus, e volve-te muitas vezes a Ele por meio de fervorosas orações jaculatórias.

I. No tempo do dilúvio, o corvo mandado por Noé fora da arca ficou a comer os cadáveres; mas a pomba, sem pousar em parte alguma, voltou prestes ao ponto de onde partira. Assim, muitos, mandados por Deus a este mundo se detém infelizmente a gozar dos bens terrestres. Não assim a nossa pomba celeste, Maria. Conheceu que o nosso bem, a nossa única esperança deve ser Deus; conheceu que o mundo é cheio de perigos e que aquele que mais cedo o deixa é mais livre dos seus laços. Por esta razão, como afirmam São Germano e Santo Epifânio, a Santíssima Virgem, apenas chegada à idade de três anos, idade em que as crianças desejam mais vivamente a convivência com seus pais, foi encerrar-se no templo, onde melhor pudesse ouvir a voz de seu Deus e, melhor ainda, honrá-Lo e amá-Lo.

Diz Santo Anselmo que, enquanto a Bem-aventurada Virgem vivia no templo, “era dócil, falava pouco, estava sempre recolhida, sempre séria e sem se perturbar. Era, além disso, constante na oração, na leitura da Sagrada Escritura, nos jejuns e em todas as obras de virtude”. Era tão amante do silêncio, que, como ela mesma revelou à Santa Brígida, se abstinha de falar até com os próprios pais.

Não são menos belos os exemplos de recolhimento que a Virgem nos deu, depois de se desposar com o castíssimo São José. Conforme diz São Vicente Ferrer:

“Maria não saía de casa senão para ir ao templo; e mesmo então, ia toda recolhida e com os olhos baixos.”

Eis porque São Lucas observa que na visita a Santa Isabel: Abiit in montana cum festinatione (1) — “Ela foi com presteza às montanhas”, para ser menos vista em público e fugir o mais possível da sociedade dos homens.

Se Maria foi tão amante da solidão quando menina e tenra donzela, imagina a que grau de recolhimento e de união com Deus deve ela ter chegado quando, já Mãe de Deus, teve a grande ventura de viver trinta e três anos e de conversar familiarmente com Jesus Cristo. Tinham, pois, os anjos razão para, no dia da Assunção da Virgem ao céu, perguntarem: Quem é esta que sobe do deserto? Sim, porque Maria viveu sempre em solidão neste mundo, como num deserto.

II. Se aspiras à honra de ser filho verdadeiro de Maria Santíssima, deves aplicar-te com todo o cuidado à sua imitação, levando vida retirada e recolhida. Imagina, portanto, que a divina Mãe te diz o que o anjo disse um dia a Santo Arsênio: Fuge, tace, quiesce — “Foge, cala-te e descansa”.

Foge: Segundo o teu estado, retira-te à solidão ao menos pela vontade, evitando as conversações inúteis, mormente com pessoas de sexo diverso. Cala-te: ama o silêncio, que é chamado a guarda da inocência, a defesa nas tentações e a fonte da oração. Descansa: repousa em Deus pelo exercício da presença divina; porque, como Deus mesmo disse a Abraão, este exercício é o caminho mais curto para chegar às alturas da perfeição: Ambula coram me, et esto perfectus (2) — “Anda em minha presença e sê perfeito”.

Para imitares assim a vida solitária de Maria Santíssima, não é preciso que te escondas em alguma gruta ou no deserto; nem tampouco que deixes as ocupações do teu estado; porquanto é mais meritório trabalhar para Deus, do que descansar para pensar em Deus. É todavia necessário que faças cada dia alguma, ainda que breve, meditação. E como a Bem aventurada Virgem conservava todas as palavras de Jesus Cristo em seu coração, comparando-as umas às outras (3), faze tu também dos bons pensamentos, havidos na meditação, um ramalhete de flores, afim de refrescar durante o dia o espírito pela sua recordação.

É utilíssimo, sobretudo, o uso das orações jaculatórias, que se podem fazer em qualquer parte, tempo e ocupação. Delas diz São Francisco de Sales que suprem a falta de todas as outras orações; mas todas as orações não poderiam suprir a falta delas. — Ó Virgem Santíssima, obtende-nos o amor à oração e à solidão, afim de que, afastando de nós o amor às criaturas, só possamos aspirar a Deus e ao paraíso, onde esperamos ver-vos um dia, para convosco louvar e amar para sempre a vosso Filho Jesus, por todos os séculos dos séculos.

Referências:

(1) Lc 1, 39
(2) Gn 17, 1
(3) Lc 2, 51


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 149-151)

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

Primeira palavra de Jesus Cristo na cruz

Primeira palavra de Jesus na Cruz

Pater, dimitte illis: non enim sciunt quid faciunt – “Pai, perdoai-lhes; pois não sabem o que fazem” (Sl 118, 131)

Sumário. Ó ternura do amor de Jesus! Os judeus, depois de O pregarem na cruz, injuriam-No e prorrompem em blasfêmias. Ao mesmo tempo, Jesus, movido pelo desejo de salvar a todos, volve-se ao Pai Eterno, roga-Lhe pelos que O crucificaram e procura desculpar o crime. Meu irmão, se pelos nossos pecados temos renovado a crucifixão do Senhor, não desanimemos; porque Jesus nos abrangeu também em sua oração. É, porém, necessário que Lhe imitemos o exemplo, perdoando a nossos inimigos e dando o bem pelo mal.

I. Ó ternura do amor de Jesus Cristo para com os homens! Os judeus, depois de O pregarem na cruz, injuriam-No, insultam-No e prorrompem em blasfêmias; e Jesus, entretanto, que faz? Jesus, diz Santo Agostinho, não cuida tanto nos ultrajes que recebe da parte daquele povo, como no amor que O faz morrer para o salvar; e por isso, ao mesmo tempo que é injuriado pelos seus inimigos, volve-se ao Eterno Pai, pede perdão para eles e procura desculpar o crime nefando pela ignorância: Pai, perdoai-lhes; porque não sabem o quer fazem.

Ó maravilha!” exclama São Bernardo; “Jesus Cristo pede perdão e os judeus gritam crucifige — crucifica-O.” E São Cipriano acrescenta:

Vivificatur Christi sanguine qui effudit sanguinem Christi — “Recebem a vida pelo sangue de Cristo, aqueles mesmos que derramaram o sangue de Cristo”

Na sua morte, tinha o Senhor tamanho desejo de salvar a todos, que não deixa de fazer participar dos méritos de seu sangue àqueles mesmos que Lho extraem das veias à força de tormentos. Numa palavra, como diz Arnoldo de Chartres, ao passo que os judeus trabalham para se condenarem, Jesus Cristo se empenha em os salvar.

E não ficaram improfícuos os seus empenhos; pelo que, sendo mais poderosa para com Deus a caridade do Filho, do que a cegueira daquele povo ingrato, a oração de Nosso Senhor moribundo fez, como escreve São Jerônimo, que no mesmo momento muitos judeus abraçassem a fé; e, na opinião de São Leão, os milhares de judeus que se converteram pela pregação de São Pedro, foram o fruto da oração de Jesus Cristo.

Mas dirá alguém: Porque é que Jesus rogou ao Pai que lhes perdoasse, já que Ele mesmo lhes podia perdoar as injúrias? Responde São Bernardo que assim nos quis ensinar a orar pelos que nos perseguem. Por isso Santo Agostinho conclui:

“Cristão, olha o teu Deus pendurado na cruz; ouve como roga pelos que O crucificaram e depois atreve-te a recusar o perdão ao irmão que te ofendeu”.

II. Cada vez que o pecador peca gravemente, diz São Paulo, pelo que depende dele calca aos pés o Filho de Deus, profana e despreza o seu sangue (1) e chega a renovar a sua paixão e morte: Rursum crucifigentes sibimet ipsis Filium Dei (2) — “Outra vez crucificam Jesus Cristo para si próprios”. — Naquela oração que Jesus Cristo fez por seus crucificadores, abrangeu o Senhor, pela sua divina providência, todos os pecadores e a nós particularmente. Eis porque podemos confiadamente dirigir-nos a Deus e dizer-lhe: Pater, dimitte! — “Pai, perdoai-me!”

Ó Pai Eterno, escutai a voz de vosso amado Filho, que Vos pede que me perdoeis. É verdade que o perdão é obra de misericórdia para conosco, visto que não o merecemos; mas é obra de justiça para com Jesus Cristo, que satisfez superabundantemente pelos nossos pecados. Em vista de seus merecimentos não podeis deixar de nos perdoar e de receber em vossa graça àquele que se arrepende das ofensas que Vos fez. Meu Pai, arrependo-me de todo o meu coração e antes quisera ter morrido mil vezes do que Vos ter ofendido.

Meu Deus, não quero ser obstinado como os judeus; quero mudar de vida; em compensação das ofensas que Vos fiz, quero, para o futuro, amar-Vos com mais fervor; e pelos merecimentos de Jesus Cristo, peço-Vos a graça de executar esta minha resolução. — Ó Maria, minha Mãe, sabeis que sou um pobre enfermo, perdido por causa de meus pecados; mas vosso Filho desceu do céu à terra expressamente para se fazer homem em vosso seio, e assim vos fez Rainha de misericórdia e Refúgio dos desesperados, para curar os enfermos e salvar os que estavam perdidos, desde que se arrependam de seus pecados. Curai-me, pois, e salvai-me pela vossa intercessão.

Referências:

(1) Hb 10, 29
(2) Hb 6, 6


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 146-149)

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

Da comunhão espiritual

Povo rezando

Os meum aperui, et attraxi spiritum – “Abri a minha boca, e atraí o alento” (Sl 118, 131)

Sumário. A comunhão espiritual consiste num desejo ardente de receber Jesus sacramentalmente e num amoroso amplexo, como se fosse recebido realmente. Esta devoção é um meio eficacíssimo para chegar à perfeição e ao mesmo tempo é uma devoção facílima, porque pode ser praticada todos os dias, por todos, e quantas vezes se quiser, sem ser vista ou observada por pessoa alguma. Pratica-a, pois, com frequência, em particular, na oração mental, na visita ao Santíssimo Sacramento e na assistência à Missa à hora da comunhão do sacerdote.

I. Segundo Santo Tomás, a comunhão espiritual consiste num desejo ardente de receber Jesus Cristo sacramentalmente e num amplexo amoroso, como se já fora recebido. O santo Concílio de Trento louva muito a comunhão espiritual e convida todos os fiéis a que a ponham em prática. E Deus mesmo, repetidas vezes, tem dado a entender às almas devotas quanto Lhe agrada esta devoção.

Um dia apareceu Jesus a Soror Paula Maresca, fundadora do convento de Santa Catarina de Sena em Nápoles, e mostrou-lhe dois vasos preciosos, um de ouro e outro de prata, dizendo-lhe que o no primeiro guardava as suas comunhões sacramentais e no segundo as espirituais. Em outra ocasião disse o Senhor também à Venerável Joana da Cruz que, sempre que comungava espiritualmente, concedia-lhe uma graça semelhante à que lhe dava na comunhão sacramental. — Mais tocante é o que um autor fidedigno (1) refere de outro servo de Deus. Quando este fazia na missa a comunhão espiritual, sentira a partícula consagrada levar-se-lhe aos lábios e experimentava na alma uma doçura indizível, querendo o Senhor recompensar desta forma o desejo de seu bom Servo.

Por isso todas as almas devotas costumam praticar com frequência o santo exercício da comunhão espiritual. A Bem-aventurada Angela da Cruz, dominicana, chegou a dizer que, se o confessor não lhe tivesse ensinado este modo de comungar, não teria podido viver. Fazia cem comunhões espirituais durante o dia, e outras cem durante a noite. Nem é de admirar, pois que este modo de comungar, sobre ser uma devoção muito proveitosa, é também facílimo e pode ser praticado cada dia por todos, e quantas vezes se quiser. — A já mencionada Joana da Cruz exclamava:

“Ó meu Senhor, que bela maneira de comungar é essa! Sem ser vista por ninguém, sem ter de dar conta a meu diretor espiritual, sem dependência de ninguém senão de Vós, que alimentais minha alma na solidão e lhe falais ao coração!”

II. Procura fazer com frequência a comunhão espiritual; tanto mais que ela é também um meio valiosíssimo para dispor a alma a fazer com mais fruto a comunhão sacramental. Por isso, nas tuas visitas ao Santíssimo Sacramento, na tua oração mental, em cada missa que ouvires, no momento da comunhão do celebrante, faze a comunhão espiritual.

Faze então um ato de fé, crendo firmemente que na Eucaristia está o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Jesus Cristo, tão vivo como está no céu. Faze também um ato de amor, unido ao arrependimento dos teus pecados; e em seguida um ato de desejo, convidando Jesus Cristo a entrar em tua alma afim de a fazer toda sua. Agradece-lhe, afinal, como se já o tivesses recebido. — Para que essas comunhões espirituais te sejam mais proveitosas, une-as aquelas que fizeram todos os santos e em particular a tua querida Mãe Maria. Quantos frutos colherás desta forma para tua alma! Representa-te que cada uma de tuas comunhões será uma pedra preciosa que ornará a tua coroa no céu.

Ó meu Redentor amabilíssimo, agradeço-Vos o me haverdes ensinado este grande meio de santificação e com o vosso auxilio quero aproveitá-lo sempre, a começar pelo dia de hoje. Sim, meu Jesus, creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-Vos sobre todas as coisas e desejo possuir-Vos em minha alma. Visto que não posso agora receber-Vos sacramentalmente, vinde ao menos espiritualmente ao meu coração. Abraço-Vos, como se já tivesses vindo, e me uno inteiramente a Vós; não permitais que jamais me aparte de Vós.

Ó Maria, vós que tanto desejais ver vosso Filho amado de todos, se me amais, eis aí a graça que vos peço e que me haveis de alcançar: obtende-me um grande amor a Jesus. Obtende-me também um grande amor a vós, que sois a criatura mais amante, a mais amável e a mais amada de Deus. O amor para convosco é uma graça que Deus não concede senão a quem deseja salvar.

Referências:

(1) P. J. Bider O. P.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 144-146)

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

A morte do justo é a entrada na vida

Santo Afonso sobre o temor da morte

Haec porta Domini, iusti intrabunt in eam – “Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela” (Sl 117, 20)

Sumário. A morte, considerada segundo os sentidos, causa pavor e temor, mas considerada segundo a fé, é consoladora e desejável; porque é a porta da vida, pela qual forçosamente deve passar quem quiser entrar no gozo de Deus. Tal é a graça que Jesus Cristo nos alcançou pela sua morte. Pelo que os santos, enquanto estavam na terra, não desejavam senão sair do cárcere do miserável corpo e entrar no reino celestial. Se nós temos tamanho horror à morte, é porque amamos pouco ao Senhor.

I. A morte, considerada segundo os sentidos, causa pavor e temor; mas considerada segundo a fé, é consoladora e desejável; porque, como observa São Bernardo, não só é o fim dos trabalhos e o remate da vitória, como também a porta da vida, pela qual deve passar forçosamente quem quiser entrar no gozo e contemplação de Deus: “Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela.” — São Jerônimo chamava a morte e lhe dizia: Aperi mihi, soror mea — “Ó morte, minha irmã, se me não abres a porta, não poderei entrar no gozo de meu Senhor”. São Carlos Borromeu, vendo em sua casa um quadro que representava um esqueleto com uma foice na mão, mandou chamar um pintor e ordenou-lhe que apagasse a foice e a substituísse por uma chave de ouro. Queria por este meio inflamar-se mais e mais no desejo da morte, porque é a morte que nos deve abrir o paraíso.

Se um rei, diz São João Crisóstomo, tivesse preparado para alguém uma habitação na sua própria morada e no entretanto o deixasse viver num curral, quanto não deveria esse homem desejar sair do curral para passar ao palácio régio? A alma nesta vida vive no corpo como numa prisão, de onde deve sair um dia para entrar no palácio do céu. É por isso que Davi orava assim: Educ de custodia animam meam (1) — “Livrai a minha alma de sua prisão”. E o santo velho Simeão, quando tinha nos braços o menino Jesus, não lhe soube pedir outra coisa senão a morte, para se ver livre das cadeias da vida presente. Nunc dimittis servum tuum, Domine (2) – “Agora, deixas ir o teu servo”. “Pede que o deixem ir”, diz Santo Ambrósio, “como se fosse retido.”

Qual não foi a alegria do copeiro de Faraó, quando soube por José que dentro em pouco devia sair da prisão e voltar a ocupar o seu posto! E não se regozijará uma alma que ama a Deus, sabendo que dentro em breve vai ser livre da prisão deste mundo e entrar na posse de Deus? É, pois, com razão que a morte dos santos se chama o seu nascimento; visto que pela morte nascem para a vida bem aventurada que nunca terá fim.

II. Lê-se na vida de São João o Esmoleiro, que um homem muito rico lhe recomendara seu filho único e lhe dera muitas esmolas, afim de obter longa vida para esse filho; mas pouco tempo depois o moço morreu. Queixando-se o pai amargamente da perda do filho, enviou-lhe Deus um anjo que lhe disse:

“Pediste para teu filho longa vida. Pois bem, sabe que já está gozando dela no céu por toda a eternidade.”

Tal é a graça que Jesus Cristo nos alcançou, conforme a promessa que nos foi feita pela boca do profeta Oséias: Ero mors tua, o mors (3) — “Ó morte, eu serei a tua morte”. Jesus, morrendo por nós, fez com que a morte se nos tornasse vida.

Ó Deus de minha alma, eu, miserável pecador, merecia uma morte desgraçada, porque Vos desonrei pelo passado, voltando-Vos as costas. Mas vosso Filho Vos honrou, sacrificando a vida na cruz. Pela honra que Vos deu vosso amado Filho, perdoai-me a desonra que Vos causei. Ó meu soberano Bem, arrependo-me de Vos ter ofendido; e prometo-Vos que doravante não hei de amar senão a Vós. A minha salvação, espero-a de vossa bondade. Tudo que atualmente tenho de bom é dádiva de vossa graça; a Vós me reconheço devedor de tudo: Gratia Dei sum id quod sum (4) — “É pela graça de Deus que sou o que sou.” Se pelo passado Vos desonrei, espero honrar-Vos eternamente, abençoando a vossa misericórdia.

Sinto um grande desejo de Vos amar; sois Vós quem me inspirais, e eu Vô-lo agradeço, ó meu amor. Continuai, continuai a ajudar-me do mesmo modo por que tendes começado; para o futuro peço ser vosso, todo vosso. Renuncio a todos os prazeres do mundo. Que maior gozo posso eu ter, do que amar-Vos, a Vós, meu Senhor tão amável e que tanto me tendes amado? É só amor que Vos peço, ó meu Deus, amor, amor. E espero pedir-Vo-lo sempre, até que, morrendo no vosso amor, eu chegue ao reino do amor, onde sem ter que o pedir, estarei cheio de amor e não deixarei nunca mais, um momento, de Vos amar em toda a eternidade e com todas as minhas forças. — Maria, minha Mãe, vós que amais tanto o vosso Deus e tanto O desejais ver amado, fazei com que eu O ame muito nesta vida, afim de O amar muito na outra e para sempre.

Referências:

(1) Sl 141, 8
(2) Lc 2, 29
(3) Os 13, 14
(4) 1 Cor 15, 10


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 141-144)

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

Da vida retirada

Monge em seu momento de Oração

Venite seorsum in desertum locum, et requiescite pusillum – “Vinde à parte a um lugar solitário e descansai um pouco” (Mc 6, 31)

Sumário. Todas as almas que amam o Senhor acham o seu paraíso na vida retirada. Ademais, sabemos que Jesus Cristo quis que, depois dos trabalhos do apostolado, seus discípulos se retirassem para um lugar solitário afim de conversarem só com Deus. Devemos portanto concluir que o retiro para a solidão, feito de tempos a tempos, é necessário a todos, mas em particular aos operários sagrados, afim de conservarem o recolhimento e refazerem as forças para novos trabalhos na conquista das almas. Sem esse retiro, serão poucos os frutos de seus trabalhos apostólicos.

I. As almas que amam a Deus acham o seu paraíso na vida retirada longe do trato com os homens. A sua conversação (isto é, a conversação com Deus), longe das criaturas, nada tem de desagradável, mas alegria e gozo (1). — Os mundanos têm motivos para fugirem da solidão, porque na solidão, onde não os absorvem os divertimentos ou ocupações terrenas, mais vivamente se fazem sentir em seus corações os remorsos da consciência. Eis porque procuram alívio ou pelo menos distração na conversação com os homens; mas quanto mais procuram alívio entre os homens ou nos negócios mundanos, tanto mais acham espinhos e amarguras.

O mesmo não sucede às almas amantes de Deus, porque na solidão acham um doce companheiro, que as consola e regozija mais do que a companhia de todos os parentes ou amigos e mesmo dos primeiros personagens do mundo. Diz São Bernardo:

Nunquam minus solus, quam cum solus — “Nunca me vejo menos só do que quando estou só e longe dos homens; porque então acho Deus que fala comigo e eu por minha vez estou mais atento em ouvi-Lo e mais disposto a unir-me a Ele.”

Quis o Senhor que os seus discípulos, muito embora destinados a pregarem a fé percorrendo o mundo inteiro, interrompessem de tempos a tempos os seus trabalhos e se retirassem à solidão, afim de tratarem somente com Deus. Sabemos que Jesus Cristo, já no tempo que passava sobre a terra, costumava enviá-los a diversas partes da Judéia, para converterem os pecadores; mas, findos os trabalhos, não deixava de convidá-los ao retiro a algum lugar solitário, dizendo-lhes:

“Vinde à parte a um lugar solitário e descansai um pouco.”

Ora, se o Senhor manda isto mesmo aos apóstolos, devemos nós concluir que para todos, mas particularmente para os operários evangélicos, é necessário que de tempos a tempos se retirem para um lugar solitário, afim de conservarem o espírito recolhido em Deus e restabelecerem suas forças para os trabalhos da conquista das almas.

II. Quem trabalha em prol do próximo, mas com pouco zelo ou pouco amor de Deus, com algum intuito de amor próprio, de ganhar louvores e dinheiro, pouco fruto produz nas almas. Por isso o Senhor diz a seus operários: Requiescite pusillum — “Descansai um pouco”. Falando assim, Jesus Cristo não pretendia de certo que os apóstolos se deitassem a dormir; senão que descansassem na conversação com Deus, pedindo-Lhe graças para viverem bem e desta maneira obtivessem forças para tratar da salvação das almas. Sem esse repouso em Deus pela oração, falta a força para cuidar bem do proveito próprio e do dos outros.

Falando da vida retirada, São Laurenço Justiniani observa com razão que ela sempre deve ser amada, mas não sempre guardada: Semper est amanda, non semper tenenda. Quer dizer que os que são chamados por Deus à conversão dos pecadores, não devem ficar sempre na solidão, encerrados na sua cela, porque assim faltariam à vocação divina (por obediência à qual é preciso sair do retiro); mas nunca devem deixar de amar a solidão e de suspirar por ela, porque é ali que acham Deus com facilidade.

Ah, meu Jesus! Pouco amei a vida retirada, porque pouco Vos amei. Andei buscando prazeres e alívios no meio das criaturas que me fizeram perder a Vós, o Bem infinito. Ai de mim! Que vivi tantos anos com o coração dissipado, pensando só nos bens da terra e esquecendo-me de Vós. Suplico-Vos: apossai-Vos de meu coração, já que o remistes com o vosso sangue, abrasai-o em vosso amor e possui-o inteiramente. — Ó Maria, Rainha do céu, vós me podeis alcançar esta graça, e de vós a espero.

Referências:

(1) Sb 8, 16

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 139-141)

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

 Do negócio da eterna salvação

“De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?”
“De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?”

Rogamos autem vos, fratres… ut vestrum negotium agatis “Nós vos rogamos, irmãos… que trateis de vosso negócio” (1 Ts 10-11)

Sumário. O negócio da nossa eterna salvação é para nós não só o negócio mais importante, mas o único que nos deva preocupar; porque, se o errarmos uma vez, está tudo perdido e perdido para sempre. Mas ó maravilha, todos os que possuem a fé reconhecem que é assim e, contudo, entre os cristãos são poucos os que tratam seriamente de um negócio tão importante. Ponhamos a mão na consciência e se por ventura sejamos do número desses descuidados, resolvamos emendar-nos depressa, custe o que custar.

I. O negócio da nossa salvação eterna não só é para nós o mais importante, mas o único que nos deve preocupar; porque, se o errarmos, está perdido tudo. O pensamento da eternidade bem meditado basta para fazer um santo. O servo de Deus P. Vicente Carafa dizia que, se todos os homens se lembrassem, com viva fé, da eternidade da vida futura, a terra se tornaria um deserto; pois que ninguém se ocuparia ainda com os negócios da vida presente.

Oh! Se todos tivessem sempre diante dos olhos a grande máxima ensinada por Jesus Cristo:

“De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” (1)

Foi esta a máxima que levou tantos homens a deixarem o mundo; tantas virgens nobres e até de sangue real, a se encerrarem num convento; tantos anacoretas a irem viver nos desertos; e tantos mártires a darem a vida pela fé. Lembravam-se de que, se perdessem a alma, todos os bens deste mundo de nada lhes poderiam servir na vida eterna. — Eis porque o Apóstolo escreveu a seus discípulos:

“Nós vos rogamos, meus irmãos…, que trateis de vosso negócio.” (2)

De que negócio é que falava o Apóstolo? Falava daquele negócio cuja perda acarreta a perda do reino eterno do paraíso e o ser lançado num abismo de tormentos que nunca jamais terão fim.

Tinha, pois, razão São Filipe Neri em chamar de loucos a todos aqueles que nesta vida só cuidam de riquezas e dignidades e pouco se importam com a salvação da alma. Todos eles, dizia o Bem aventurado João de Ávila, mereceriam ser encerrados num hospício de alienados: Como? (quis dizer o Bem-aventurado) Vós credes que há uma eternidade de penas para os que O ofendem; e apesar disso ainda o ofendeis?

II. Toda a perda de riquezas, de reputação de parentes, de saúde, mesmo da vida, é reparável; ao menos por uma boa morte e pela aquisição da vida eterna, como sucedeu aos santos mártires. Mas qual o bem deste mundo, qual a fortuna, seja embora a maior que se possa esperar nesta vida, que compensa a perda da alma? Quam dabit homo commutationem pro anima sua? (3) — “Que dará o homem em troca de sua alma?”

Quem morre na inimizade de Deus e perde a alma, perde ao mesmo tempo toda a esperança de reparar a sua ruína: Mortuo homine impio non erit ultra spes (4) — “Morto o homem ímpio, não resta mais esperança alguma”. Oh céus! Se o artigo da vida eterna não fosse senão uma simples opinião duvidosa dos doutores, deveríamos ainda fazer todo o empenho para nos assegurar a eternidade bem-aventurada e nos livrar da eternidade infeliz. Mas não; não é uma coisa duvidosa; é uma certeza, é um ponto de fé que uma ou outra nos caberá em sorte.

Mas, ó maravilha! Toda a pessoa que tem fé e medita nesta verdade, diz: Com efeito, é preciso cuidar na salvação da alma; e, contudo são poucos os que nisso cuidam deveras. Usa-se de toda prudência para ganhar tal demanda, obter tal posto, e põe-se de parte o negócio da salvação eterna, sem pensar, como diz Santo Euquério, que este erro é pior do que todos os outros; pois, perdida a alma, está perdida irremediavelmente. Utinam saperent et intelligerent, ac novissima providerent! (5) — “Oxalá que eles tivessem sabedoria e inteligência e previssem os fins”. Infelizes dos sábios que sabem muita coisa, mas não sabem cuidar da sua alma, para obterem uma sentença favorável no dia do juízo!

Ah, meu Redentor, derramastes o vosso sangue para adquirirdes a minha alma e eu tantas vezes a perdi e tornei a perdê-la! Agradeço-Vos o tempo que ainda me concedeis para a recuperar recuperando a vossa graça. Ó meu Deus, antes tivesse eu morrido e nunca Vos tivesse ofendido! Consola-me, porém, que não sabeis desprezar um coração humilhado e contrito que se arrepende de seus pecados. † Meu Jesus, misericórdia!

— Ó Maria, refúgio dos pecadores, socorrei um pecador que se recomenda a vós e tem confiança em vós.

Referências:

(1) Mt 16, 26
(2) 1 Ts 4, 11
(3) Mt 16, 26
(4) Pv 11, 7
(5) Dt 32, 29


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 136-139)

domingo, 22 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: 18º Domingo depois de Pentecostes

A cura do paralítico e a causa das tribulações


Mulher em oração

18º Domingo depois de Pentecostes

Confide, fili: remittuntur tibi peccata tua – “Filho, tem confiança, perdoados te são os pecados” (Mt 9, 2)

Sumário. De ordinário, a causa de todas as tribulações, e especialmente das enfermidades, são os pecados. Eis porque o Senhor, como refere o Evangelho, antes de restituir ao paralítico a saúde do corpo, lhe restituiu a da alma, concedendo-lhe o perdão dos pecados. Portanto, se quisermos que Deus nos livre das aflições que nos oprimem, arranquemos primeiro a raiz, isto é, o pecado. Aconselhemo-lo igualmente a nosso próximo em suas tribulações.

I. Quando alguém ofende a Deus, provoca todas as criaturas a castigarem-no, e especialmente aqueles de que abusa para ofender o Criador. Sucede então o mesmo, diz Santo Anselmo, que quando um escravo se revolta contra seu senhor: excita a indignação não só de seu senhor, como também de toda a família. – Deus, porém, sendo um Senhor de infinita misericórdia, contém as criaturas afim de que não castiguem o réu; mas quando vê que este não faz caso das ameaças, serve-se delas então para se desafrontar. De modo que, de ordinário, a causa de todas as tribulações e especialmente das enfermidades corporais, são os pecados: Qui delinquit, incidet in manus medici (1) — “Aquele que peca, virá a cair nas mãos do médico”.

Esta verdade nos é revelada com bastante clareza no fato do Evangelho de hoje. Um paralítico pediu a Jesus Cristo a saúde, e Jesus, antes de curar corporalmente, curou-lhe a alma dizendo:

“Filho, tem confiança; perdoados te são os pecados.”

Porque é que Jesus procedeu assim? Responde Santo Tomás: Porque o Senhor, como bom médico, quis primeiro arrancar a causa da enfermidade que eram os pecados, e depois tirar a própria enfermidade, que era efeito deles. É este também o motivo porque o Senhor, depois de curar aquele outro enfermo na piscina de Bethsaida, o qual estivera doente por trinta e oito anos, o exortou a não pecar mais, afim de que não lhe acontecesse coisa pior. Ne deterius tibi aliquid contingat. (2)

Escuta, pois, meu irmão, o belo conselho que te dá o Espírito Santo, para quando tu também estiveres oprimido pelas tribulações:

“Filho, em tua enfermidade (e o mesmo se diga de qualquer tribulação) faze oração ao Senhor e Ele te curará. Aparta-te do pecado, endireita as tuas ações, purifica o teu coração de todo o delito,… e depois dá lugar ao médico.” (3)

II. A narração evangélica mostra-nos também um belo exemplo de caridade, digno de ser imitado. O paralítico, deitado no seu leito, não se apresentou por si mesmo ao Senhor; mas foi apresentado por outros com bastante incômodo. Porque, segundo observa São Marcos, como não pudessem entrar pela porta na casa onde estava Jesus, descobriram parte do teto, e, fazendo uma abertura, arrearam o leito em que o paralítico jazia até perto de Jesus (4). E o Redentor sentiu-se impelido a curá-lo, não tanto pela compaixão para com o enfermo, como pela fé dos que o tinham trazido: videns Jesus fidem illorum — “vendo-lhes a fé”.

Eis o que nós também devemos fazer; empreguemos todos os meios para reconduzir a Jesus as almas enfermas dos pecadores, afim de que sejam curadas; e se não estiver ao nosso alcance fazer mais, demos-lhes, ao menos, bom exemplo e roguemos por eles. — Desta maneira praticaremos um belo ato de caridade, não somente para com o próximo, como também para conosco; porquanto, na expressão de Santo Agostinho, neste mundo o Senhor castiga muitas vezes os bons com os maus, porque se descuidam de impedir e de corrigir os pecados dos outros.

Ó meu Jesus, saúde dos enfermos, conforto dos que sofrem, tende piedade de mim! Renovai, suplico-Vos, os prodígios que outrora fizestes a favor de Israel, e pela vossa onipotência, livrai-me de todas as enfermidades, de todas as tribulações que com justiça me afligem em castigo das ofensas que Vos tenho feito. Se Vós, porém, ó meu Senhor, dispondes de outras formas, eu Vô-las ofereço como sacrifício, em união e agradecimento daquele que por mim fizestes sobre a cruz, para desconto de meus pecados e para a conversão dos pecadores. Dignai-Vos de as aceitar, e como recompensa, infundi em meu coração a virtude da paciência, e “conduzi-o sempre pela ação da vossa misericórdia; porque sem Vós a Vós não podemos agradar”. (5) † Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) Eclo 38, 15
(2) Jo 5, 14
(3) Eclo 38, 9ss
(4) Mc 2, 4
(5) Or. Dom. curr.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 134-136)

sábado, 21 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

 

Maria Santíssima suaviza a morte dos seus devotos

“Maria, mãe da graça, mãe da misericórdia, do inimigo nos protegei, e na hora da morte nos recebei”.  (São Gabriel de Nossa Senhora das Dores)
“Maria, mãe da graça, mãe da misericórdia, do inimigo nos protegei, e na hora da morte nos recebei”. (São Gabriel de Nossa Senhora das Dores)

Non tanget illos tormentum mortis“Não os tocará o tormento da morte” (Sb 3, 1)

Sumário. Desde o grande dia em que a Santíssima Virgem teve a felicidade e ao mesmo tempo a dor de assistir no Calvário à morte de Jesus Cristo, tornou-se protetora especial dos pobres moribundos. Quando a divina Mãe vê um seu devoto nestes extremos, ordena a São Miguel que o defenda contra os assaltos do demônio e ela mesma também vai assisti-lo e socorrê-lo. Avivemos, pois, a nossa devoção para com Maria, e, ainda que pecadores, esperemos que também nós havemos de gozar da sua proteção na hora de nossa morte. Oh! Que doce consolação morrer entre os braços de Maria!

I. Os amigos do mundo não deixam o amigo enquanto está em prosperidade; mas se vem a cair em alguma desgraça, e especialmente à hora da morte, logo os amigos o deixam. Não faz assim Maria com os seus devotos. Nas suas angústias, e em particular nas da morte, que são as maiores que se pode ter na terra, nossa boa Mãe não sabe desamparar os seus fiéis servos. Assim como ela é nossa vida no tempo de nosso desterro, assim também quer ser doçura na hora suprema, alcançando para nós uma morte doce e preciosa, pelo que a Igreja lhe conferiu o belo título de Auxilio dos agonizantes.

Desde o grande dia em que Maria teve a felicidade, e ao mesmo tempo a dor de assistir à morte de Jesus seu Filho, que foi a cabeça dos predestinados, adquiriu a graça de assistir também a todos os predestinados na sua morte. E por isso, como diz São Boaventura, ela manda que o arcanjo São Miguel vá com outros espíritos celestiais defender seus filhos moribundos das tentações do demônio e receber suas almas afim de as levar ao tribunal divino.

E não contente com isso, nossa piedosa Rainha, como prometeu à Santa Brígida, virá ela mesma e muitas vezes visivelmente assistir a todos os devotos que a serviram fielmente e se-lhe recomendaram continuamente. Assim, efetivamente, lemos que ela apareceu à Santa Clara de Montefalco, à Santa Teresa de Jesus, a São Pedro de Alcântara e a centenas e milhares de outros. Ó Deus! Que consolação será para um filho de Maria, quando no supremo momento de sua vida, em que se há de decidir a causa de sua eterna salvação, vir ao pé de si a Rainha do céu, para o defender dos assaltos dos demônios e lhe prometer a sua proteção!

II. Quando São João de Deus estava para morrer, esperava a visita de Maria Santíssima, da qual era muito devoto; mas, vendo que ela não aparecia, estava aflito e lamentoso; eis que a divina Mãe lhe aparece e, como que repreendendo-o de sua pouca confiança, lhe diz: “Meu João, não sabes que eu não desamparo os meus devotos na hora da morte?” — Animemo-nos, pois, e tenhamos confiança em que a Virgem virá assistir-nos na hora da morte e consolar-nos com a sua presença, se nós a servirmos com amor, ao menos no tempo de vida que ainda nos resta.

Ó Maria Santíssima, Mãe de bondade e misericórdia, quando me lembro dos meus pecados e penso no momento da minha morte, estremeço de espanto. Ó Mãe terníssima, todas as minhas esperanças são fundadas nos méritos de Jesus Cristo e na vossa intercessão. Ó Consoladora dos aflitos, não me abandoneis então, não deixeis de me consolar nessa extrema aflição. Se agora estou tão atormentado pelo remorso dos pecados cometidos, pela incerteza do perdão, pelo perigo de recair e pelo rigor da justiça divina, que será de mim naquele momento?

Ah, Soberana minha! Antes que a morte chegue, dai-me uma viva dor dos meus pecados, uma verdadeira emenda e a fidelidade a Deus para o resto de minha vida. E quando soar a hora derradeira, ó Maria, minha esperança, assisti-me nas cruéis agonias em que me achar; sustentai-me para que não me desespere à vista dos pecados que o demônio me há de por diante dos olhos. Obtende-me a graça de vos invocar mais vezes então, afim de que expire tendo nos lábios o vosso dulcíssimo nome e o vosso divino Filho. Esta graça, vós a tendes feito a muitíssimas almas que vos eram dedicadas; eu a quero e espero para mim também.

“E Vós, ó meu Deus, que quisestes que a Virgem Maria, Mãe de vosso Unigênito, estivesse presente quando Ele estava pregado na cruz pela nossa salvação: concedei-me, suplico-Vos, que, achando-me no fim da vida, também eu seja socorrido pela sua intercessão e alcance a recompensa eterna. Fazei-o pelo amor de mesmo Jesus Cristo.” (1)

Referências:

(1) Or. Eccl.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 131-133)

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III

 

O grande livro que é o Crucifixo

Orações Diárias

Grande livro que é o Crucifixo

Non iudicavi me scire aliquid inter vos, nisi Iesum Christum, et hunc crucifixum “Não entendi saber entre vós coisa alguma, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (Jo13,1)

Sumário. O lenho da cruz serviu a Jesus Cristo, não só de patíbulo, para operar o nosso resgate; mas também de cátedra para nos ensinar as mais sublimes virtudes. À imitação dos santos, procuremos estudar amiúde o grande livro do Crucifixo e nós também nele aprenderemos como devemos praticar a obediência aos preceitos divinos, o amor para com o próximo, a paciência nas adversidades. Nele aprenderemos sobretudo como devemos odiar o pecado e amar a Deus, aceitando por seu amor trabalhos, tribulações e a própria morte.

I. Dizia o Apóstolo São Paulo que ele não queria saber outra coisa senão Jesus, e Jesus crucificado, isto é, o amor que Ele nos testemunhou sobre a cruz. E na verdade, em que livros poderemos melhor estudar a ciência dos santos, que é a ciência de amar a Deus, senão em Jesus crucificado? O grande servo de Deus Frei Bernardo de Corlione, capuchinho, não sabendo ler, queriam os religiosos, seus irmãos, ensiná-lo. Foi primeiro tomar conselho com o Crucifixo; mas Jesus lhe respondeu da cruz: “Que, livros! Que, leituras! Eu é que sou o teu livro, no qual podes sempre ler o amor que tenho tido.” Oh, que grande assunto para meditação por toda a vida e por toda a eternidade: um Deus morto por nosso amor! Um Deus morto por nosso amor! Oh, que grande assunto!

Um dia Santo Tomás de Aquino visitando a São Boaventura perguntou-lhe de que livro tinha feito mais uso para consignar em suas obras tão belos conceitos. São Boaventura mostrou-lhe a imagem de Jesus crucificado, toda enegrecida pelos beijos que lhe dera, dizendo: “Eis aqui o livro que me fornece tudo que escrevo; É ele que me ensinou o pouco que sei.” Jesus crucificado foi também o livro predileto de São Filipe Benicio, que teve a fortuna de exalar a sua alma bendita enquanto beijava aquelas chagas sagradas. Numa palavra, foi no estudo do crucifixo que os santos aprenderam a arte de amar a Deus e de, por amor d’Ele, sofrer as tribulações, os tormentos, os martírios e a morte mais cruel.

Tinha, pois, Santo Agostinho razão para escrever que o lenho da cruz serviu a Jesus Cristo, não só de patíbulo, para nele operar a nossa redenção, mas também de cátedra para nos ensinar as mais sublimes virtudes. — Por isto, o Santo, arrebatado pelo amor à vista de Nosso Senhor coberto de chagas sobre a cruz, fazia esta terna oração: Gravai, ó meu amantíssimo Salvador, gravai as vossas chagas em meu coração, afim de que nelas leia eu sempre a vossa dor e o vosso amor. Sim, porque, tendo diante dos olhos a grande dor, que Vós, meu Deus, padecestes por mim, sofrerei em paz todas as penas que me possam acontecer; e à vista do amor que me tendes patenteado na cruz, não amarei nem poderei amar senão a Vós.

II. Eis, pois, aí o nosso grande livro: Jesus crucificado! Se o estudarmos amiúde, ficaremos também instruídos na ciência dos santos; porquanto, no dizer de Santo Tomás, ao mesmo tempo que n’Ele acharemos auxílio seguro contra todas as tentações, aprenderemos a praticar a obediência a Deus, a caridade para com o próximo, e a paciência nas adversidades. Mas n’Ele, sobretudo, aprenderemos a temer o pecado e a amar a Jesus Cristo com todas as nossas forças; pois nessas chagas leremos de uma parte a malícia do pecado que constrangeu um Deus a sofrer tão amargosa morte para satisfazer à divina justiça; e da outra o amor que o Salvador nos mostrou querendo sofrer tanto a fim de nos fazer compreender o quanto nos amava.

Procuremos, portanto, ter uma linda imagem de Jesus crucificado, coloquemo-la em nosso quarto, e olhando para ela frequentemente, mesmo entre os nossos estudos e trabalhos, façamos com afeto alguma oração jaculatória e particularmente esta: † Meu Jesus, misericórdia! (1)

O Senhor revelou a Santa Gertrudes, que todo o que olha com devoção o Crucifixo, será cada vez recompensado com um olhar amoroso de Jesus.

Ah, meu Jesus! Quem não Vos há de amar, reconhecendo-Vos pelo Deus que sois e contemplando-Vos na cruz? Oh! Que setas de amor arremessais às almas do alto da cruz! Quantos corações tendes atraído a Vós lá do trono de amor! Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor, deixai-me entrar em Vós afim de ser consumido pelo amor de meu Deus, que quis morrer por mim, consumido pelos tormentos. — Ó minha dolorosa Mãe, Maria, ajudai um vosso servo que deseja amar a Jesus.

Referências:

(1) 300 dias de indulgência a cada vez


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 129-131)

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

As Aparições de La Salette

 


A Virgem de La Salette apareceu a duas crianças em 1846 perto do povo de La Salette-Fallavaux, em Isère, França. Os dois jovens pastores, chamados Santa Maria Melania de la Cruz e de La Salette (nascida Mélanie Calvat), de 15 anos, e São Maxi-mino Giraud, de 11 anos, contaram como no sábado, 19 de setembro de 1846, por volta das três da tarde, quando cuidavam das vacas de seus amos em uma montanha perto do povo alpino de La Salette, viram aparecer dentro de uma luz resplandecente, mais brilhante que o sol, uma ‘Bela Senhora’ em lagrimas que se dirige a eles.

Primeiro sentada e chorando com a cabeça entre as mãos, a ‘Bela Senhora’ se levanta e fala longamente. Lhes explica que chora pela impiedade imperante na sociedade e os exorta a renunciar a dois pecados graves que se tornaram muito comuns: a blasfêmia e não tomar o domingo como dia de descanso e de assistência à Missa. Prevê castigos espantosos que virão se as pessoas não mudarem e promete a clemencia divina para aqueles que mudarem. Por fim, pede às crianças que rezem, façam penitência e divulguem a sua mensagem.

A Virgem disse aos pastorzinhos, entre outras coisas, que a mão de seu Filho era tão forte e pesada que já não podia mais segurá-la, a menos que o povo fizesse penitência e obedecesse às leis de Deus. Do contrário, teriam muito que sofrer. As pessoas não observam o Dia do Senhor, continuam a trabalhar sem parar aos Domingos. Apenas algumas mulheres mais velhas vão à Missa no verão. E no inverno quando não têm mais nada para fazer, vão à igreja para zombar da religião. O tempo da quaresma é ignorado. Os homens não podem jurar sem tomar o Nome de Deus em vão. A desobediência e passar por alto dos mandamentos de Deus são as coisas que tornam a mão de seu Filho seja mais pesada.

Ela continuou a conversar e lhes previu uma terrível fome e escassez. Disse que a colheita de batatas tinha sido estragadas por essas mesmas razões do ano anterior. Quando os homens encontraram as batatas podres, juraram e blasfemaram contra o nome de Deus ainda mais. Lhes disse que esse mesmo ano a colheita voltaria a estragar e que o milho e o trigo se tornaria pó ao golpear, as nozes se danificariam, as uvas se apodreceria.

Toda a luz dentro da qual se apresenta e que envolve completamente os três, provém de um grande crucifixo que carrega no peito, rodeado por um martelo e um alicate. Leva sobre os ombros uma corrente e, ao lado, umas rosas. Sua cabeça, sua cintura e seus pés estão também rodeados de rosas; vestida de branco, com xale ou lenço de rubi e avental dourado. No final, a “Bela Dama” sobe por uma pendente e desaparece entre a luz.

Santa Maria Melania nos conta como aconteceu a aparição: Maximino me disse que ensinara um jogo. A manhã estava avançada; lhe disse a para colher flores para fazer o ‘Paraiso’. Nós dois começamos a trabalhar. Logo tínhamos uma boa quantidade de flores de diferentes cores. Se ouviu o Angelus da vila, pois o céu estava sereno e sem nuvens. Depois de contar a Deus o que sabíamos, disse a Maximino que devíamos levar as nossas vacas a um pequeno terreno, perto de um pequeno barranco onde haveria pedras para construir o ‘Paraíso’. Levamos nossas vacas para o local designado e imediatamente preparamos nossa pequena refeição. Então, começamos a carregar as pedras e construir nossa casinha que consistia em um andar térreo que se chamava nosso quarto e depois um andar acima que era, segundo nós, o ‘Paraíso’. Este andar estava todo adornado com flores de diferentes cores com coroas suspensas em talos de flores. O ‘Paraíso’ estava coberto por uma única e larga pedra que tínhamos coberto com flores; também penduramos coroas em volta dela. Terminado o ‘Paraíso’ o contemplamos; veio o sono, demos dois passos dali e adormecemos na grama. Sem fazer cair, a Bela Senhora senta-se no nosso ‘Paraíso’.

Ao despertar e não vejo nossas vacas chamo Maximino e subo o pequeno montinho. Tendo visto que as nossas vacas estavam repousadas tranquilamente , eu descendo dali e o Maximino subindo, quando, de repente, vi uma bela luz mais brilhante que o sol, e apenas consegui dizer estas palavras: “Maximino, vês, ali? Ah! Meu Deus!” Ao mesmo tempo deixou cair o bastão que segurava. Não sei o que de delicioso estava acontecendo comigo naquele momento, mas eu me sentia atraída, senti um grande respeito cheio de amor, e meu coração queria correr mais rápido do que eu. Eu olhei fixamente esta Luz que estava imóvel, e, como se tivesse aberto, percebi outra Luz muito mais brilhante, e que estava em movimento e, nesta Luz, uma Belíssima Senhora sentada sobre nosso ‘Paraíso’ com a Cabeça entre suas Mãos . Esta Bela Senhora se levantou, cruzou um pouco seus braços, e olhando-nos, nos disse:

“Aproximem-se, meus filhinhos, não tenham medo; Estou aqui para vos anunciar uma grande notícia.”

Essas palavras doces e suaves me fizeram voar até Ela, e meu coração havia desejado unir-se a Ela para sempre. Tendo chegado muito perto da Bela Senhora, frente a Ela, a sua direita, Ela começa seu discurso e também as lágrimas começaram a escorrer dos seus belos olhos.

“Se meu povo não quiser se submeter, sou forçado a deixar livre a Mão de meu Filho. É tão grave e pesada que não consigo mais segurá-la. Faz quanto tempo que sofro por vós! Se quero que meu Filho não vos abandone, devo rogar-lhe sem pausa. E quanto a vós, não fazeis caso disso. Por mais que rogueis, por mais que façais, jamais podereis recompensar a pena que peguei por vós.

Dei-lhes seis dias para trabalhar, reservei o sétimo e não quer se lembrar disso. É isso que torna tão pesado o braço do meu Filho. Quem dirige o carro não sabem falar sem colocar o Nome do meu Filho em seus juramentos. São as duas coisas que tornam tão pesado o braço do meu Filho.

Se a colheita estragou, é só por causa de vós. Fiz vos ver o ano passado com as batatas, vós não fizeram caso disso; pelo contrário, quando encontrais arruinadas jurais e usais o Nome do meu Filho. Vão continuar a estragar, e no Natal não haverá mais.

Se tens trigo, não precisa semear. Tudo o que semeeis, as bestas comerão, e o que cresce virará pó quando peneirado. Vai haver uma grande fome. Antes que venha a fome, as criancinhas com menos de sete anos terão um tremor e morrerão nas mãos das pessoas que as sustentam; o resto fará penitência com a fome. As nozes vão estragar, os cachos vão apodrecer.”

Aqui, a Bela Senhora, que me tinha encantada, ficou um momento sem se ouvir; via, no entanto, que continuou movendo graciosamente seus amáveis lábios como se estivesse falando. Maximino então recebeu seu segredo. Logo, dirigindo-se a mim, a Santíssima Virgem falou comigo e me deu um segredo em francês. Aqui está este segredo, tal como Ela me deu:

“Melania, o que vou lhe contar agora não permanecerá sempre um segredo. Poderá publicá-lo em 1858. Os Sacerdotes, Ministros de meu Filho, os Sacerdotes, por sua má vida, por sua irreverência e sua impiedade na celebração dos Santos Mistérios, por amor ao dinheiro, por amor à honra e prazeres, os Sacerdotes se transformaram em esgoto de impureza. Sim, os Sacerdotes clamam por vingança, e a vingança está pairando sobre suas cabeças. Desdita dos Sacerdotes e das pessoas consagrados a Deus que, por sua infidelidade e má vida, crucificam de novo meu Filho! Os pecados das pessoas consagradas a Deus clamam ao Céu e chama a vingança, e eis que a vingança está às suas portas, pois não há mais ninguém para implorar misericórdia e perdão para o povo; não há mais almas generosas, já não há mais pessoas dignas de oferecer a Vítima sem mancha ao Eterno em favor do mundo

Deus vai castigar de uma maneira sem precedente. Desditosos os habitantes da terra! Deus vai esgotar sua Cólera, e ninguém será capaz de escapar dos muitos males reunidos. Os líderes, os condutores do povo de Deus, se descuidaram a oração e a penitência, e o diabo obscureceu suas inteligências; se converteram nessas estrelas errantes que o velho diabo arrastará com sua cauda para fazê-los perecer. Deus permitirá que a antiga serpente coloque divisões entre aqueles que reinam, em todas as sociedades e em todas as famílias; sofrerão penas físicas e morais; Deus abandonará os homens a si mesmos e enviará castigos que continuarão por mais de trinta e cinco anos.

A sociedade está às vésperas das mais terríveis pragas e dos maiores acontecimentos; deve-se esperar ser governado por uma barra de ferro e beber o cálice da Cólera de Deus …

Itália será castigada por sua ambição de querer sacudir o jugo do Senhor dos Senhores; também ela será entregada à guerra, o sangue correrá por todas partes; as igrejas serão fechadas ou profanadas; os Sacerdotes, os religiosos serão expulsados; se lhes fará morrer e terão uma morte cruel. Muitos abandonarão a Fé e será grande o número de Sacerdotes e religiosos que se afastarão da verdadeira religião; entre essas pessoas haverá até Bispos. Que o Papa se cuide dos feitores de milagres, pois chegou o tempo em que as prodígios mais assombrosos acontecerão na terra e no ares …

Lúcifer e um grande número de demônios serão soltados do inferno: abolirão a fé pouco a pouco, incluso as pessoas consagradas a Deus; os cegarão de tal maneira que, a menos que por uma graça particular, estas pessoas tomarão o espírito desses anjos maus; muitas casas religiosas perderão totalmente a fé e perderão muitas almas.

Os maus livros abundarão sobre a terra e os espíritos das trevas espalharão por todas partes um relaxamento universal para tudo o que diz respeito ao serviço de Deus; terão grande poder sobre a natureza; haverá igrejas para servir a esses espíritos. De um lado a outro serão transportadas pessoas por estes espíritos maus e incluso sacerdotes, pois eles não terão se conduzido segundo o bom espírito do Evangelho, que é espírito de humildade, de caridade e zelo pela Glória de Deus. … Haverá por todas partes prodígios extraordinários, posto que a verdadeira fé foi extinta e a falsa luz ilumina o mundo. Desditosos os Príncipes da Igreja que se ocuparam apenas em acumular riquezas sobre riquezas, em salvaguardar sua autoridade e em dominar com orgulho.

O Vigário do meu Filho terá muito a sofrer, pois, por um tempo, a Igreja será abandonada a grandes perseguições; este será o tempo das trevas; a Igreja terá uma terrível crise.

Esquecida a santa fé de Deus, cada indivíduo quererá guiar-se por si mesmo e ser superior a seus semelhantes. Se abolirão os poderes civis e eclesiásticos, toda ordem e toda a justiça serão pisoteadas; só se verão homicídios, ódio, invejas, mentira e discórdia, sem amor pela pátria nem pela família.

O Santo Padre sofrerá muito. Eu estarei com ele até o fim para receber seu sacrifício.

Os malvados atentarão muitas vezes contra sua vida sem ser poder causar-lhe dano, mas nem ele nem seu sucessor… verão o triunfo da Igreja de Deus.

Os governos civis terão todos um mesmo designo, que será abolir e fazer desaparecer todo princípio religioso para dar espaço ao materialismo, ao ateísmo, ao espiritismo e toda classe de vícios…

Se verá a abominação nos lugares santos; nos conventos, as flores da Igreja apodrecerão e o demônio se fará como rei dos corações. Que aqueles que estão à cabeça das comunidades religiosas tenham cuidado com as pessoas que devem receber, pois o demônio fará uso de toda sua malícia para introduzir nas ordens religiosas pessoas entregadas ao pecado, já que as desordens e o amor dos prazeres carnais serão espalhados por toda a Terra.

França, Itália, Espanha e Inglaterra estarão em guerra; o sangue correrá pelas ruas, os franceses combaterão com os franceses, os italianos com os italianos; então haverá uma guerra geral que será terrível. Por um tempo, Deus não se lembrará da França nem da Itália, pois o Evangelho de Jesus Cristo já não é mais conhecido. Os malvados estenderão toda a sua malícia; se matará, se massacrará mutuamente até nas casas.

Ao primeiro golpe do raio de Sua espada, as montanhas e a terra inteira estremecerão de pavor, visto que as desordens e os crimes dos homens transpassam a abóbada dos Céus. Paris será queimada e Marselha será engolida pelo mar, muitas grandes cidades serão abaladas e engolfadas por terremotos: se acreditará que tudo está perdido; só se verão homicídios, só se ouvirão o barulho de armas e blasfêmias. Os justos sofrerão muito; suas orações, suas penitências e as suas lágrimas subirão até o Céu e todo o povo de Deus pedirá perdão e misericórdia, e pedirá a minha ajuda e a minha intercessão. Então, Jesus Cristo, por um ato de sua Justiça e Misericórdia, ordenará a seus Anjos que todos os seus inimigos sejam executados. De repente, os perseguidores da Igreja de Jesus Cristo e todos os homens entregados ao pecado perecerão, e a terra será como um deserto. Então haverá paz, a reconciliação de Deus com os homens. Jesus Cristo será servido, adorado e glorificado; a caridade florescerá em todos os lugares. Os novos reis serão o braço direito da Santa Igreja que será forte, humilde, piedosa, pobre, zelosa e imitadora das virtudes de Jesus Cristo. O Evangelho será predicado em todos os lugares, e os homens farão grandes progressos na fé, porque haverá unidade entre os obreiros de Jesus Cristo, e os homens viverão no temor de Deus.

Esta paz entre os homens não durará muito; vinte e cinco anos de abundantes colheitas farão esquecer que os pecados dos homens são a causa de todas as aflições que acontecem sobre a Terra.

Um precursor do anticristo com seus exércitos de várias nações combaterá contra o verdadeiro Cristo, o único Salvador do mundo; derramará muito sangue e quererá aniquilar o culto de Deus para se fazer ter como um Deus.

A Terra será atingida por todos os tipos de pragas (além da praga e da fome, que serão gerais); haverá guerras até a última guerra, que será travada pelos dez reis do anticristo, que terão todos um mesmo desígnio, e serão os únicos que governarão o mundo. Antes que isso aconteça, haverá uma espécie de falsa paz no mundo; só se pensará em se divertir; os malvados se entregarão a toda classe de pecados, mas os filhos da Santa Igreja, os filhos da Fé, meus verdadeiros imitadores, crescerão no amor de Deus e nas virtudes que me são mais queridas. Ditosas as almas humildes conduzidas pelo Espírito Santo. Eu combaterei com elas até que cheguem ao plenitude do tempo.

A natureza exige vingança para os homens, e, esperando o que deve acontecer na terra manchada de crimes, se estremece de pavor.

Treme, terra, tremais vós, aqueles que fazeis profissão de servir a Jesus Cristo e que por dentro adorais a vós mesmos; pois Deus vai entregá-los ao seu inimigo, visto que os lugares santos se encontram em corrupção; muitos conventos não são mais as casas de Deus, senão o pasto de Asmodeo e os seus.

Será durante este tempo que nascerá o anticristo, de uma religiosa hebreia, de uma falsa virgem que terá comunicação com a antiga serpente, o senhor da impureza; seu pai será bispo; ao nascer vomitará blasfêmias, terá dentes; será, em uma palavra, o diabo encarnado; lançará gritos terríveis, fará prodígios, só se alimentará de impurezas. Terá irmãos que, embora não sejam demônios encarnados como ele, serão filhos do mal; aos doze anos se notarão por suas valentes vitórias, logo estará cada um à cabeça dos exércitos assistidos por legiões do inferno.

As estações se alterarão, a terra só produzirá frutos ruins, os astros perderão seus movimentos regulares, a lua só refletirá uma fraca luz avermelhada; água e fogo darão ao orbe da terra movimentos convulsivos e terremotos horríveis que engolirão montanhas, cidades, etc.

Roma perderá a fé e se converterá na sede do anticristo.

Os demônios com o anticristo farão grandes maravilhas na terra e no ar, e os homens se tornarão cada vez mais pervertidos. Deus cuidará de seus servos fiéis e homens de boa vontade; o Evangelho será pregado em todos os lugares. Todos os povos e todas as nações terão conhecimento da Verdade!

Eu dirijo um apelo urgente à Terra; chamo os verdadeiros discípulos do Deus Vivente e Reinante nos Céus; chamo os verdadeiros imitadores de Cristo feito Homem, o único e verdadeiro Salvador dos homens; chamo meus filhos, meus verdadeiros devotos, aqueles que se entregaram a Mim para conduzi-los ao meu Filho Divino, aqueles que, por assim dizer, carrego em meus braços; aqueles que tem vivido de meu espírito; chamo, em fim, os Apóstolos do Últimos dos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo que tem vivido no desprezo do mundo e por si próprios, na pobreza e na humildade, no desprezo e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento, e desconhecidos do mundo. É hora de sair e vir iluminar a terra. Vá e mostre-se como meus queridos filhos; Eu estou convosco e em vós, desde que a vossa Fé seja a luz que vos ilumina nestes dias de infortúnio. Que vosso zelo o torne como famintos pela glória e honra de Jesus Cristo. Combatem, filhos da Luz, vós, os poucos que veem, pois aqui é o Tempo dos Tempos, o fim dos fins.

A Igreja será eclipsada, o mundo ficará consternado. Mas aqui estão Enoc e Elias cheios do Espírito de Deus; eles pregarão com a força de Deus e os homens de boa vontade acreditarão em Deus e muitas almas serão consoladas; farão grandes progressos em virtude do Espírito Santo e condenarão os erros diabólicos do anticristo.

Desditosos dos habitantes da terra! Haverá guerras sangrentas e fomes, pragas e enfermidades contagiosas; haverá chuvas de um espantoso granizo de animais, trovões que sacudirão as cidades, terremotos que engolirão países; se ouvirão vozes nos ares, homens baterão suas cabeças contra as paredes; chamarão a morte e, por outro lado, a morte fará seu suplicio, o sangue correrá por todas partes. Quem poderá vencer, se Deus não diminui o tempo da prova? Pelo sangue, as lágrimas e as orações dos justos, Deus deixará submeter; Enoc e Elias serão mortos; Roma pagã desaparecerá; fogo do céu cairá e consumirá três cidades; o universo inteiro será sacudido de terror, e muitos se deixarão seduzir porque não têm adorado ao verdadeiro Cristo Vivente entre eles. É o momento; o sol se escurece; só a Fé viverá

Eis aqui o tempo; o abismo se abre. Eis aqui o rei dos reis das trevas. Eis aqui está a besta com seus súditos, chamando a si próprios de salvador do mundo. Se elevará com orgulho nos ares para ir até o céu; será afogados pelo sopro de São Miguel Arcanjo. Cairá, e a terra, que faz desde três dias estará em contínuas evoluções, abrirá seu seio cheio de fogo, ele ficará imerso para sempre com todo os seus, nos abismos eternos do inferno. Então a água e o fogo purificarão a Terra e consumirão todas as obras do orgulho dos homens e tudo será renovado: Deus será servido e glorificado.”

Após cinco anos de investigação, o Bispo de Grenoble, Philibert de Bruillard, reconhece a autenticidade da aparição. O Papa São Pio IX aprovou a devoção a Nossa Senhora de La Salette.

Segredos da Virgem: Os pastorzinhos afirmaram que seus dois segredos individuais lhes foram revelados poucos dias depois, em 25 de setembro de 1846, no local da aparição, embora a Virgem lhes tenha dito para não comentarem nem contar um ao outro até o ano 1858, dia em que se revelariam. Esses dois segredos foram enviados em 1851 ao Papa São Pio IX.

Existem duas versões do segredo de Melania, uma escrita por ela mesma em 1851, e outra publicada pela mesma autora em 1879 em Lecce, Itália, com a aprovação do Bispo dessa cidade.

O segredo da Santíssima Virgem Maria dado a Maximino dizia: “Se o meu povo continuar, o que digo virá mais cedo; se mudar um pouco, virá um pouco mais tarde. A França corrompeu o universo; um dia será castigada. A fé se extinguirá na França: três quartos da França não mais praticarão a religião, e a outra parte a praticará sem praticá-la. Mais tarde, as nações se converterão e a fé arderá de novo em todos os lugares. Um grande país do norte da Europa, agora protestante, se converterá, e com sua ajuda as demais nações do mundo se converterão. Antes que isso aconteça, haverá grandes desordens na Igreja e em todos os lugares. Então nosso Santo Padre o Papa será perseguido. Seu sucessor será um pontífice que ninguém espera. Então virá uma grande paz, mas não durará muito. Um monstro virá perturbá-la. Tudo o que eu digo virá em outro século.”

Se desconhece a impressão que essas misteriosas revelações tiveram sobre o Papa. Houve polemica sobre se o segredo publicado em 1879 era idêntico ao comunicado a Pio IX em 1851. A Santo Cura de Ars se mostrou indeciso sobre as aparições por algum tempo, mas posteriormente as admitiu como de origem sobrenaturais; São Maximino o visitou várias vezes. O Papa São Leão XIII recebeu a vidente Melania com mostras de particular predileção e conheceu todo o conteúdo do segredo. Ao ler um relato da vida de Santa Melania em 1910, o Papa São Pio X exclamou: “La nostra Santa!”, e recomendou que fosse introduzida imediatamente sua causa de beatificação.

O Senhor, no 125º aniversário, em 19 de setembro de 1971, disse ao então vidente Clemente Domínguez: “Ai, se tivessem ouvido as Mensagens de La Salette! Quantas coisas teriam sido evitadas! Pobre humanidade que caminha para o abismo! E pensar que só implorando o perdão, Eu sou generoso e perdoo em seguida! Mas é necessária vossa humilhação, para que Eu vos perdoe. Meu coração é pronto para perdoar. Mas também sou um Justiceiro com os soberbos e os derrubo.”

No dia 25 de setembro de 1971, em La Salette, a Santíssima Virgem Maria disse-lhe: “Meus queridos filhos: Obrigado por sua peregrinação a este Sagrado Lugar de La Salette… A humanidade está perdida! Há caído na soberba, no abandono das boas tradições. Está  dando as costas à sua Mãe Celestial: Eu, a Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe dos homens pelo Preciosíssimo Sangue derramado por Jesus na Cruz. A humanidade caminha cega, regida por iníquos pastores, pastores que não cuidam das ovelhas, pastores que vivem nos prazeres mundanos, pastores desviados: cardeais, bispos, sacerdotes, frades, monjas, irresponsáveis ​​do rebanho. Outra sorte seria a do mundo se as Mensagens que dei neste Sagrado Lugar teriam sido escutadas, estendidas e cumpridos. Mas, a maioria não acreditou; outros, os combateram; a outros, não lhes interessavam.

Aqui, em La Salette, anunciei muitos dos males que viriam à Igreja e ao mundo. E eles estão cumprindo ao pé da letra, e outros que têm de vir ultimamente. Se cumprirá até a última carta que Eu pronunciei neste Sagrado Lugar. Já vão vendo os esgotos que anunciei no século passado aqui em La Salette. Os ministros do Senhor, muitos deles, abandonam o altar para se casar e viver prazerosamente com uma mulher. Acaso creiais que isso não é apostasia? Ai daquele que põe a mão no arado e volta atrás! Aquele que se consagra Sacerdote permanece consagrado segundo a Ordem de Melquisedec e sempre será Sacerdote. E depois de sua morte, continuará sendo Sacerdote no lugar a qual tem sido designado. Eu já chorava, neste Lugar, pelos males que estavam por vir. Via como se ia pisotear a Sagrada Eucaristia. Como o Sangue do Divino Cordeiro ia a ser vilmente pisoteado por seus próprios ministros. Como ia chegar aquele tempo em que a Comunhão não ia dar o devido respeito. Chegou o tempo em que a Eucaristia está sendo desprezada, pisoteada. Os ministros do Senhor já o administram de qualquer forma, sem respeito ou veneração. Deveis saber, meus filhos, que a Eucaristia deve ser recebida com dignidade, com respeito, recolhimento, oblação e consagração a Deus. E a postura digna é de joelhos, dobrar o joelho diante da Majestade de Cristo Jesus, que deu a vida pela salvação dos homens, que se dá a comer e beber o seu Sangue, para estender as suas graças e a sua misericórdia… Humanidade! Jesus já está começando a retirada dos sacrários! Haverá cidades onde muito poucas igrejas estará realmente Cristo Jesus Sacramentado, porque muitos dos chamados Ministros do Senhor, são membros da maçonaria e não se consagram internamente. A humanidade se lembrará para sempre das palavras que disse aqui em La Salette, aos meus videntes do século passado, porque todas têm de cumprir-se. Mas, como sou vossa Mãe, a todos os que acudais a Mim, Eu vos protegerei. Estou sempre repetindo: vos protegerei, vos abraçarei, vos cobrirei com meu Santo Manto. Eu vos livrarei do Inimigo. Não andeis turbados pelos acontecimentos que estão por vir, porque Eu estarei com vós nos momentos mais terríveis. Não faltará vossa Mãe Celestial, como não faltou Jesus na Cruz. Foi abandonado por todos, mas tinha ali sua mãe, como vós tereis a Mim. … Acode massivamente  ao Sagrado Lugar de El Palmar de Troya, na Espanha, onde atualmente me apareço a alguns pobres pecadores, humildes e simples. E em cujo Lugar se ora intensamente por toda a humanidade, e daí sairão abundantes graças para a Igreja e para o mundo. … Minhas aparições atuais em El Palmar de Troya, na Espanha, salvarão a Igreja e o mundo. É a hora suprema da Ira do Pai; e este lugar de El Palmar, será para-raios da Ira Divina, por suas abundantes e devotas orações, seus sacrifícios e penitências. Todos aqueles acodem a El Palmar com frequência serão iluminados nos Últimos dos Tempos; caminharão em retidão; mas terão que orar com muita humildade, porque também receberão mais ataques do Inimigo.”

Em La Salette, a Santíssima Virgem Maria advertiu sobre os perigos que se aproximavam e advertiu o povo cristão como evitá-los. Quando se cumpriram as predições e chegava a apostasia de Roma, Maria Santíssima apareceu em El Palmar para dar uma última oportunidade de salvação a Igreja e preparar um refúgio para os fiéis seguidores de seu Divino Filho.

A Santíssima Virgem Maria sob a invocação de Lourdes, no dia 28 de janeiro de 1971, disse: “Observai os caminhos que faço percorrer este vidente filho meu (Clemente Domínguez): Lhe envio aos Santuários Marianos e às peregrinações e aos Lugares Santos de Aparições Celestiais. Desta forma vos ensino a unidade que deve existir entre os devotos das Aparições. Ninguém na terra tem o poder de impedir que Deus manifeste sua Onipotência em determinado lugar. Com isto quero dizer-vos, que o mesmo que me manifestei em Lourdes, o fiz em Fátima, La Salette, Pontmain, Bretanha, Guadalupe, Saragoça, Garabandal, Palmar de Troya, como também em muitos outros lugares.”

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II

 A sentença da alma culpada no juízo particular  Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolô et angelis eius – “A...